Mesmo que tenha agradado positivamente boa parte do público, a impressão do episódio passado foi como de um passo automático. A ideia foi ótima para apontar os rumos da temporada, mas o efeito não se igualou a um retorno junto as expectativas. Contudo, o segundo capítulo veio para compensar e dar muito do que esperávamos, servindo até como exemplo de que The 100 (2014 -) sabe usar do potencial que alcançou ao longo dos anos.
Se afastando dos eventos em Sanctum, o roteiro escrito por Jeff Vlaming foi direto a questão que mais queremos saber: que diabos é Anomalia? Dividido em dois tempos narrativos — passado e presente — a missão do episódio foi nos dar algumas respostas com muita emoção e ainda deixar o mistério pairar. Assim que se inicia, é notável como a equipe da série quer contar com muito cuidado como essa última peça da mitologia se encaixa perfeitamente. Voltando ao 6×08 (The Old Man and the Anomaly), nos deparamos com Octavia (Marie Avgeropoulos) chegando na Anomalia, curada das deformações que sofria e partindo para resgatar Diyosa (Ivana Milicevic), grávida, até perceber que as coisas não estavam acontecendo como pensava: já se passaram três meses, e a recente amiga se encontrava em trabalho de parto.
Logo nos primeiros minutos do episódio, entendemos o sentido por trás do título. Nas tentativas frustradas de Octavia em voltar para os amigos em Sanctum no decorrer de seis anos, para Diyosa, ali era o lugar perfeito para criar Hope longe de toda realidade de guerra que um dia viveu: enquanto plantava legumes e hortaliças na horta (the garden), o local também se fazia um jardim, o porto seguro, um escape para um recomeço. Eram apenas três tendo a oportunidade de ser uma família. É nesse aspecto que The 100 nos brinda com as divergências dessas personagens enquanto tentam ser exemplo para uma terceira mulher.
Fechando mais um ciclo de fases de Octavia, compreendemos também como se deu o processo de redenção quando ela entrou e saiu em poucos segundos totalmente diferente da Anomalia, disposta a viver em paz com seu irmão Bellamy (Bob Morley). Aparentemente foram segundos, mas o tempo de dez anos vividos pôde acrescentar uma nova página de aprendizado. Afinal, criou laços de afeto inesperados com Hope e em contrapartida, cresceu junto com outra figura repleta de rachaduras do passado e situações que formaram sua personalidade: Diyosa. No desenrolar das desavenças, consentiram na cumplicidade de tudo o que tinham na Anomalia: a confiança e presença uma da outra. O retrato dessa amizade foi belo, e mostrou mais uma vez como a série consegue conversar sobre nossas relações e humanidade, mesmo o contexto de desolação e reintegração que os personagens se veem lutando.
Na linha presente, acompanhamos Echo (Tasya Teles), Gabriel (Chuku Modu) e Hope (Shelby Flannery) em busca de Octavia, Diyoza e Bellamy dentro da Anomalia. Contextualizando com as passagens da linha passada, o roteiro amarra várias explicações interessantes acerca do mistério da Anomalia. A começar pelo seu nome: se Hope habilidosamente nomeou de Skyring (Anel do Céu), a coisa se trata mesmo é de um planeta beta. Além de entendermos que o tempo se comporta de maneira diferente por o lugar ser um buraco negro — se 10 anos foram alguns segundos, dá para viver uma vida enquanto lá fora se passa apenas um dia —, ficamos a par de que Skyring é uma espécie de prisão e que toda o fuzuê envolvendo o espiral que fez Octavia despertar o enigma do recinto, funciona como uma ponte de acesso para outros planetas e o meio de acesso são os códigos.
Muita informação, mas ainda há a questão de que no planeta beta há os discípulos, aqueles que mantém a ordem e funcionamento. O que tudo indica, o ponto central do local é Bardo, onde os membros fundamentais estão alocados, e, principalmente, o líder Anders — que acredito que este não seja o cabeça por trás de tudo, apenas o responsável pelo Skyring.
Apesar de algumas facilitações do roteiro para manter o mistério, The Garden foi um excelente avanço para o que a temporada vem desenhando, assim como provou a plenitude da série de trabalhar com poucos personagens de maneira intrigante e inteligente utilizando o que tem de melhor em suas nuances.
Últimos comentários:
100: a dinâmica está parecida como a da segunda temporada, a qual dividiu os personagens em núcleos e os convergiu num afunilado brutal de season finale. Se permanecer assim, a sétima temporada tem tudo para ser a melhor.
99: parece que não vai demorar para os personagens em Sanctum descobrirem o que rolou com Octavia e Bellamy. Como esse povo irá lidar?
98: no 7×01, Roan (Zach Macgowan) apareceu em um vislumbre do passado de Echo graças aos efeitos das toxinas liberadas pela Anomalia, já Becca (Erica Serra) surgiu neste segundo episódio de maneira mais chocante ao se mostrar ciente e participante da criação do planeta beta. O que isso tem a dizer sobre as várias vezes que o apocalipse se fez presente? Ainda veremos falar sobre A.L.I.E?
97: sendo Skyring um limbo e ponto de acesso para outros planetas, isso só gera ainda mais curiosidade de como tudo vai se encaixar. Que seja coerente.
96: finalmente entendemos a mudança de Octavia no 6×08, mas ainda saberemos como ela voltou e como foi o processo no 6×09 (What You Take with You) e o que aconteceu depois do 6×13 (The Blood of Sanctum).
95: nossa, o tempo no planeta beta deixou o cabelo da Diyoza lindo. Que não demore a voltar!
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.