Depois de conquistar milhares de fãs e se tornar uma das séries mais populares da Netflix, The Umbrella Academy (2019 -) retorna para sua segunda temporada, com a promessa de ser ainda mais espetacular que seu primeiro ano. De certa forma, tal feito foi alcançado. Mais efeitos visuais, mais figurinos excêntricos, muitas músicas, piadas e bizarrices. Mas o que costuma ser a reclamação em muitas sequências de produções de Hollywood, também é verdade aqui. Na superfície, tudo está melhor. Quando se olha mais perto, fica claro que a base foi mal construída e a história, pobremente estruturada.
A primeira temporada termina com o Apocalipse chegando à Terra, causado por aqueles que buscavam impedi-lo. Vanya (Ellen Page) não tem controles sobre seus poderes e o restante dos irmãos Hargreeves, ao tentarem salvá-la, causam a explosão da Lua. O fim é inevitável, mas Five (Aidan Gallagher) propõe que, usando seus poderes, toda a Umbrella Academy fuja dali viajando no tempo. É assim que deixamos nossos protagonistas, e a segunda temporada começa mostrando onde cada um foi parar, ou melhor, onde e quando cada um foi parar.
Os irmãos foram separados, cada um caindo em um determinado momento do início da década de 60 em Dallas, Texas. Five é o último a cair de seu portal, em 25 de novembro de 63, e ele aterriza justamente no momento em que a Terceira Guerra Mundial está acontecendo. A cidade está sendo tomada por soldados soviéticos, e ele vê seus irmãos lutando para impedir a invasão. Fica claro que mais uma vez a Umbrella Academy foi a causa do Apocalipse e Five faz uma nova viagem para tentar impedir o Fim dos Tempos.
O primeiro episódio deste segundo ano logo mostra como estão as novas vidas dos nossos queridos protagonistas. Luther (Tom Hopper) vira um lutador que trabalha para um mafioso; Diego (David Castañeda) está em um manicômio por falar que alguém irá matar o presidente John F. Kennedy e que, portanto, ele tem de fazer algo para impedir; Allison (Emmy Raver-Lampman) casou com um ativista do Movimento dos Direitos Civis e também está envolvida na causa; Klaus (Robert Sheehan) virou um líder de culto, levando seu relutante irmão morto, Ben (Justin H. Min), junto e Vanya, lidando com uma amnésia, é acolhida por um casal, e acaba ajudando a cuidar do filho deles.
Com todos separados, Five tem a árdua tarefa de juntá-los novamente para que possam impedir o Apocalipse mais uma vez. Essa é apenas uma das diversas tramas que a temporada tem a oferecer, e, apesar de ser a linha narrativa principal, ela acaba se perdendo, culminando em um fim insosso. Ao contrário do que poderia ter acontecido, não é a repetição do conflito central que distrai, mas o fato de que a história contada em cada episódio pouco contribui para a solução final.
Na primeira temporada, os episódios são estruturados para que pouco a pouco o público possa conhecer os 7 irmãos Hargreeves, tanto juntos quanto separados, ao passo que se desenrola a contagem para o Apocalipse e o esforço mútuo para impedir que o evento aconteça. Já em seu segundo ano, a série separa os irmãos, dando a cada um – em níveis diferentes – uma história própria, e um conflito próprio, sugerindo que veremos os personagens amadurecerem dentro de seus próprios arcos. E isso acaba sendo um grande acerto.
Ver Allison lidar com a segregação racial dos anos 60 nos Estados Unidos é de partir o coração, ainda mais levando em consideração que, mesmo décadas depois, a humanidade ainda tem que lidar com tanta maldade. É gratificante ver Vanya, completamente alheia ao sofrimento pelo qual passou na primeira temporada, assim como o resultado catastrófico disso, agora do lado de Sissy (Marin Ireland), alguém que ela ama verdadeiramente dessa vez. Klaus, agora sóbrio, apresenta uma personalidade menos espaçosa por assim dizer, deixando que Ben também tenha seus momentos de destaque. E Five, Diego e Luther, apesar de menos desenvolvidos como personagens, enfrentam obstáculos diferentes e até conseguem mostrar novas facetas.
Mas, infelizmente, em vez de focar nos protagonistas e em suas novas vidas, a série toma o rumo errado, dando destaque para personagens que não deveriam ter destaque algum. Afinal, quem na primeira temporada viu a Comissão e pensou: “Ah, devíamos ter mais disso no futuro?”. A participação da Comissão, órgão que preserva a linha do tempo correta, no primeiro ano da série funciona porque é pontual. Já aqui, ela toma uma grande parcela de tempo, na figura da Gestora (Kate Walsh) e seu objetivo de vingança. Completamente descartável.
Não bastasse isso, a trama propõe a importância do assassinato de Kennedy na vida dos Hargreeves, incluindo o próprio (eventual) patriarca Reginald (Colm Feore), cuja participação é confusa. Mas a morte – ou a vida – do presidente se torna apenas uma justificativa para as ações atrapalhadas de Diego, e pouco colabora com o objetivo central. Na verdade, a série insiste que Kennedy é importante, mas nos finalmentes, não consegue provar por quê.
Além disso, é quase difícil lembrar da existência dos Suecos, “vilões” que não conseguem chegar aos pés de Hazel (Cameron Britton) e Cha-Cha (Mary J. Blige), e que também perdem o rumo com o passar dos episódios. Lila (Ritu Arya), a paciente do manicômio que foge junto a Diego, se mostra como alguém interessante de acompanhar, mas que, infelizmente, é jogada em cenários que não a favorecem.
A segunda temporada de The Umbrella Academy tem um forte começo, ampliando a personalidade bizarra originada da graphic novel de Gerard Way e Gabriel Bá, junto a um estilo audiovisual ainda mais ousado, apostando forte nas cores e ângulos de câmera fora do padrão. Os protagonistas, que deram tão certo na primeira temporada, seguem bem estabelecidos e de imediato fazem o público lembrar por que gostamos deles. A trilha sonora de Jeff Russo sempre bem encaixada, junto a diversas músicas bem utilizadas, e efeitos visuais chamativos de fato criam a ilusão de que, porque estamos vendo algo maior, automaticamente estamos vendo algo melhor.
Mas esse acaba não sendo o caso. As motivações iniciais da temporada não são bem apresentadas, gerando uma história que não sabe para onde vai. A temporada também sofre com episódios sem arcos próprios, que por vezes parecem apenas um compilado de cenas sem ligação jogadas no mesmo pacote. Ao fim, é difícil identificar o que aconteceu em cada episódio somente ao ler o título do capítulo, enquanto a primeira temporada consegue ser marcante nos arcos de pelo menos 7 deles. A segunda temporada tem um desfecho tão fraco, que faz parecer que foi lançada com dois episódios faltando. A sensação é consequência de uma história que tentou englobar elementos demais, em vez de confiar na força incomparável dos membros da Umbrella Academy quando estão juntos.
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Formada em Comunicação Social, editora de conteúdo do Cinema com Rapadura, Louise Alves é Potterhead, Marvete e viciada em trilhas sonoras. Seu gênero favorito é ação, mas sabe todas as falas de Orgulho e Preconceito. Odeia gente que acorda de bom humor e nunca leva desaforo pra casa.