Sempre que assistimos algo sobre “Holmes” já esperamos inteligência, casos misteriosos e reviravoltas na história. Infelizmente isso não acontece em Enola Holmes (2020).
Enola é a irmã mais nova de Sherlock e Mycroft. Criada somente por sua mãe, que a ensinou tudo que sabe sobre literatura, botânica, artes marciais e demais habilidades que afaste Enola de ser uma habitual mulher oprimida na sociedade inglesa do século XIX. A trama toma forma quando sua mãe misteriosamente desaparece e a protagonista, nos seus 16 anos, recorre aos irmãos para descobrir seu paradeiro. Adiante, sua história se esbarra com a política aristocrata inglesa, um marquês e muita perseguição.
Adianto que o único ponto positivo desse filme é a interpretação da garota Mille Bobby Brown no papel principal. Sua Enola, mesmo prejudicada por uma história que desvirtua suas propostas em dar força a personagem feminina, é a melhor atuação, que somada a sua carisma, seria uma ótima professora para Henry Cavill, no papel de seu irmão mais famoso.
Pois é. O querido Superman de muitos se mostra para este que vos escreve o pior Sherlock Holmes que uma tela pode suportar. Uma atuação engessada, frases mornas que nem mesmo seu sorriso de canto de boca e sua beleza salvam qualquer fagulha. Seu Sherlock só é inteligente quando a história o convém (defeito este que brota também na construção de Enola).
Parece que poucos conseguem dar uma vida justa ao personagem Mycroft, aqui vivido por Sam Claflin. O irmão mais velho é tido várias vezes no cânone “Conan-Doyleano” como mais inteligente que seu irmão Sherlock. Em Enola Holmes, o resumem a uma espécie de tutor chato no estilo almofadinho do Duque de Moulin Rouge: Amor em Vermelho (Moulin Rouge!, 2001).Enquanto isso, a premiada Helena Bonham Carter, que interpreta a mãe dos Holmes, é apagada e sua presença é mais fragmentada do que uma coadjuvante pede.
Poderia discorrer também sobre meus vários incômodos com uma fotografia escura (Snyder, é você?), o excesso de quebra da quarta parede, uma montagem com amontoados de cortes desnecessários e falta de esmero no tratamento de imagens (espero que a Netflix conserte, pois muitas cenas mudam de tonalidade). Mas o maior incômodo desse filme é o roteiro.
Enola Holmes tem a proposta de trazer a força das mulheres diante da sociedade. Suas autonomias, liberdades, direitos, e serem donas dos seus destinos através de suas capacidades. Essa seria a caminhada de Enola, se o filme permitisse. No primeiro momento, a nossa protagonista abandona sua demanda para abraçar a causa de um personagem masculino. Suas atitudes necessitam ser chanceladas pelos homens que a rodeiam de forma que o texto do roteiro precisa se autoafirmar com frases e jargões sobre a proposta que destrói. Nem mesmo um punhado de conquistas consertam esse rumo, acabando por tronar uma história mais previsível e nada inteligente.
Enola é “Alone” ao contrário, que significa “Sozinha”. É mais que uma referência. É a prova que Mille Bobby Brown está sozinha segurando o único traço positivo do filme.
Obs: Essa crítica desconsidera a leitura do livro de Nancy Springer, que serve de inspiração para o filme. Qualquer apontamento sobre a narrativa do filme que seja igual a obra literária, considera crítica a mesma como também qualquer possibilidade de adaptação.
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Passolargo é um nordestino armorial. Escritor, produtor de conteúdo, anticoach fuleragem profissional. É o rei dos memes, não pode ver uma rede que já quer deitar, um brega funk que já quer dançar e é o maior fã de Harry Potter que você vai conhecer (embora ele não assuma). O cinéfilo local mais arengueiro da internet.