Honeyland – Quanto vale a natureza?

Abelhas são a base de praticamente todo ecossistema que conhecemos. Esses animais por levaram o pólen e o néctar de uma flor para a outra até voltarem para a colmeia, ajudam, assim, na fertilização de diversos tipos de plantas, com isso aumentando a variabilidade genética desses seres vivos, já que com o trabalho desses insetos as plantas não precisam realizar a autofecundação com o pólen do mesmo indivíduo. Com isso, as abelhas são responsáveis pela polinização de 70% das frutas, sementes e legumes no mundo. O fato é: as abelhas estão sumindo.

Existem várias hipóteses do porquê desse desaparecimento, porém, como esses insetos não estão voltando para colmeia, a teoria mais aceita é que eles estão morrendo devido a agrotóxicos, pesticidas e fungicidas espalhados nas suas rotas de polinização. Outros responsáveis pelo desaparecimento desses animais são as queimadas, o desmatamento, a destruição dos habitats e a exploração industrial do mel. Na China o desaparecimento das abelhas obrigou a realização da polinização manual através de pequenos pincéis, porém a eficiência econômica e valorização de mão de obra tornou inviável esse tipo de prática por muito tempo, sendo esse um trabalho que as abelhas fazem de graça.

A liberação de pesticidas, agrotóxicos e fungicidas, muitas vezes, se preocupam somente com as consequências desses produtos nos mamíferos, esquecendo toda a cadeia alimentar em que o ser humano está inserido. Em 2019, no Brasil, foram liberados 474 tipos de agrotóxicos sem falar das queimadas na amazônia, este sendo o bioma de algumas espécies de abelhas isoladas e sociais. Graças a lógica capitalista o ser humano tem a necessidade de precificar tudo, entretanto na natureza os seres vivos existem sem a necessidade de serem relevantes para o sistema econômico humano, eles apenas se adequaram às condições impostas pelo ambiente, cumprindo assim o seu papel na cadeia alimentar.

A cultura pop já tentou abordar as consequências desta extinção em obras como Bee Movie: A História de Uma Abelha (Bee Movie, 2007) e o sexto episódio da terceira temporada de Black Mirror (2011 -), Hated in the Nation, onde robôs abelhas são criados para substituir as originais. Por fim, Honeyland (2019) é mais uma obra que toca nesse tema, mesmo que superficialmente.

A obra indicada às categorias de Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2020 é uma produção da macedônia, dirigida por Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska. A história é sobre Hatidze Muratova, a última criadora de abelhas da Europa que utiliza de uma apicultura sustentável para ajudar a  sua mãe doente e preservar as abelhas da região. O filme, por retratar o cotidianos daquelas pessoas, consegue ter um carácter bem intimista e real quando aborda as relações sociais de Hatidze com a família recém chegada aos arredores de sua casa e o seu estilo de vida na natureza junto com sua mãe, longe dos grandes centros urbanos.

Apesar de não ser a proposta central do longa, com a chegada dos vizinhos ocorre uma discussão entre a produção sustentável vs a produção industrial de alimentos. Hatidze respeita o tempo da produção natural do mel e usufrui apenas da metade dos favos produzidos pelas abelhas, vendendo esse produto no mercado. Isso permite que os animais continuem prosperando e não corrompe a qualidade do mel. Entretanto, a família recém chegada, exige demais das abelhas para assim fazer mais dinheiro, coletando o mel antes da hora e deixando migalhas nas colmeias, com isso afetando o tempo de vida daqueles animais.

O pai da família começou a carreira de apicultor porque viu que poderia se sustentar melhor com o lucro do mel, cera e geleia real das abelhas, porém, apesar do filme ser um microuniverso no interior da macedônia, se ampliarmos a sua perspectiva ao cenário global, chegaremos ao consumo desenfreado dos recursos animais e vegetais que estão exaurindo o planeta. Honeyland tem um tema extremamente atual e relevante em mãos, porém decide apostar nas pequenas histórias. Esse foi o recorte escolhido pelos diretores e o documentário funciona no que se propõe, mas apesar de mostrar a realidade de uma comunidade simples, ele acaba caindo no mais do mesmo, em relação ao discurso posto em tela.

O Oscar de documentários é onde os produtores de conteúdo podem mostrar diversos tipos de realidade para o mundo ou diversos tipos de percepções da realidade para o mundo e por estarmos vivenciando uma crise na biosfera, esse filme podia ser muito mais do que ele se propôs. Com concorrentes como Democracia em Vertigem (2019) e Indústria Americana (American Factory, 2019), que se propõem em discutir quanto vale a nossa democracia e se esse estilo de vida capitalista vale a pena, Honeyland podia usar a vida de uma simples apicultora no interior da Europa para discutir temas atualmente relevantes.