Antes de mais nada, vamos deixar claro que apesar das aparências Em Busca de Watership Down (Watership Down, 2018), não é uma série infantil. Crianças provavelmente vão chorar se você coloca-las para assistir, é repleta de mortes trágicas, drama, intriga política e sim, é protagonizada por coelhos.
Sendo uma grande co-produção entre Estados Unidos, Reino Unido e Irlanda, a série é uma adaptação do livro ganhador de diversos prêmios de 1972 Watership Down, que aqui no Brasil foi traduzido como A Longa Jornada. Em 1996 a obra ganhou uma continuação chamada Contos de Watership Down que contava até mesmo com um glossário para a língua nativa dos personagens.
Em 1978 um longa metragem animado foi lançado adaptando a história, Uma Grande Aventura (Watership Down, 1978), mas acabou sendo um tanto polêmica pela quantidade de violência e sangue, deixando muitas pessoas chocadas, o que levou o filme a ter uma versão censurada sem as cenas gráficas depois. O longa é belíssimo, os cenários foram feitos em aquarela, a trilha sonora é boa, mas teria omitido muita coisa no processo de adaptação e foi pouco exibido no Brasil, passando apenas algumas vezes na televisão.
Anos depois, em 1999, a história foi adaptada novamente, produzida por Martin Rose, roteirista e diretor do longa, dessa vez para uma série animada nunca exibida no Brasil, também intitulada Watership Down (1999 – 2001). Essa contou com maiores mudanças para deixar a série mais amigável para o público infantil, mas dizem que mesmo assim a terceira temporada é mais pesada do que as anteriores. Como se ainda não bastasse, a história ainda serviu de base para duas peças e um sistema de RPG!
E em 2018 finalmente foi lançada na Netflix a minissérie, contando basicamente a mesma histórias das outras adaptações e da obra original, em que um grupo de coelhos acaba tendo que fugir de seu lar e ir atrás de um novo, lutando pela sua sobrevivência e liberdade, a terra prometida seria o tal Watership Down, um lugar que realmente existe na Inglaterra. No processo, novos personagens se juntam ao grupo, outros morrem e cada vez mais novas questões vão surgindo conforme tentam construir um novo lar.
Infelizmente o autor, Richard Adams que se envolveu com as 3 adaptações audiovisuais, faleceu em 2016 antes da minissérie ser lançada. Mas seu rico universo foi muito bem representado, seus coelhos antropomorfizados tem toda uma forte cultura e até mesmo uma língua própria, o lapine, que soa estranho para um espectador desavisado até entender que aquelas onomatopeias se referem a carros, por exemplo, mas que deixam a história ainda mais autêntica.
A história é muito boa, é sombria, intensa e envolvente, não deixando nada a desejar para outras aventuras épicas como O Senhor dos Anéis e Game of Thrones. Os personagens são únicos e cativantes, você se apega a todos eles enquanto teme por suas vidas já que fica claro a cada episódio que eles são criaturas frágeis demais para esse mundo hostil.
A história cresce com o passar dos episódios, não apenas sobre encontrar um novo lar, também é sobre lutar para mantê-lo. Traz também críticas muito atuais, e é impossível não sentir uma dorzinha no coração quando eles falam que os homens destroem tudo o que tocam.
Não existe tanto sangue quanto no filme, mas a violência continua, e em minha opinião o gore não faz falta, as perdas continuam tendo impacto e os momentos de luta e perseguição continuam dando agonia.
A direção de arte ficou linda, os visuais dos personagens remetem aos do filme de 1978 e os locais passam bem visualmente o que eles representam. Sem dar spoilers, um lugar traz uma grande claustrofobia enquanto outro remete demais a campos de concentração nazistas. A trilha sonora ficou bem poderosa, engrandecendo bastante as cenas.
O áudio original está muito bom com seu elenco estrelado, James McAvoy, Gemma Arterton, Peter Capaldi e por ai vai, para quem gosta de um sotaque britânico é um prato cheio. A dublagem brasileira também ficou muito boa, a única coisa que não curti foi que na tradução mantiveram os nomes originais dos personagens, que são palavras em inglês que podem facilmente ser traduzidas assim como foi feito no filme de 1978, os nomes ficaram Avelã, Dente de Leão, Cabeludo, acho que ficaria mais fácil de pronunciar e não prejudicaria o entendimento da série. Mas talvez isso seja implicância minha por ter me acostumado com os nomes assim depois de ver o filme dublado.
A única coisa que deixa a desejar na série é a animação. Muita gente, inclusive eu mesma, esperava algo mais realista e de maior qualidade, para parecer que realmente estávamos vendo coelhos ali. Não que a animação seja ruim, mas ficou mediana, levando em conta que a produção foi da BBC, mas a movimentação dos personagens é bem feita e as texturas não são nada mal, mas a verdade é que a história conquista o espectador e logo talvez isso não incomode mais, tanto que ela foi premiada com um Emmy.
Para aqueles que viram o filme, as diferenças dele para a minissérie são poucas, e pelo que pesquisei, já que não li o livro ainda, existem poucas diferenças entre os dois, então foi uma obra bem fiel.
Cabe agora a Netflix colocar no catálogo tanto o filme como a série de 1999 porque os dois são uma desgraça de serem encontrados para assistir.
Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.