The Clone Wars: 7ª Temporada – O melhor de Star Wars no audiovisual

Desde a trilogia clássica, Star Wars sempre foi mais do que os filmes demonstravam. A franquia criada por George Lucas esteve em constante expansão através de livros, HQs, desenhos animados e jogos, mesmo antes de ser vendida. Atualmente, existe um cânone oficial, composto pela enealogia de filmes e as três animações: The Clone Wars (2008 – 2020), Rebels (2014 – 2018) e Resistance (2018 -). Tudo o que não foi selecionado pela Disney é definido como Legends, tendo a primeira animação das guerras clônicas, criada por Genndy Tartakovsky, criador de Samurai Jack (2001 – 2017), compondo essa categoria.

A primeira empreitada com essa nova animação 3D foi através do filme, de mesmo nome, lançado em 2008 nos cinemas. Com isso, depois das críticas, o projeto ganhou 6 temporadas dirigidas, produzidas e roteirizadas por Dave Filoni contando com o apoio do próprio George Lucas.

O desenho é ambientado entre os Episódios 2 e 3 tendo os personagens principais das prequels como protagonistas, além de apresentar e desenvolver inúmeros outros, como a padawan Ahsoka Tano, a aprendiz Sith Asajj Ventress e o capitão Rex. Pelo formato das temporadas semelhante a crônicas, a animação pôde experimentar narrativamente em muitos momentos. Assim, aprofundando mais a mitologia do universo Star Wars com a retratação da força como uma religião de fato, mostrando as suas entidades, manifestações pela galáxia e as ramificações desse poder, como o clã das Irmãs da Noite e o arco da busca do Mestre Yoda pelo segredo da pós vida tornando-se um com a força.

Além disso, os clones são uma das melhores coisas abordadas nesse desenho. Apesar de existirem apenas para obedecer ordens e serem soldados descartáveis do grande exército da república, os clones com o tempo vão manifestando sua individualidade com nomes, cortes de cabelos, tatuagens, pinturas nas armaduras, personalidades diferentes e até mesmo com alguns erros de fabricação, como o Trooper que ativa a ordem 66 cedo demais. com isso, os soldados da república obtém uma atmosfera no estilo da série Band Of Brothers (2001), assim, aprofundando a carga dramática de quando eles se voltam contra os generais jedi no episódio 3 da franquia.

 

 

Outro ponto interessante para destacar nessa animação é a diversidade na hora de selecionar o público alvo dos capítulos. Existem episódios protagonizados inteiramente por droids e pelo Jar Jar Binks direcionados para crianças, episódios direcionados para o público geral com batalhas das guerras clônicas, episódios cheios de easter eggs e informações para os fãs de Star Wars, como o desenvolvimento de Mandalore e quando os padawans precisam encontrar e montar os seus próprios sabres de luz, e também existem episódios onde o próprio diretor e roteirista pode brincar com os estilos narrativos referenciando clássicos do cinema, como Godzilla e Os Sete Samurais. Com isso, a série consegue atingir todo o tipo de público e gênero durante as suas temporadas.

Apesar de ter sido cancelada após a sua quinta temporada e posteriormente ter ganhado uma sexta temporada na Netflix, The Clone Wars não tinha um final de fato, entretanto, com o lançamento do Disney+, foi anunciada a sétima e última temporada do seriado. Composta por 12 episódios esteticamente lindíssimos, sendo esses divididos em três arcos. Clones, Ahsoka e Jedi.

Os primeiros quatro episódios focam em uma missão onde o capitão Rex e um esquadrão especial de Troopers, denominado “Lote Ruim”, precisam resgatar um de seus companheiros de uma base separatista. Esse arco consegue trabalhar as relações internas e a questão de lealdade entre os clones, inovando nas cenas de combate com a adição desse esquadrão composto por clones geneticamente melhorados.

O segundo arco da temporada reingressa Ahsoka na narrativa através de duas irmãs que ganham a vida nos níveis inferiores de Coruscant. Porém, apesar das novas personagens serem carismáticas, a história não consegue desenvolver-se muito bem, se tornando repetitiva e arrastada, assim, parecendo que três episódios seriam mais que suficientes para esse arco, mas os roteiristas precisavam escrever quatro.

 

Por fim, nos últimos quatro capítulos finalmente acontece o que foi prometido nos materiais de divulgação, o aguardado Cerco a Mandalore. Essa parte da história entrega tudo o que os fãs esperavam: Ahsoka vs Maul, Ordem 66, fechamento do desenho com A Vingança dos Sith, além do destino de Ahsoka e Rex. Ainda assim, talvez a animação precisasse de mais um episódio para amarrar e explicar melhor o que aconteceu com Maul depois da sua luta com Palpatine na quinta temporada até sua aparição em Mandalore no episódio nove “Old Friends Not Forgotten”, já que o público somente tem essas informações se for atrás da HQ Maul: Son Of Dathomir.

Pessoalmente, acho que o maior feito desta animação é melhorar a trilogia Prequel de Star Wars. 

Personagens mal desenvolvidos como Darth Maul e Conde Dookan tem seus backgrounds explorados, sendo o primeiro facilmente um dos melhores vilões da franquia. A investida política falha de George Lucas ganha alguma substância com os episódios políticos do desenho, trabalhando as relações de poder na galáxia através do Clã Bancário, da Federação de Comércio, do Senado Separatista, e das consequências de uma guerra de proporções cósmicas na vida das pessoas.

Um fato curioso é que existe o Anakin Skywalker de quem assistiu apenas os filmes e o Anakin Skywalker de quem viu às 7 temporadas do seriado. O descontentamento do personagem com o Conselho Jedi, a amizade com Ahsoka e Obi Wan, o amor por Padmé Amidala e a sua corrupção gradual  pelo lado negro proporcionam a carga dramática necessária com a sua queda no filme A Vingança Dos Sith, o que, sem o auxílio da animação, é repentina e mal executada.

Por fim, depois de doze longos anos, The Clone Wars, com o sua animação belíssima, suas coreografias de luta incríveis, sua inventividade em relação a força e seu roteiro bem trabalhado consegue ser tranquilamente a melhor coisa de Star Wars no audiovisual.