Dolittle (2020) é ruim. É certo que nos últimos anos a indústria do entretenimento vem sofrendo com a falta de boas e originais ideias. Basta ver a quantidade de remakes, reboots, referências à obras do passado que fizeram muito sucesso. Isso não é novo em Hollywood, durante mais de 100 anos da história do cinema, diversos filmes foram refeitos, seja apenas por atender uma demanda do público ou atualizar a história para a época atual. O fato é que nos últimos cinco anos, a quantidade de obras que fizeram isso é muito grande. Uma constante referência aos anos 80 e 90 pega um público que é apaixonado por essa época e que carece de material fonte. O problema maior é que esses novos filmes vão apenas na superfície, o que pode bastar para lembrar as décadas anteriores, mas não sustenta uma boa história. Em outras palavras, os filmes só vendem a ideia e não entregam bons roteiros, atuações, direção etc.
O mais recente exemplo dessa onda é Dolittle. Dr. Dolittle (Doctor Dollitle, 1998) foi um filme de relativo sucesso na década de 90 que tinha Eddie Murphy como protagonista. Aliás, esse mesmo filme trata-se de um remake de um filme de 1967 do gênero musical. A partir do primeiro filme de 1998 com Eddie Murphy, foram feitos inúmeras continuações, tentando surfar na onda do sucesso dos dois primeiros. A ideia de trazer de volta tal personagem em 2020 parece acertada no primeiro momento, mas erra na sua execução. O primeiro erro e talvez o mais gritante é achar que Robert Downey Jr tem o mesmo carisma de Murphy. Enquanto o primeiro fez sucesso como Tony Stark na Marvel, Eddie Murphy vem de inúmeros sucessos na década de 80 e 90. Segundo ponto é achar que Downey Jr entregaria alguma atuação comprometida, seu sotaque britânico é tão fraco quanto a moralidade de Stark e fica notório sua atuação no automático, apresentando um personagem que ao mesmo tempo é excêntrico no trato com animais como bondoso com aqueles ao seu redor.
Contudo o maior problema do filme é seu roteiro fraco e cheio de acomodações narrativas. Nada, absolutamente nada funciona no filme, a trama, os pontos de virada, as piadas. É possível sair do cinema sem dar uma risada. A trama muito mais voltada para fantasia que o filme de 1998 (talvez fazendo mais referência aos livros) é sem pé nem cabeça, os conceitos são apresentados rápidos demais e não há desenvolvimento dos personagens. Durante o filme há uma espécie de corrida contra o tempo, mas que não funciona, pois não sentimos empatia por nenhum personagem. Além de ser repetitivo, chato e de tratar o espectador como burro o tempo todo com uma trama medíocre e digna de pena. Talvez o único ponto positivo do filme sejam seus efeitos visuais, mas que com um orçamento de 175 milhões de dólares não fez mais que sua obrigação.
Dolittle é uma experiência ruim, principalmente se você gosta do filme de 1998. Ele serve apenas como exemplo de como não fazer um reboot e de que como os grandes estúdios não ligam muito para a qualidade de sua obra, apoiados sempre numa rede de fãs saudosistas sedentos por doses homeopáticas de suas franquias favoritas. Uma hora essa bolha vai estourar e espero que Dolittle assuma e cumpra sua função de abrir os olhos do público para a mediocridade e que este passe a exigir boas e novas histórias, com roteiros, direção e atuações bem desenvolvidas e trabalhadas.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.