A franquia Resident Evil vive no coração dos fãs desde 1996, com o lançamento do primeiro para o PlayStation, embora não seja considerado o precursor do gênero de horror e sobrevivência, certamente o popularizou e transformou um jogo isolado em uma franquia de enorme sucesso. Seus sucessores vieram logo em seguida, em 1998 com Resident Evil 2, trazendo novos protagonistas, armas, inimigos e ambientes novos; e em 1999 com Resident Evil 3: Nemesis, com a sua protagonista Jill Valentine, que já tinha sido uma das protagonistas do primeiro jogo e, agora, apresentando uma roupagem nova. Inovou-se mais uma vez em mostrar Raccoon City e Nemesis, um dos vilões mais icônicos dos videogames.
Embora seja dito que RE3 não tenha sido o foco da Capcom e que muito dos interesses da desenvolvedora estava já em títulos futuros como Resident Evil: Code: Veronica (2000) ou até mesmo Resident Evil 4 (2005), é inegável que a história de RE3 e sua jogabilidade transpassam o esperado. Temos uma história concisa e bem desenvolvida, o retorno de Jill trouxe de volta o olhar dos fãs para uma personagem muito carismática dentro da franquia. Embora seja a mesma personagem, sua personalidade está diferente, ela é bem mais segura de si que no primeiro jogo e apresenta habilidades únicas de combate, agora ela é capaz de desviar e até mesmo empurrar inimigos. O roteiro foi feito para aproveitar a cidade de Raccoon, portanto além de mostrar elementos que já conhecemos no RE2, como algumas ruas e o RPD (Raccoon Police Departament ou Departamento de Polícia de Raccoon), ele expande para outros pontos da cidade como Prefeitura, Torre do Relógio, Estação de Bonde etc.
Mérito também pelo entrecorte de narrativas, a história de Resident Evil 3 começa antes de Resident Evil 2 e termina depois dele. A precisão com que os eventos acontecem é talvez uma das coisas mais bem feitas nesse jogo. Ao passarmos pela Delegacia de Polícia, sabemos que os protagonistas do segundo jogo ainda não passaram por lá, mas já sabemos que passarão e isso deixa o jogo muito mais instigante e divertido. A jogabilidade já é comum da série, aquele jogo de câmeras fixas com deslocamento de personagem, os gráficos seguem o padrão do segundo jogo, mas aqui estão mais polidos, talvez por ser um jogo de final de geração, por usar todos os recursos de seu console. De novos movimentos, destaca-se a já falada esquiva e empurrão, que embora não fossem fáceis de executar, certamente salvariam a protagonista em algum momento.
Além da história e jogabilidade, o jogo se destaca por trazer dois vilões, um muito icônico e outro muito bom, mas que a Capcom não soube ainda reaproveitá-lo. São eles Nemesis e Nicolai. Nemesis, que dá nome à versão americana do jogo, é uma arma biológica feita e controlada pela Umbrella que tem como único propósito matar os sobreviventes do primeiro jogo, em uma espécie de queima de arquivo. Ao aparecer em tela ele fala S.T.A.R.S (Special Tatics And Rescue Service ou Serviço de Táticas, Armamento e Especialidades em Resgates Seguros) como é conhecido o grupo sobrevivente do primeiro jogo, logo após pronunciar a sigla, Nemesis corre em direção à protagonista e desfere sempre golpes poderosos, capaz de matá-la logo após alguns acertos. Já Nicolai é um mercenário membro da U.B.C.S grupo contratado pela Umbrella com a falsa missão de resgatar sobreviventes da cidade. O real motivo de Nicolai é revelado no decorrer do jogo, que ele não está ali para salvar os sobreviventes e sim para realizar um estudo e reportar à Umbrella sobre os efeitos de seu vírus nas pessoas. Além disso, ele também revela que existe um prêmio para a cabeça de Jill e que ele está disposto a matá-la também.
O interessante de jogar Resident Evil 3 em tempos de quarentena no Brasil é as semelhanças entre as atitudes do jogo e a nossa realidade. Embora o Coronavírus não transforme as pessoas em zumbis, o comportamento das autoridades, principalmente as do cargo executivos são parecidas. O lucro das empresas acima de tudo e um desprezo pela população são exemplos de similaridades entre o jogo e a vida real. É impossível dissociar a história contada aqui com o que vivemos no mundo hoje, acaba que torna-se uma crítica, mesmo que não tenha sido intencional, ao sistema capitalista de resolver a crise.
Resident Evil 3: Nemesis pode parecer ofuscado de longe, principalmente depois do enorme sucesso de seu antecessor e da expectativa do Code Veronica, mas essa sensação vai embora logo nos primeiros minutos de jogatina, a experiência de viver um capítulo final de uma história que começou no primeiro jogo e também uma despedida do PlayStation dão ao jogo um caráter único e inesquecível. Além de contar com um vilão icônico, sua narrativa encerra o arco dos S.T.A.R.S e de sua cidade, mais que isso, o jogo também pode ser encarado como uma possibilidade de abrir os olhos diante do danoso efeito que o capitalismo dá na vida das pessoas, seja explorando-as ou transformando-as em cobaias para experimentos biológicos.
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Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.