É incrível a sensação de que apenas um bom episódio em The 100 (2014 -) pode ser compensador, ainda mais em relação ao capítulo anterior, que diminuiu o gás. E tudo o que não vimos lá foi achado aqui no 7×04, repleto de informações bem amarradas para nos familiarizar acerca da trama misteriosa.
De maneira bem dinâmica, Hesperides conseguiu trabalhar com três núcleos. O primeiro foi o mais breve e disposto a terminar o arco da fase de Hope ainda com 10 anos (Nevis Unipan), mas ao mesmo tempo, o arco pôde trazer o vislumbre do porquê Dev (Kamran Fulleylove) — um dos defuntos achado no episódio 2 — era tão importante na vida da moça. Depois que Diyoza (Ivana Miličević) e Octavia (Marie Avgeropoulos) foram levadas para Bardo, Dev foi um prisioneiro deixado no lugar, o que ele não contava era encontrar a pequena garota habitando na casa onde deveria ficar, assim, nasceu uma amizade e um propósito maior: treinar Hope, e na noite que ele completasse sua pena, ela poderia usar a ponte de Skyring para resgatar sua mãe e tia O — o que aconteceu após acessar a entrada, ainda vamos saber.
Na linha, presente a narrativa se dividiu entre Sanctum e Skyring de maneira imediata: saindo um pouco dos conflitos de fé entre os Prime e líder, já começamos com Clarke (Eliza Taylor) e seus amigos com um pepino em mãos para resolver. Terem encontrado o corpo de um Discípulo foi a deixa para o episódio engrenar e empurrar os personagens para seus devidos postos sem enrolação. Assim, logo ficam sabendo do desaparecimento de Octavia, Bellamy (Bob Morley) e Echo (Tasya Teles) — e a essa altura Hope, Gabriel (Chuku Modu) e Diyoza mais que queridos pelo o público — e partem com a investigação e resgate. De fato, The 100 não despenca quando se trata de ressaltar o elo familiar que os Skaikru e os Wonkru criaram para se protegerem.
E sem apresentar respostas sobre a Anomalia de maneira didática, ficamos a par de como funciona as viagens de um planeta para o outro graças a esperteza de Raven, que compreendeu não só novas informações, mas as que nos foram dada no episódio dois em poucos minutos. Nessa divisão de arcos, ficou claro uma boa escolha do roteirista Sean Crouch em deixar para mais tarde as questões de Sanctum e Raven, já que ela precisou tomar mais decisões difíceis e em seguida liderou a viagem para Skyring junto com Clarke, Jordan (Shannon Kook), Nathan (Jarod Joseph) e Niylah (Jessica Harmon).
A engenheira se viu na conflituosa escolha ao arriscar quatro pessoas para poupar mais de um povo residente em Sanctum, e o roteiro impôs a urgência em que ela teve de segurar a onda e usar de suas habilidades para auxiliar Clarke. Nesta mesma linha, entendemos que a série não irá começar uma nova guerra apenas como um grande evento da temporada final. A fama do protagonismo de Wanheda incomoda tanto que a fez alvo de Anders, líder de Bardo, o qual tornou Bell, O e Echo isca para atraí-la e dar um fim a aquela que ameaça seu legado.
Ainda não sabemos sua aparência, mas diante do que Orlando (Darren Moore) compartilhou, Anders se fez pastor para os chamados Discípulos, carregando a história de que os salvou de serem consumidos pelo fogo. Para aqueles que desobedecem seus mandamentos, a punição vem com a sentença de isolamento para o local onde Hope cresceu, e após cumprir a pena, são resgatados e levados para o lugar de origem, Bardo. Como Gabriel bem salientou, Anders é só alguém que se aproveitou do apocalipse sofrido pelos planetas e criou sua forma de ser adorado e reverenciado — as semelhanças bíblicas, liderança, discípulos não deixam ignorar que de geração a geração, para diferentes povos, a maneira que a fé surge como um bem maior está ligado intrinsecamente a uma civilização. Mas parece que essa é só uma pequena ponta do que real motivo por trás de tudo.
Na review do segundo episódio, apontei como o título “The Garden” se encaixava na trama e aqui, Hesperides traz um novo significado ao Jardim. Chamado de Jardim das Hespérides, na mitologia grega era também conhecido por Jardim dos Imortais pois o local continha um pomar que abrigava árvores mágicas de onde nasciam as maçãs douradas (ou pomos de ouro) fonte de eternidade. Tal qual as Hespérides na mitologia — primitivas deusas primaveris que representavam o espírito fertilizador da natureza e guardavam o jardim —, as ninfas, que como deusas tinham o dom da fertilidade do solo, habitavam no palácio de frente ao belo jardim que ficavam as árvores mágicas, simbolicamente, Hope, Octavia e Diyoza acharam o porto seguro no pomar que cultivaram para sobreviver.
Através da encantadora cena em que Octavia explicou a Hope acerca da história, The 100 deu uma pista de todo o sentido envolto na Anomalia e faz uma releitura da mitologia sobre as Hespérides. O que faz Anders ser o titã Atlas; O, Hope e Diyoza as ninfas, Bardo o palácio em frente ao Jardim e os buracos negros, os obstáculos para quem adentrar no Jardim e comer as maçãs. Como vimos, Octavia plantou “as rosas Hércules” por não ter semente de maçã. Estaria Anders se apropriando da mitologia para liderar um povo dizendo que há um precioso espaço frutífero que promove a imortalidade assim como Russell mentia para os Prime? Não acho que Jason Rothenberg repetiria o arco de maneira desleixada, então certamente Skyring é o laço que falta para esclarecer de uma vez o universo da série.
Com um episódio rico e cheio de nuances para seus personagens, The 100 possibilitou um ótimo exercício acerca do que virá de maneira empolgante. O ciclo está se fechando e a trama esquentando.
Últimos comentários:
100: já que Octavia foi o que despertou o mistério para acessar a Anomalia com as tatuagens no seu corpo, provavelmente foi esquema de Anders para atraí-la ao Jardim, mas Diyoza e Hope vieram no pacote.
99: e não é que Jordan decidiu ser útil na temporada? Isso mesmo, honre Monty e Harper que descansam em paz.
98: foi interessante ver que Gaia foi levada também para Skyring. O Discípulos a trará para Bardo?
97: simbolicamente, tia O, Diyoza e Hope representaram as ninfas, mas como suspeitava no segundo episódio, os Discípulos são os que protegem o Jardim a mando de Anders. Com as informações de agora, tudo indica que eles são as Hespérides e Anders, Atlas – numa referência a mitologia.
96: estaria Becca trabalhando com Anders desde o começo? O que leva a crer que a Chama seria a maçã de ouro e os Nightblood (sangue negro) os únicos compatíveis para imortalidade prometida.
95: Orlando se suicidou depois que Echo matou três Discípulos, temendo o que aconteceria quando eles entrassem na ponte e ele não. O que pensando bem, quando ele orava na cabana ao “pastor que os salvou do fogo” indicou mais uma vez que Anders e Becca se conheciam, e teriam um acordo o qual salvaria seu povo do apocalipse orquestrado por A.L.I.E.
94: o momento foi sucinto, mas maduro o suficiente para mostrar a relação de Clarke e Raven. Em poucas palavras, a nossa líder Wanheda soube confortar a engenheira que refletia seus demônios após se sentir culpada pela morte de quatro pessoas.
93: será lindo e épico quando todos gostarem de Gabriel e Diyoza e finalmente conhecerem Hope.
92: Madi, cadê tu? Todo mundo já sabe que você não é mais comandante. Sai desse quarto.
91: Raven, Clarke, Jordan, Niylah e Nathan quiseram entrar em Skyring, mas foram desviados por um Discípulo e caíram no planeta Nakara, o que só veremos no sexto episódio.
90: no próximo episódio vamos então ver Octavia em Bardo, e novamente, a narrativa se dividirá sobre Skyring e Sanctum, o que parece culminar no momento decisivo entre os Prime, Wonkru, Skaikru e Russel Sheidheda. Até a próxima semana!
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.