A Mostra PERCURSOS é uma ação de docentes e discentes do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem por objetivo dar visibilidade aos trabalhos cinematográficos produzidos pelos alunos do curso, além de estimular o diálogo entre esses jovens artistas e a sociedade. Chegando à sua nona edição em 2019, a Mostra PERCURSOS vem abrindo espaços de exibição e reflexão crítica sobre os rumos apontados pelas produções do curso de Cinema e Audiovisual da UFC.
Nesta edição, nós do Só Mais Uma Coisa, publicaremos uma resenha, escrita por alunos e ex-alunos do curso, para cada uma das sessões da Mostra, que acontece do dia 24 a 26 de outubro, no Cinema do Dragão, em Fortaleza.
Para mais informações acesse o site (www.percursos.ufc.br/2019) e as redes sociais da Mostra.
O horror é um gênero muito bem estabelecido, mas o mesmo ainda não recebe o devido crédito no mercado brasileiro. O gênero é o destaque na sessão de 18 horas do primeiro dia da Mostra Percursos. Não obrigatoriamente pelo terror em si mas sim pela atmosfera de horror presente nas obras que permeiam toda a sessão, recheada de histórias interessantes com este mesmo elemento.
Importante também ressaltar o quão significativo é uma sessão com elementos do gênero ser recheada de realizadores e realizadoras negros. A presença não é sentida apenas por trás das câmeras, mas também dentro dos filmes apresentados na sessão. Em pleno ano de 2019 é importante reconhecer a relevância de haverem realizadores negros universitários tendo oportunidade de contar suas próprias histórias e em especial se tratando desse gênero cinematográfico.
Filmes de horror costumam trazer enredos envolvendo a intrusão de uma força, evento ou personagem maligno no mundo cotidiano. Os filmes presentes na sessão podem seguir uma narrativa simples de filme de terror de forma surpreendente, subverter estereótipos presentes no gênero e brincar muito com a imaginação dos que assistem. É uma sessão bem diversa e não presente de muito do mesmo.
Jovens terminam parando na casa solitária de uma senhora cujo filho morreu recentemente e são alvos de estranhos e macabros acontecimento no curta Visita Maldita de Evaldo Santos e Robson Nascimento. A dupla trás uma história de terror capaz de capturar a atenção e sem se prolongar muito, possivelmente deixando as pessoas desejando por mais. A atuação presente no curta contribui muito para toda a construção de uma atmosfera de terror muito semelhante aos filmes clássicos do gênero. O filme já está disponível a alguns meses no YouTube, tendo sido capaz de capturar bem o público com seu enredo e seus personagens únicos.
Uma presença clara de uma atmosfera de mistério e um tanto macabra, Rodrigo vai até um festa esperando um simples encontro com uma moça mas recebe muito mais do que esperava. O enredo de Dança Àvida da Escuridão da realizadora Sunslly Marques, recheado de citações ou referências bíblicas trás uma figura única presente em qualquer mitologia – a Morte. Mais do que isso poderia estragar a história do filme, mas todo o contexto envolvido permite uma indagação sobre depressão, meritocracia, machismo e traumas. Destaque para as atuações de Paulo Sérgio e Glen Moraes, sendo capazes de transformar uma simples conversa em algo capaz de prender a atenção do público.
Mesmo se tratando de obras muito diferentes em nível de realização, de roteiro, de tudo, é necessário enaltecer realizadores dispostos a não apenas realizar mas também de se colocarem frente as câmeras.
Em Lilith é contada a história sobre uma figura da mitologia cristã, não muito conhecida como os anjos ou como Satanás. Ela é Lilith e sua trajetória é o foco dessa história, contada de forma criativa e inovadora usando de vários recursos para tornar a experiência interessante. A direção é de Willi Sales e Sunslly Marques, a segunda também é quem estrela a realização. O papel da edição na criação da experiência final de Lilith é bem clara e mais uma vez, o filme tem citações e relação direta ao cristianismo.
Outro realizador estrelando sua obra pode ser visto no filme seguinte à sessão, Inter Mortem é realizado e estrelado (entre algumas outras funções) por Natã Nunes. O curta trás figuras conhecidas em clássicos filmes de terror, os vampiros, mas não exatamente como normalmente são trazidos. Criaturas imortais, imorais e extremamente despreocupados com os perigos do Sol para suas peles. O enredo do filme é bem simples, mas o roteiro como todo é onde mora a inovação e a subversão do gênero. Importante ressaltar a presença de figuras únicas interpretando os vampiros conhecidos como ‘Estrias’, João Pedro Rabelo, Andressa Caetano e Mari Ellen. Essa mistura de graduandos do curso do teatro e do cinema garante toda a experiência divertida e imersiva do filme.
Para encerrar o primeiro dia, fechamos com chave de ouro, Devolva-me Para Marcele é um curta experimental, o questionamento é sobre para onde ir quando não se quer mais estar aqui. Não é apenas trabalho do roteiro, mas do filme como um todo de responder isso de forma única. O uso da montagem bem criativa e inovadora, dialogando com o uso de drogas da personagem principal, faz com que o filme se torne uma experiência inteiramente única. A forma como o filme permite-nos uma verdadeira viagem das mais diversas maneiras possíveis, com um belo trabalho de atuação, fotografia e sonoplastia. A montagem é a cereja em cima do bolo, completando uma obra completamente única e extremamente recomendada.
Por Eric Matheus Lima
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.