Às vezes, fico pensando sobre como será nossa existência daqui a 200 ou 300 anos. E não é só porque assisti sete séries de Star Trek. Quando você considera apenas a taxa de avanço tecnológico do século passado, é fácil deixar sua imaginação correr solta, imaginando colônias em sistemas solares distantes, as naves estilo Enteprise nos transportando a toda velocidade de dobra pela galáxia. No caminho de casa do seu trabalho de 12 horas, você vê o logotipo colorido do Google colado ao lado, com o rosto imóvel de algum influencer projetado em displays e outdoors publicitários em cada esquina, observando o retorno e assim, os sonhos de uma galáxia distante se esvaem. Hoje, não há dinheiro suficiente para a comida; isso terá que esperar até amanhã. Talvez até no dia seguinte. O Big Brother está assistindo.
Esse é o tipo de futuro que vemos retratado em The Outer Worlds (2019). Colônias de seres humanos se espalharam pelo sistema solar conhecido como Halcyon, mas se veem presas sob o controle entorpecedor de várias empresas. A história começa quando Phineas Welles, o desperta de um sono criogênico de 70 anos, atribuindo a você a grande tarefa de ajudar o restabelecimento de todos os outros que dormem no mesmo estado. Ele é um cientista louco, mas você não pode culpá-lo por querer livrar a vida das empresas que assumiram o papel de Deus.
Depois de fazer uma cirurgia plástica ao seu personagem no verdadeiro estilo RPG, você entrou em Edgewater para começar sua jornada. Aqui, você testemunha em primeira mão a vida negligenciada que a Spacer’s Choice, entre outras empresas, criou para a raça humana. Existem foras da lei espalhados por todo o lugar, ao lado de grupos de desertores que já tiveram o suficiente da opressão e tentam ganhar a vida fora dos muros da cidade. Em Edgewater, em particular, você é solicitado a fazer uma escolha de moralidade bem cedo, ou você força um desses grupos desertores de volta à cidade, removendo a energia que eles estão recebendo de uma das usinas para trabalhar a cada hora para o bem da empresa? Ou você os deixa em paz, deixando Edgewater com falta de pessoal e poucos recursos, que eles precisam para sobreviver?
Claro, este é apenas um exemplo. A missão principal é fácil de seguir, mas se você concordar em ajudar todos com quem conversar, terá uma boa quantidade de missões secundárias para mantê-lo ocupado. Sua nave (uma referência ao estilo de naves de Firefly) atua como sua base, enquanto você voa pela Halcyon, com a maioria das opções que você precisa fazer, trabalhando como RH corporativo (muito mais violento do que qualquer RH com o qual eu já lidei), ou combatente da liberdade. Embora o lado que você escolher não seja tão fácil quanto parece, os dois tem seus ganhos e perdas.
A principal comparação com a qual The Outer Worlds foi elaborada é a franquia Fallout, particularmente New Vegas (2010). E também não é surpresa, visto que a Obsidian desenvolveu esse jogo em particular, e os dois diretores foram ambos criadores da franquia original, antes da Bethesda assumir. The Outer Worlds não é tão aberto e vasto quanto o que você esperaria de um jogo da Bethesda.
O que o jogo acerta é o sentimento de aventura. Muitos RPGs parecem truncados, vazios ou simplesmente sem graça para explorar. Pode ter sido alvo de críticas por falta de um verdadeiro mundo aberto, mas os pequenos tamanhos de mapa parecem adequados e mantêm a aventura focada na história. Se tivesse vastos mundos abertos, provavelmente se tornaria uma tarefa árdua a cada passo do caminho. Muito raramente esse senso de aventura deu lugar à impaciência e ao tédio, que realmente solidificam The Outer Worlds como um mundo divertido de se estar.
Um dos maiores triunfos do jogo é a construção do mundo. Cada corporação tem um jingle distinto que toca em suas respectivas máquinas de venda automática, seus trabalhadores divulgam seus slogans liberalmente e todos eles têm seus principais produtos para vender. Cada cidade tem seu próprio conflito, seja a fome, as operações secretas que vão para o sul ou as facções fragmentadas que disputam o poder. Embora muitos dos detalhes do mundo não sejam alterados, o destino de cada pode ser bastante alterado pelas escolhas do jogador.
As armas também recebem o mesmo tratamento, com atualizações disponíveis para facilitar a sua mira ruim (pelo menos a minha). Eventualmente, você construirá um pequeno grupo que ficará com você em sua nave, ou seja, companions. Quando você tiver o suficiente, poderá escolher quem deve levar consigo e quem ficará para trás quando desembarcar num planeta em particular. Cada membro também recebe sua própria árvore de habilidades, com armas que você pode dar e retirar. Há alguns bugs da IA deles; quando você está em stealth, muitas vezes eles podem andar diretamente na frente do inimigo, apenas para não serem notados porque não podem vê-lo ativamente. Dificilmente um grande problema ou incômodo. Às vezes, eles podem interferir nas conversas que você tem, ocasionalmente ajudando a extrair mais informações ou fornecer uma visão extra sobre o Halcyon. Bugs também vem para o bem.
O que o The Outer Worlds não é, é um RPG de várias galáxias de 200 horas com centenas e centenas de missões, desbloqueios e ambientes para explorar. Mas não era esse o jogo que eu esperava, e fiquei bastante impressionada. Alguns podem clamar por um pouco mais de variedade ou mais missões em certos planetas, e eu entendo isso. A maneira como abordar e dosar expectativas, é que não é o “grande destruidor de Fallout” que tanto querem que seja, por vários motivos pessoais e corporativos, mas sim como um mundo charmoso e animado, com muito humor e atividades para mantê-lo ocupado por mais de 35 horas.
Nerd que formada em Cinema por razões cósmicas do universo. Também faz parte do site Tapioca Mecânica e adora dividir seus conhecimentos em cultura pop com tudo e todos. Só queria ter mais tempo para acompanhar tudo.