MOSTRA PERCURSOS: Sessão “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” (24/10 às 16h)

A Mostra PERCURSOS é uma ação de docentes e discentes do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem por objetivo dar visibilidade aos trabalhos cinematográficos produzidos pelos alunos do curso, além de estimular o diálogo entre esses jovens artistas e a sociedade. Chegando à sua nona edição em 2019, a Mostra PERCURSOS vem abrindo espaços de exibição e reflexão crítica sobre os rumos apontados pelas produções do curso de Cinema e Audiovisual da UFC.

Nesta edição, nós do Só Mais Uma Coisa, publicaremos uma resenha, escrita por alunos e ex-alunos do curso, para cada uma das sessões da Mostra, que acontece do dia 24 a 26 de outubro, no Cinema do Dragão, em Fortaleza.

Para mais informações acesse o site (www.percursos.ufc.br/2019) e as redes sociais da Mostra.


“A Flauta Mágica” de Levi Porto

A Flauta Mágica, de Levi S. Porto, abre a sessão. Sobre imagens de uma floresta invernal e uma incessante ventania, é projetada a fábula de um flautista que traz esperança aos detentos de uma prisão distópica por meio da música, em formato semelhante às diversas literaturas acessíveis por meio do YouTube e reminiscente dos intertítulos populares na era de ouro do “cinema mudo”, também utilizados em obras como Star Wars. A tela de fundo e os sons de ambiência crescem conforme o conto se desenrola, assumindo um papel único dentro da narrativa, o que cria um interessante conjunto audiovisual que joga com a sensação e a percepção do espectador.

A Caçada, com roteiro e direção de Nathan Ximenes, se mantém no campo temático de ficção científica; narrando a proximidade de um evento apocalíptico e como o protagonista, um assassino interpretado por Lailton Oliveira, lida com o contratempo de encontrar uma vítima viva. O curta-metragem utiliza muito bem a montagem em P&B e o silêncio, com exceção de um breve monólogo, como ferramentas para comunicar as intenções interrompidas do personagem: aproveitar a melancolia do fim do mundo no conforto e tranquilidade de sua casa, atmosfera calibrada pela assertiva trilha sonora de Castro Arnold.

“A Caçada” de Nathan Ximenes

LILAS, de Laís F. Oliveira, também apresenta um assassino, o “X” de Maxime Taupiac, mas, em contrapartida, é colorido e estrondoso, abrindo com a grandiloquente Sinfonia N° 9, de Beethoven. Acompanhamos o sádico jovem de classe-média preparar uma celebração de aniversário para sua mãe, o que inclui o uso inteligente de “Arma de Chekov”, que cria uma imagem fortíssima em relação ao destino da vítima de “X” ao final de uma sequência musical onírica com uma pitada de “Psicopata Americano”, que encerra o filme. O curta-metragem é co-roteirizado pela diretora com Lucas Souto e Allyson Levy.

Fechando a sessão, Processo 23, de Bia Domingues, é uma ficção científica action-packed escrita por Ray Freitas, que investe em um ritmo acelerado e montagem pontuada pela trilha sonora de Castro Arnold, Iago Filipi, Marina Porto e Sunslly Marques. Ininterrupto, o filme narra o encontro de três pessoas que são mantidas em cativeiro e as dinâmicas de poder que se alternam à medida em que os personagens desvendam mistérios, estabelecendo sua mitologia sem didatismo e entregando respostas sem comprometer a atmosfera construída.

“Processo 23” de Bia Domingues

Um elemento recorrente é o confinamento. A prisão em A Flauta Mágica se faz concreta também em imagem, enclausurada na visão fixa de árvores; o espaço da casa em A Caçada confina tanto o carcereiro quanto a vítima, em vista do acidente nuclear; o “X” de LILAS só escapa de sua rotina e de si próprio por meio do homicídio, enquanto os protagonistas de Processo 23 simplesmente não conseguem escapar; colocando em evidência a incerteza, a desesperança, o desespero, o instinto de sobrevivência e o medo no universo apresentado pela segunda sessão da Mostra Percursos.

Por Natã nunes