Hideo Kojima é considerado por muitos (eu incluso) como um dos deuses dos videogames. Os jogos que dirigiu sempre tinham um caráter mais voltado para a história e narrativa, buscando também um apreço artístico, aliado a isso, sempre foram um sucesso de vendas. Muito do pensamento de videogame como obra artística ainda sofre um certo preconceito, principalmente por conta das mentes conservadores que regem a teoria e história da arte, porém é certo afirmar que, assim como o cinema em seu início em 1895, a linguagem dos games se desenvolveu e se consolidou. Um dos nomes que surge como um expoente de um videogame como dispositivo artístico é justamente Kojima.
Seu último jogo antes de Death Stranding foi Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (2015). Um jogo longo, mas que conta com uma boa narrativa que infelizmente sofre com o ritmo devido às constantes missões paralelas que acabam se tornando obrigatórias para recrutamento de soldados e aquisições de materiais. Até então, seu melhor jogo havia sido Metal Gear Solid 3: Snake Eater (2004), um dos clássicos do PlayStation 2 e que seria o primeiro da saga cronologicamente falando. Importante essa digressão, justamente para mostrar que o forte nos jogos de Kojima é a narrativa e desenvolvimento de personagens.
Em Death Stranding (2019) o mundo sofreu um colapso. Logo no início do jogo temos um exemplo do que a chuva pode causar nas pessoas e objetos, além disso um mistério acerca do que aconteceu permanece durante várias horas de jogo, apenas sabemos que esse fenômeno tem o nome de Death Stranding. A missão do jogo é “simples”, nós temos que ligar novamente todas as cidades dos Estados Unidos. O lance está justamente em como vamos fazer isso e as infinitas maneiras que o jogo nos dá para resolvermos essas questões. O protagonista Sam “Porter” Bridges (Norman Reedus) é o responsável por fazer isso e caminhar muito para atingir seus objetivos. A gameplay é bastante similar ao Metal Gear V, mas aqui Kojima dá uma segurada tanto no stealth quanto na variedade do arsenal do jogo, o que faz total sentido em um mundo sem tantos recursos assim.
Diferentemente de seu antecessor, Death Stranding possui uma narrativa mais linear e com uma variedade de missões secundárias, além de nos dar a possibilidade de passar o jogo quase inteiro sem entrar em um confronto físico. Os gráficos são lindíssimos, lembrando da parceira da Kojima Productions e Guerrilla Games; a trilha sonora é lindíssima e imersiva. Death Standing sofre críticas de ter uma gameplay parada e sem muita inovação, mas isso faz total sentido dentro do jogo em que o mundo que conhecemos não existe mais. Kojima retrata isso de uma maneira tão fiel, que se realmente chegarmos a esse ponto no mundo real, ele se tornaria muito parecido com mundo de Death Stranding. Quem reclama disso, talvez não tenha jogado os games mais recentes do Kojima, pois muitos dos aspectos de seu jogo mais atual já estava presente em seus antecessores.
Death Stranding é um jogo imenso, cheio de possibilidades e riquíssimo em detalhes. É possível ir direto ao ponto ou explorar esse mundo criado por Kojima. A jornada solitária de seu protagonista Sam “Porter” Bridges permite uma imersão maior dentro do game, muitos outros perigos surgem e precisamos estar atentos até mesmo a uma simples pedra. Além de tudo isso, o jogo conta com uma das melhores histórias criadas por Hideo Kojima e que prende o jogador a cada detalhe e nova revelação. Certamente, jogar Death Stranding é uma experiência muito boa como jogador e melhor ainda como apreciador de uma boa obra de arte.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.