Anne With an E – Protagonista em todos os sentidos

A primeira coisa que você precisa saber antes de começar a ver Anne with an E (2017 – 2019), é que precisará de um lencinho, especialmente com os primeiros episódios. As dificuldades iniciais experimentadas por Anne Shirley (Amybeth McNult) nos tocam profundamente e é quase impossível não deixar uma lágrima cair. Aliás, Anne nos causa uma empatia imediata. E embora para algumas pessoas seja incômodo a tagarelice característica da personagem, ela funciona como estratégia de identificação nossa com os demais personagens (mais velhos), atormentados com tanta informação partindo de uma menina de treze anos (aproximadamente).

Anne é uma menina órfã que sonha em ter um lar. Tem traumas de sua vida pregressa (das famílias adotivas anteriores e do orfanato), mas é muito inteligente por ter desde sempre uma paixão pela leitura. Ela chega por engano à Green Gables (uma espécie de distrito) um lugar com características de zona rural, localizado no Canadá. Lá conhece Marilla (Geraldine James) e Matthew (R. H. Thomson), um casal de irmãos que vive e cuida da fazenda da família, são os Cuthbert. Eles desejam um ajudante (um menino) para os trabalhos da fazenda, visto que já estão velhos e não conseguem dar conta de tudo. E então Anne chega e eles são confrontados com a possibilidade de adotá-la.

Marilla e Mathew nos passam a impressão de serem pessoas sisudas, a princípio. E são muito duros com Anne. Mas aos poucos vamos percebendo essa “casca” cair e entendemos as decisões deles. E assim como acontece com quase todos os personagens da série, nos encantamos com eles. Eles têm uma relação de irmãos tão íntima e cheia de cumplicidade, que conhecem os pensamentos um do outro só pelo olhar. Eles verdadeiramente se cuidam e completam. É uma relação muito bonita. E Anne chega para trazer uma nova vida aos dois.

Anne é uma garota diferente de todas na região, seja pela aparência (seu cabelo ruivo) ou pela sua perspectiva sobre a vida (à frente de seu tempo). E isso gera incômodo, tanto nas crianças da Escola, quanto nos pais delas e outros moradores do lugar. A cada episódio um novo tema é posto em debate a partir da perseguição que Anne ou outra personagem sofre. Anne sofre muito e nós sofremos junto dela. Se você gosta de ler, tem curiosidade sobre assuntos diversos, é considerado(a) diferente por defender coisas que parecem óbvias e já sofreu inclusive bullying por isso, você vai se identificar com essa protagonista como eu me identifiquei.

Nos conflitos da trama estão presentes temas como: homossexualidade e homofobia, racismo, feminismo (que começa a dar seus passos, lentos), adoção, desigualdade social, trabalho infantil (que era comum), casamentos arranjados, educação sexual, assédio sexual, liberdade de expressão, direitos humanos, a arte como profissão, as imposições da igreja e etc. Sempre abordados com responsabilidade e coerência com o período em que se passa a narrativa, mas levando em conta o que evoluímos até aqui.

Um aprendizado geral que a série nos deixa a partir da perspectiva da Anne, é: Resiliência! Anne sempre vivencia momentos de sofrimento, mas com uma crença inabalável de que as coisas serão corrigidas. Ela sempre supera a dor e segue firme em frente! É uma protagonista de muita força interna e isso nos inspira demais. Não é “baixar a cabeça” para os problemas, mas buscar resolvê-los. Se colocar à disposição para o diálogo, chegar a um acordo. A cada episódio a gente pensa “Essa menina não tem um minuto de paz!” e quando percebe a Anne já tá pensando lá na frente e já perdoou quem a magoou. É uma força essa menina!

Preciso dizer que, quando me indicaram a série, anos atrás, eu imaginei que fosse bem diferente e o fato de não se passar na atualidade (não sou muito fã de narrativas de época), não me instigou a ver. O tempo passou e sempre via postagens a respeito da série, frases marcantes sobre ser mulher, e mais recentemente milhares de fãs sofrendo porque a Netflix lançou a 3ª e última temporada da série. Então resolvi dar uma chance e comecei a ver, sem imaginar que ia me apaixonar totalmente por ela. É fascinante como tudo na narrativa é crível e isso conquista o espectador. Por isso, independentemente da época em que se passa, tudo parece muito coerente, muito possível, muito de verdade. Não é à toa tanta aclamação. É isso o que posso dizer!