Desde que a ONU decidiu, em 1975, que o Dia Internacional da Mulher seria celebrado em 8 de março (coisa que a Rússia já vinha fazendo desde 1917), mais de 100 países vem celebrando a data anualmente, com direito a muito chocolate, flores e elogios para todas as mulheres fortes e guerreiras, que enfrentam as dificuldades do dia a dia com um sorriso no rosto e sempre muito amor pra dar, já que mulher é sempre mais compreensiva, cuidadosa, amiga e paciente. Por isso, o Só Mais Uma Coisa preparou essa listinha fofa de livros escritos por mulheres, para que mais pessoas possam se admirar com o talento e a compaixão desses seres iluminados que são as mulheres!
Só que não, né, gente?
Eu não gosto do dia da mulher (se ainda não tinha ficado claro por esta introdução acima agora está) por uma série de motivos que na verdade não importam. Independente de gostar ou não, ele existe, desde muito tempo, antes mesmo de 1917, quando o Partido Socialista da América resolveu bater uma palma pelas mulheres que pediam o voto feminino nos Estados Unidos, e atualmente, é só mais um dia em que as grandes empresas se utilizam da pauta feminista liberal para seguir lucrando em cima da gente, só que agora passando a impressão de serem muito evoluídos e preocupados com a igualdade de direitos que o movimento tanto pede.
Ninguém aqui é obrigado a concordar comigo nesse tópico, e no grande espectro das Pautas Urgentes, a existência – ou não – do Dia Internacional da Mulher está lá embaixo, juntinho da pauta “tomara que caia é um nome machista pra roupa” (quem aí também viu esse tweet? Misericórdia, Brasil). Tendo isso em mente, resolvi separar pra vocês – e pra isso contei com a ajuda de várias amigas queridas – uma lista com 13 livros escritos por autoras, única e exclusivamente porque eu, Gabriela, amo livros, amo mulheres e amo ainda mais a combinação dos dois, e se as grandes empresas (e as pequenas também porque convenhamos, o capitalismo está em todo lugar e a gente que lute pra lidar com isso) podem se aproveitar do Dia da Mulher para ganhar publicidade, eu – e o Só Mais Uma Coisa – também posso. Então segue a lista de leitura que ninguém pediu – e se alguém tiver pedido, um xêro no cangote – mas que é incrível e muito urgente de acordo com a fonte: minha opinião.
Mulherzinhas (1868) – Louisa May Alcott
Louisa May Alcott foi uma americana bem gênia, que morreu muito cedo e que eu gostaria de ter conhecido e sido sua amiga. Seu romance Mulherzinhas já teve várias adaptações para o cinema e televisão, e é um dos melhores livros que já li na vida. O livro (e suas várias continuações) segue a vida das irmãs March, da infância até a vida adulta, e ilustra bem como era a vida da mulher branca americana de classe baixa no século 19. Dei alta risadas com esse livro, também chorei horrores com ele, e guardo as irmãs March no meu coração com muito carinho.
Persuasão (1818) – Jane Austen
Jane Austen é inglesa demais, famosa demais e complexa demais para que eu possa pensar em explicá-la, então vou apenas falar, muito brevemente, que ela é perfeita (apesar de que a perfeição não existe, coisa que ela deixa muito claro em todos os seus romances e eu a amo por isso). Se você tiver oportunidade de ler todos os livros já escritos por ela, leia. Eu mesma ainda não fiz isso, mas farei um dia, eu juro. Escolhi Persuasão porque mexeu muito comigo enquanto lia, e como sou péssima em falar das coisas sem dar spoilers, vou pedir que você confie na minha opinião aqui. Sério. O livro é muito bom, mesmo.
Minhas Queridas (2007) – Clarice Lispector
Paixão Segundo G.H (1964) – Clarice Lispector
Clarice Lispector…Como eu começo a explicar Clarice Lispector?
Clarice Lispector é perfeita. Ela escreveu 9 romances e 8 livros de contos. Ela esnobou totalmente sua ascendência ucraniana, e abraçava o Brasil como sua verdadeira pátria (e é mesmo, viu? Quem discorda por favor se retire). Clarice não era gente não, era anjo, de tão iluminada que era, e eu nem sei mais o que dizer porque tem muita gente por aí amando Clarice que poderia escrever isso aqui bem melhor do que eu. Paixão Segundo G.H. está na minha lista de leitura desse ano, mas todas as pessoas a quais perguntei sobre o livro me disseram que é incrível, então obviamente que ele entra pra essa lista. Minhas Queridas é na verdade um livro de cartas de Clarice para as irmãs, e ele entra aqui porque eu amo cartas, apenas, e amei conhecer Clarice dessa forma.
Kindred: Laços de Sangue (1979) – Octavia Butler
A Parábola do Semeador (2018) – Octavia Butler
Octavia Butler “foi uma escritora afro-americana consagrada por seus livros de ficção científica feminista e por inserir a questão do preconceito e do racismo em suas histórias”. Tirei essa descrição da Wikipédia, porque sim, essa é Octavia Butler, mas ela também é muito mais que isso. Comecei a ler Kindred no começo de 2020, e ainda estou lendo (sim, eu sei que estamos em Março, por favor não me lembre de como me tornei uma leitora lenta com o passar dos anos), não porque o livro se arraste, mas porque ele é muito para digerir. Que autora incrível. Levei alguns muitos tapas na cara e ainda estou na metade do livro. A parábola do semeador também está na minha lista para 2020, e eu já espero dele tudo que Kindred me trouxe e um pouco mais.
Morte Súbita (2012) – J. K. Rowling
J. K. Rowling foi cancelada (se você não sabe o que é a cultura do cancelamento, faça uma conta no twitter). Independente disso, Morte Súbita segue sendo um dos meus livros favoritos desde seu lançamento em 2012. Provavelmente já devo ter relido umas 5 ou 6 vezes, e nunca me canso de ler sobre a vidas dos habitantes da pacata Pagford, na Inglaterra.
O Conto da Aia (1985) – Margaret Atwood
Nos anos 80, Margaret Atwood foi lá e escreveu O conto da Aia como quem não quer nada, e deixou todo mundo na época completamente louco com o enredo, como até hoje a gente ainda pensa, fala, assiste, e simplesmente não consegue digerir essa história. A repercussão foi tão grande que ela sentiu a necessidade de escrever uma continuação pro romance (que eu ainda não li mas lerei em breve), e dar mais uma vez voz a aia Offred, e sua luta nesse cenário distópico, mas extremamente realista, que Atwood criou em O conto da Aia.
Saga Mediadora (2000 – 2016) – Meg Cabot
Essa lista não poderia existir sem Meg Cabot. Venho lendo Meg Cabot desde os meus 10 anos, e simplesmente nunca parei. Amo tudo que ela escreve, e o que eu não amo eu gosto, e o que eu não gosto eu consigo entender o porque que não gostei e mesmo assim leio. A Saga Mediadora começou a ser publicada nos anos 2000, e terminou em 2016, com o oitavo volume da série, Lembrança, onde a protagonista Suze Simon, agora adulta, precisa lidar com um de seus casos mais desafiadores dentro da mediunidade enquanto passa pelas provações da vida pós universidade e desemprego. Muitos que leem Meg Cabot apontam a autora como extremamente clichê, e ela é, sem sombra de dúvidas. Acontece que Cabot consegue fazer os clichês funcionarem, desde o fim dos anos 90 até hoje, e pra mim, a Saga Mediadora segue sendo uma das melhores histórias com protagonistas femininas que eu já tive o prazer de ler.
Fome (2017) – Roxane Gay
Descobri Roxane Gay por causa de um vídeo da youtuber Alexandra Gurgel, e desde que li Fome minha vida não foi a mesma. A autora é afro americana de descendência haitiana, e o livro é sua autobiografia, mais especificamente, a autobiografia de seu corpo. Nele, Roxane Gay aborda sua vida desde antes do abuso sexual que sofreu na infância até os tempos presentes, como ela vem se relacionando com o próprio corpo desde então, e como é ser uma mulher negra, gorda e LGBT nos Estados Unidos. Levei muitos tapas na cara lendo Fome, e o tenho como parte essencial da construção de quem sou hoje.
Sejamos Todos Feministas (2014) – Chimamanda Ngozi
A primeira vez que ouvi falar de Chimamanda foi na música Flawless da aclamada deusa Beyoncé (aqui neste site servimos a casa de Beyoncé Giselle Knowles-Carter, incomodados favor retirem-se). Sejamos todos Feministas veio depois, em 2018, quando eu estava escrevendo o meu Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade, e peguei o livro para ler como biografia. O título é auto explicativo, e tenho também como meta de leitura esse ano seguir lendo mais livros da Chimamanda, que não só é voz ativa com diversas obras para os estudos feministas como também escreve romances.
Um Teto Todo Seu (1929) – Virginia Woolf
Um Teto Todo Seu também foi bibliografia do meu TCC, mas descobri Virginia muito antes disso, no inicio da universidade, e desde então venho batalhando contra a escrita dela, por mais que este livro em particular tenha entrado fácil fácil na minha cabeça. Neste livro-ensaio, Woolf discute uma série de pautas feministas como os preconceitos de gênero e sexualidade, educação das mulheres, independência financeira etc, de uma forma fácil de acompanhar e que pode ser aplicada a nossa realidade atual.
Duologia Ketterdam (2015 – 2016) – Leigh Bardugo
Leigh Bardugo é uma autora israelita de literatura jovem adulta que roubou meu coração em 2019 e até hoje sofro em decorrência disso. A Duologia Ketterdam ( Sangue & Mentiras e Vingança & Redenção) ficou comigo um bom tempo depois de seu fim, e até hoje eu tenho esperança de que Leigh resolva escrever um terceiro volume apenas para que eu possa reencontrar meus tão amados Corvos e participar de suas vidas mais uma vez.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.