Pouco mais de 16 anos desde o último filme em que Martin Lawrence e Will Smith contracenaram, eis que estamos de volta para o clima tropical da cidade de Miami. Como bem sabemos, Hollywood mal deixa uma história envelhecer para a ideia de um remake, reboot ou sequências começarem a ser desenvolvidas. Com dois filmes dirigidos por Michael Bay, um em 1995 e outro em 2003, a duologia de Bad Boys teve um bom resultado nas bilheterias, comentários quase frios da crítica, enquanto a parceria de Lawrence e Smith eram o prestígio. No mais novo capítulo de investigação da dupla, Bad Boys Para Sempre (Bad Boys for Life, 2020) mostra que é surpreendente bom, e que o tempo só lhes ofereceu o melhor momento nas telonas.
A boa partida é que essa terceira parte da franquia foi consciente de que o tempo passou. O que já serviu como o pontapé para a trama que agora trás Marcus (Lawrence) e Mike (Smith) em lados opostos do que desejam seguir. Enquanto Marcus quer se aposentar e dedicar-se mais a família, Mike pensa em levar o legado de “garotos maus” para toda a vida. No meio dessa divergência de pensamentos, os parceiros não viram chegar uma grande ameaça do passado de Mike, que o coloca no centro de um novo combate.
É bem notório que o roteiro de Bad Boys 3 parte de uma ideia bastante usada em filmes recentes de ação, o que em um primeiro momento passa a sensação de que ficaria no lugar comum de combinar o tal gênero com a comédia — por mais que isso já seja característico da façanha — tanto que passamos por uma edição que trata logo de estabelecer o que irá garantir a aventura da vez: depois de quase encontrar com a morte, Mike precisará lidar com a nova rede de crime que o tornou alvo.
As novas adições ao elenco (muito interessante, inclusive) por um período também transmitiram a impressão de um filme estruturalmente calculado para entregar mais do mesmo, ao vermos Rita (Paola Nuñez) liderando uma equipe de força tarefa integrada por Kelly (Vanessa Hudgens), Dorn (Alexander Ludwig) e Rafe (Charles Melton): um que manja de hackeamento, um que consegue informações rápidas sobre o caso, situações com frases prontas, com frase de efeitos para causar humor, e um indício de romance para Mike. Parecia mesmo que o leque de elenco serviria só para esses fins.
Apesar desses elementos, Bad Boys Para Sempre tem em sua proposta um objetivo bem mais agradável e envolvente: nos levar para nostalgia, para o que funcionava quando se tem Marcus e Mike no bolo. É exatamente aí que o filme começa a ganhar força e se mostrar relevante depois de uma longa pausa. Diferente do comando de Michael Bay, agora a execução se deu pelas lentes de Adil El Arbi e Billal Fallah, dupla que já trabalharam em filmes como Black (2015) e Patser (2018) e o que ambos fizeram aqui foi incrível e acrescentaram muitíssimo para o que já tivemos nos dois primeiros filmes.
Fazendo um belo proveito por se situar na cidade de Miami, a cinematografia de Robrecht Heyvaert abraça as cores neons e vibrantes entregando um encanto visual em cenas desenfreadas e ousadas de ação. E para encher ainda mais os olhos, a dupla de cineastas usa e abusa da câmera lenta, com destaque para cenas de tiroteios e grande focos em veículos em alta velocidade, capotamentos e explosões — sem os exageros do Bay, claro. Com sequências cada vez mais grandiosas, esse se mostrou um exercício que não se cansa no filme, carregando energia nos takes perigosos e ambiciosos que decidiram entregar.
O que não poderia faltar e que ainda dá muito certo, é a química que Smith e Lawrence transparecem em cena. O humor está mais afiado, escroto e sarcástico do que nunca. Melhor do que seguir uma estrutura trivial para inserir comédia em momentos inoportunos que quebram o ritmo, é ter dois personagens que concedem esse feito com naturalidade e domínio: não importa as transições de cenas, a urgência que a situação pede, a discordância tão orgânica quanto a amizade que eles detêm por anos rendem momentos hilários e exaltam a essência entre Marcus e Mike.
Porém, Bad Boys For Life não consegue manter seus acertos por muito tempo em tela pois, nas idas e vindas da narrativa, acaba ficando desgastante de acompanhar o trajeto até chegar ao desfecho já perceptível que o longa ainda almeja atribuir. Logo, isso rouba um pouco do mérito que El Arbi e Fallah conseguiram alcançar no ritmo da história, diminuindo o interesse de se atentar para o que já é esperado.
Mesmo com o ritmo oscilante, a boa recepção que Bad Boys 3 vem recebendo já fez a Sony investir em um quarto capítulo, sem mais 16 anos de espera, claro. Se os diretores responsáveis voltarem mais uma vez para o comando já podemos esperar por mais cenas de ação impressionantes e com outro excelente uso do elenco. Bad Boys, whatcha want, watcha want, watcha gonna do…
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.