Acompanhar séries e manter o interesse por elas muitas vezes anda junto com o medo do show ser repentinamente cancelado. É muito triste quando, mesmo com poucas ou apenas uma temporada, você começa a se afeiçoar a alguns personagens, começa a ver um potencial naquela série e o anúncio de seu iminente cancelamento vem como uma flechada em nossos corações. Recentemente soubemos do cancelamento de O Mundo Sombrio de Sabrina (Chilling Adventures of Sabrina, 2018 – 2020), fechando a quarta temporada como a última da série, o que deixou muitos aliviados, mas outros tantos sentindo a perda das desventuras da bruxa. Já tivemos muitos exemplos de séries que encantaram fãs logo em sua primeira temporada, mas que foram derrubadas da grade sem dó, como o caso clássico de Freaks & Geeks (1999 – 2000), por exemplo, ou outras que lutaram com unhas e dentes por sua continuidade, como minha queridinha Community (2009 – 2015), que chegou a ter seis temporadas, mas sofria ameaças desde a quarta. Em todo caso, resolvi listar 10 séries que eu comecei a acompanhar, organizadas das mais antigas às mais recentes, e que foram tiradas de mim sem nenhum pudor, me deixando abandonado por personagens e histórias que estava começando a amar.
Ah! Obviamente só listei séries que cheguei a ver, mas sei que muitas outras deixaram seus fãs de mãos abanando como quem se afastou de um grande amigo. Então que tal falar das séries que te deixaram assim lá embaixo nos comentários?
Rome
(2005 – 2007)
Roma foi uma das primeiras séries que acompanhei na vida e confesso que a qualidade técnica e o cuidado com um roteiro que misturava História e ficção, além de personagens incríveis interpretados de maneira sublime, me deixaram extremamente mau acostumados. O show da HBO nos transporta para um dos períodos mais importantes da História de Roma, a queda da República e a ascensão do Império de Júlio César. Vários temas importantes sobre a Roma daquele período – já uma metrópole com milhares de habitantes e com regras próprias – são abordados, assim como personagens importantes como Marcos Antônio (James Purefoy), Brutus (Tobias Menzies), o próprio Júlio César (Ciarán Hinds) e até Cleópatra (Lyndsey Marshal), mas é com os dois soldados Lucius Vorenus (Kevin McKidd) e Tittus Pullo (Ray Stevenson) que nós acompanhamos tais acontecimentos, o que tornava tudo ainda mais interessante. Ficamos facilmente apegados aos dois protagonistas, e passamos a amar a relação criada entre os dois personagens tão diferentes em personalidade. Roma teve seu fim já em sua segunda temporada, nos deixando com muita vontade de ainda acompanhar esses personagens durante os anos seguintes, e até rolou um boato sobre uma terceira temporada que nunca chegou a acontecer, que abordaria a empreitada dos soldados romanos pela Terra Santa alguns anos antes do aparecimento do cristianismo. Ainda assim, Roma é uma série que recomendo demais pelo nível altíssimo da produção e pelo rigor histórico que entrega.
Camelot
(2011)
Esta certamente poucos ouviram falar, mas foi uma das primeiras grandes apostas do canal Starz após o sucesso da épica Spartacus (2010 – 2013). O roteirista Michael Hirst já havia sido responsável por The Tudors (2007 – 2010), mas antes de seu maior sucesso, Vikings (2013 -), passou por um tremendo fracasso com Camelot. O tema da série é bem óbvio, se propunha a ser uma releitura da famosa lenda do Rei Arthur e seus cavaleiros da távola redonda, com todos os elementos que já estamos acostumados. A série até contava com um bom elenco, com nomes de peso como Eva Green como a feiticeira Morgana e Joseph Fiennes como Merlin, mas um protagonista sem nenhum carisma foi o responsável pelo fracasso completo da série, que só durou uma temporada.
Almost Human
(2013)
Almost Human, ao contrário da anterior, tinha sua maior força no carisma e na relação de seus dois protagonistas. Em um futuro não tão distante policiais androides são colocados para trabalhar com um parceiro humano em uma tentativa de melhorar as ações dos serviços de segurança. Neste contexto temos o detetive John Kennex (Karl Urban), que detesta robôs mais que tudo, sendo obrigado a fazer dupla com Dorian (Michael Ealy), um androide de um modelo antigo com uma inteligência artificial avançada demais. A série tinha um caráter procedural, com casos a cada episódio, e claramente tinha inspiração nos escritos do pai da robótica Isaac Asimov, utilizando seus conceitos básicos e colocando-os para reflexão do espectador. A Fox infelizmente encerrou a série com apenas uma temporada, mas ainda lembro com saudade da ótima dinâmica entre o policial humano durão e o androide super sensível.
Da Vinci’s Demon
(2013 – 2015)
Mais uma aposta arriscada do Starz, mas que ainda conseguiu ter relativo sucesso, chegando a ter três temporadas. Criada por David S. Goyer, Da Vinci’s Demon vinha com a proposta de imaginar um Leonardo Da Vinci (Tom Riley) quase como um aventureiro, hiperinteligente, desvendando mistérios da humanidade que iam da engenharia avançada (para a época) até ocultismo. Além disso Da Vinci precisava lidar com os “donos” daquela Florença renascentista, a família Medici, e com o dono da própria Itália como um todo, o Papa Sisto IV (James Faulkner). Os personagens da série são muito interessantes e a história realmente empolga, além do carisma latente do protagonista. Se você fizer um bom exercício de suspensão de descrença a série pode ser um divertimento excelente, mas que poderia ter se esticado em ao menos mais duas temporadas.
Hannibal
(2013 – 2015)
Muito cuidado aqui, pois falarei de uma das minhas séries preferidas da vida e certamente a que mais lamento o cancelamento precoce desta lista. Ok. Hannibal é inspirado nos livros de Thomas Harris, mas se passa anos antes do primeiro livro da série que fala sobre o canibal mais famoso da ficção, Dragão Vermelho, quando o Dr. Hannibal Lecter ainda era apenas um colaborador em investigações do FBI. O protagonista é Will Graham (Hugh Dancy), um jovem detetive problemático com um dom quase sobrenatural para reviver cenas de crimes, enquanto é auxiliado por Lecter (Mads Mikkelsen) um psiquiatra extremamente meticuloso e inteligente. Eu poderia falar horas sobre as qualidades dessa série, seu roteiro incrivelmente elaborado e bem montado, uma fotografia impecável de dar água na boca (perdão pelo trocadilho infame), a trilha sonora impactante, mas especialmente de seu elenco: Dancy entrega um Will altamente complexo e cheio de camadas enquanto Mikkelsen faz o milagre de nos encantar com seu Hannibal sem em nenhum momento tentar copiar o que Anthony Hopkins criou para o longa (perfeito) de 1991, performando sua própria versão do canibal, e ouso dizer que consegue fazer de uma forma tão incrível que se torna impossível compará-lo com seu predecessor. Complementando o elenco ainda tínhamos nomes incríveis como Laurence Fishburne e Gillian Anderson. A série, criada por Bryan Fuller, encerrou em sua terceira temporada de uma forma meio brusca, deixando muitos fãs desejosos ainda hoje de uma possível quarta temporada (ao menos) que encerre o programa de forma mais digna.
Braindead
(2016)
O casal de roteiristas Michelle e Robert King ficaram famosos pelo sucesso de The Good Wife (2009 – 2016), e mais recentemente por The Good Fight (2017 -), mas no meio tempo entre as duas os dois arriscaram uma comédia ligeiramente estranha na CBS. BrainDead conta a bizarra história de insetos alienígenas que comem o cérebro de congressistas norte americanos se apoderando de sus corpos e tentando tomar o controle do governo mais poderoso do mundo. É isso mesmo que você leu. A protagonista da série é Laurel Healy (a maravilhosa Mary Elizabeth Winstead), jovem documentarista independente advinda de uma família de políticos democratas, que tenta ajudar seu irmão senador a desvendar o mistério que cerca os inacreditáveis acontecimentos. Obviamente que somente o nome dos King não foi o suficiente para segurar uma ideia tão maluca e a série acabou sendo cancelada após apenas uma temporada, deixando a história inconclusa. Entretanto é importante dizer que a série até hoje tem os melhores recaps que eu já vi em um programa de TV, entenda aqui.
Vinyl
(2016)
Vinyl foi anunciada pela HBO com grande estardalhaço, afinal uma série criada pela dupla de sucesso Martin Scorsese e Terence Winter, que já tinham entregado ao canal a incrível Boardalk Empire (2010 – 2014), além do músico Mick Jagger (ele mesmo) tinha que chamar bastante atenção. O show nos ambientava à industria fonográfica de uma Nova York da década de 1970, regada ao clássico tripé sexo, drogas e rock n’ roll, onde acompanhávamos o produtor Richie Finestra (Bobby Cannavale) em busca da próxima grande banda de sucesso. Sinceramente não entendo o porquê de a série ter sido tão mau recebida tanto pelo público quanto pela crítica, tudo bem que o roteiro ainda precisava tomar um rumo, mas personagens tão interessantes mereciam uma chance de ao menos mais uma temporada para mostrar a que vieram. A série, além de fazer inúmeras referências ao mundo da música da época, ainda trazia um ótimo elenco e abordava questões importantes como discriminação racial e liberdade sexual.
Dirk Gently’s Holistic Detective Agency
(2016 – 2017)
Bom… como falar de Dirk Gently’s? Talvez seja importante começar dizendo que a série é baseada na obra literária de mesmo nome que saiu da mente do genialmente maluco Douglas Adams, mais famoso por seu O Guia do Mochileiro das Galáxias. Daí já fica um pouco mais fácil aceitar que o programa nos traz Todd (Elijah Wood) um simplório rapaz britânico que acidentalmente… não, não existem acidentes nesta série, tudo acontece exatamente porque deveria acontecer. Bem, Todd se mete no meio de uma inimaginável investigação quase sobrenatural acompanhando o excêntrico detetive Dirk Gently (Samuel Barnett, perfeito) onde tudo, absolutamente tudo, pode acontecer. Sério, tudo mesmo. Como você percebeu, eu não consigo explicar a série muito bem, então o mínimo que posso fazer é deixar o trailer aqui.
Powerless
(2017)
O que aconteceria se colocássemos no mesmo caldeirão Community, as série de heróis da DC/CW, uma pitada de The Office e misturássemos tudo? Acho que teríamos algo ao menos próximo do que foi Powerless. A premissa básica da série era abordar pessoas comuns que vivem no universo de super-heróis da DC Comics, o que fica muito bem explicitado já na abertura do show. Na série acompanhamos a novata Emily (Vanessa Hudgens) que chega para trabalhar em um escritório que é um braço da Weyne Enterprises especializado em criar artefatos de segurança contra possíveis danos causados por batalhas de super seres, tão comuns neste universo. Mas aparentemente ninguém curtiu a ideia da série, ou talvez o humor dela tenha sido considerado bobo demais para o “incrível” intelecto da audiência, mas o fato é que infelizmente a mesma não passou da primeira temporada, que quase foi cancelada antes mesmo de acabar.
Girlboss
(2017)
Nossa última da lista é mais uma tremenda injustiçada. Criada por Kay Cannon, roteirista de ótimas séries como 30 Rock (2006 – 2020) e New Girl (2011 – 2018), e baseado na autobiografia de Sophia Amoruso, fundadora da famosa marca de roupas on-line Nasty Gal, Girlboss conta a história de Sophia (Britt Robertson), que luta pelo seu sonho de não ser obrigada a ter um trabalho “comum” e vê seu pequeno site de vendas de roupas vintage crescer fortemente com ajuda de seus amigos. A série contava com personagens super carismáticos e se propõem a tratar questões como empoderamento feminino e empreendedorismo de forma divertida e sem romancear demais (como geralmente é o esperado). No entanto a série não escapou da foice da Netflix e acabou cancelada após sua temporada de estreia, deixando uma monte de gente com o agridoce gosto de quero mais na boca.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.