Parece combinado, mas já se tornou convincentemente um efeito comum entre as séries o que a terceira temporada consegue entregar. É como se fosse o momento do ápice, o encontro elaborado de criatividade e expansão do que a atração vem entregando, aumentando assim o gosto da audiência. Depois da season finale da segunda temporada de Good Girls (2018 -), foi mais do que esperado que a terceira temporada da série criada por Jenna Bans elevaria a qualidade com mais desenvoltura, porém, nessa onda de expectativas versus o melhor ano que uma série pode ter, foi feita a pior escolha: estragar o que estava bom.
Recapitulando, a dramédia da NBC caiu no boca a boca ao ser comparada como uma mistura de Breaking Bad (2008 – 2013), Thelma & Louise (1991) e Big Little Lies (2017 -). O que as três produções têm em comum com Good Girls é por flutuar sobre a trama de quando pessoas boas, normais, abraçam um lado que desconheciam para lidar com questões embaraçosas de suas vidas. Para as irmãs Beth (Christina Hendricks), Annie (Mae Whitman) e a amiga Ruby (Retta), além do perrengue materno e questões sofridas como machismo, traição, assédio e o duro arco de estupro para uma das personagens, as três partilham de problemas financeiros, o que as levam para a desesperada “solução” arranjada: assaltar um mercado. A consequência inesperada foi descobrirem que o dinheiro pertence a uma grande máfia de lavagem comandada por Rio (Manny Montana).
Junto a uma ode a sair do comodismo, a primeira temporada traçou um belo retrato das protagonistas deixando as amarras de limitação imposta sobre o papel da mulher como esposa, mãe, dona de casa, assumindo um posto de controle de muitas áreas em que se viam dominadas pelas circunstâncias e projeções. No segundo ano, o efeito por terem se envolvido com lavagem de dinheiro ganha mais camadas e discussões ao abordar o estado tóxico e abusivo que são postas (principalmente Beth) por meio de Rio. A trilha é sufocante, mas Good Girls findou de um jeito válido para que pudesse seguir com diálogo que começou: o que as mulheres podem fazer. O caminho estava livre (bye, Rio) para o texto trabalhar uma narrativa mais empolgante e ousado para o trio de protagonistas. Bem, essa foi a teoria.
Escalada como uma temporada de dezesseis episódios, os planos tiveram que ser encurtados por conta da pandemia devida ao COVID-19, levando os produtores a conduzir este terceiro ano com onze capítulos. Muitas filmagens foram suspensas, lançamentos no cinema adiados, mas isso não justifica que, por ONZE enredos diferentes Good Girls conseguiu ser um remendo do que aconteceu nas temporadas anteriores, e pior, se resumir nisso. Salve-se Ruby, a única do trio a alcançar um arco que não diminuísse sua trajetória, Beth e Annie foram embaladas a revisitar questões aparentemente resolvidas como se fossem causar um impacto relevante.
Como um mix de drama e comédia, a série sempre tocou bem a química e timing para estabelecer humor entre as protagonistas. As reações de Ruby e as colocações absurdas de Annie garantiam o tom cômico, deixando evidente que a irmã de Beth ainda não sabia assumir de vez uma postura responsável, recorrendo a escolhas frustrantes que resultavam numa sensação de culpa e um perfil sem filtro. Pobre Annie, os roteiristas reservaram o loop que na tentativa de se afastar do que fazia, se via ainda mais atraída, assim, gerando um plot maçante que não evoluiu a personagem em nada.
Para Beth, resolveram retomar com arcos que a moça lutou com sangue nos olhos para dar a volta por cima: traição e relacionamento abusivo. Ou seja, acompanhamos de novo a série flertar com a possibilidade de Dean (Matthew Lillard) traí-la, e a colocou com tudo no jogo de intimidação, chantagem, toxicidade, agressividade, prepotência e machismo de Rio, para que assim ela toque o negócio de lavagem da melhor maneira e tema à figura dele. Na sequência, acabou que as amigas se viram novamente a mercê das ameaças induzidas por um homem. Nisso, a boa sagacidade de tensões e suspense que o show conseguia proporcionar se viu fraquejar, visto o desgaste de ideias para manter a leva da temporada.
O plano do terceiro ano da série ficou claro: servir como ponte para a quarta temporada, e assim, apelou para o que de melhor desenvolveu desde o início e poderia segurar as pontas. Como consequência, o texto retrocedeu na coerência (as mulheres no comando foram rebaixadas a uma narrativa de subordinação), ao contrário de arriscar, visto o potencial que as protagonistas possuem, preferiram mantê-las numa teia de perigo a fim de prenderem o público com o que deu certo outrora – quando e o que fariam para desvencilhar de Rio.
Já renovada, Good Girls encerrou sua terceira fase de maneira preguiçosa e genérica, com o apelo mais fraco para empolgar com os próximos capítulos. Em suma, esses onze episódios foram como cão correndo atrás do rabo: não deu em nada.
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.