Bem. Esse título é, em parte, clickbait (óbvio) e em parte – uma grande parte – verdade. Não quero que você, leitor, pare tudo o que está fazendo e assista Dark, série alemã da Netflix que estreou em 2017 e hoje está em sua segunda temporada, tudo disponível na plataforma de streaming. Entretanto, acho que essa é, sim, uma série indispensável na sua watchlist e, por isso, listo cinco humildes razões para que, ao final desse texto, vossa senhoria sinta-se compelida a passar algumas horas de sua vida confabulando inúmeras teorias sobre o plot mais bem construído dos últimos tempos.
Antes de tudo, vale ressaltar que eu sou uma extrema entusiasta de ficção científica e viagens no tempo – além de ser uma fã e eterna aprendiz da língua alemã. Então, sim, parte dessas serão completamente parciais ao que já me interessa de fato. Porém, também sou muito exigente com esses assuntos, digo, para algo prender minha atenção dessa forma… Bem, esse algo precisa ser muito bom. Sem mais delongas, apresento-lhes a lista (sem spoilers!):
1 – NARRATIVA SEM FUROS
Uma coisa que me incomoda MUITO em séries/filmes que abordam viagens no tempo é que, por vezes, elas se confundem em suas próprias narrativas. Digo, não sou lá uma conhecedora das Ciências Exatas a ponto de saber com precisão o que seria uma boa narrativa a partir dos conceitos Físicos e Matemáticos. Não foi isso que estudei e honestamente não sei se me interessaria tanto assim. Entretanto, o que me interessa e o que vou fazer questão de saber é: me apresente as regras desse universo e seguiremos juntos a partir daí – seguindo essas regras previamente apresentadas. Dark faz isso com maestria, devo dizer. Se estamos confusos em entender para que lado vai o plot, é porque até mesmo os personagens estão confusos. Somos levados, enquanto espectadores, a confabular mil teorias sobre as questões abordadas e as descobrimos conforme descobrem os personagens. Isso, amigos, é uma boa narrativa. Os “furos” (ou o que pensamos ser furos) são explicados, mesmo que de forma sutil, mesmo que num relance, num olhar. Dark não subjuga seu espectador, a série sabe que somos seres pensantes e faz questão de nos apresentar conflitos que nos façam questionar a veracidade das motivações de cada personagem. A linha entre bem e mal é muito difusa e por vezes não sabemos para quem “torcer”. É complexidade ficcional que chama. No fim das contas, o conflito macro é muito mais relevante do que os micro-conflitos das personagens e, além disso, consegue ser essa teia de problemáticas que liga os interesses de todos ali.
2 – CASTING INCRÍVEL
O que me leva justamente ao fator casting. Dark não seria Dark se não fossem os atores, as personalidades envolvidas e também a delicadeza com que isso é tratado. Parte da trama está também em entender qual é o papel (literalmente) de cada pessoa ali. Nada é dado por acaso, então até nessas entrelinhas vemos pistas do grande mistério que ronda o plot. As atuações são incríveis e acredito que sim, isso é um fator de extrema importância. Digo, de que adiantaria uma série com narrativa incrível e atuações meia boca, que não conseguem carregar essa narrativa? Os atores, conhecidos ou não, conseguem fazer um ótimo trabalho em nos deixar, muitas vezes, em dúvida sobre suas motivações, ao mesmo tempo que os amamos e os odiamos também. Muitos sentimentos, né? Assim que é bom.
3 – CINEMATOGRAFIA PRA NINGUÉM BOTAR DEFEITO
Olha, o que me fez passar pelos momentos de silêncio absoluto, digo com tranquilidade, é o visual. THE LOOKS HENNY, THEY’RE EVERYTHING. Tanto a fotografia quanto a direção – na parte de decupagem – se utilizam de cenas muito certeiras em nos causar sensações diversas. Nem tudo está no que é falado – na realidade, pouco se fala, muito se sente. Seja no close de cada cílio de um personagem, ou no abraço apertado, ou mesmo nos planos abertíssimos passando pela cidade de Winden, onde se passa a história. Passeamos junto com a câmera, nos deleitamos em cada cena e, mesmo no silêncio, conseguimos apreciar a beleza e o cuidado. Mesmo que esse cuidado nos faça roer as unhas de nervoso. Sentimos o que os personagens sentem na boa escolha de luz, plano e tempo. E daí, cria-se um ritmo particular daquele universo – cujas regras são muito bem seguidas.
4 – SOM POR BEN FROST
Conhece esse nome? Bem, nem eu. Pelo menos não antes de vê-lo nos créditos como o cara responsável pela trilha sonora maravilhosa. Quem quiser que veja meus tuítes da época em que maratonei a série: ainda no segundo episódio eu já dizia que a trilha sonora me deixava ansiosa e metia medo – no melhor dos sentidos. É de fazer roer a unha mesmo. Com o tempo, já dentro desse universo, a gente se acostuma e o que poderia ser causador de ansiedade agora nos dá aquele boost na tensão. O melhor de tudo é saber que Ben Frost, esse cara aí doidão, faz uso de inúmeros sons conhecido por nós, reles mortais, pra criar ambientes de tensão, felicidade, suspense, confabulações e terror. Desde sussurros até grandes trombetas – ou o que eu acredito serem trombetas – constroem a atmosfera DARK da série.
5 – FOGE DO PADRÃO HOLLYWOODIANO DE SÉRIES
A série é alemã. Admito que esse foi um dos grandes motivos que me fez começar a assistir (já que eu não sabia nem do que se tratava). Mergulhei no desconhecido incentivada apenas pela chance de ter mais referências de cultura alemã na minha vida, pois comecei aulas recentemente e percebi o quão difícil seria aprender o idioma sem a vivência da língua – é verdade viu. De qualquer forma, fui surpreendida por um certo cuidado na hora de filmar, fazer, produzir tudo. É muito interessante sair da rota de séries que já conhecemos, aquele cheirinho de indústria que já estamos acostumados. E daí, cada episódio é como uma facada no coração – ou ainda, notamos aqueles que são apenas fillers e ficamos possessos porque como é que pode uma coisa dessas??? Bem, aqui o cuidado é outro, a narrativa não fica pra trás e todo episódio traz algo de novo – mesmo que sutilmente. São peças de um quebra-cabeça que por vezes é silencioso, lento, calmo. E, mesmo assim, não cessa em nos fazer dar pulinhos na cadeira. Eu mesma, em alguns momentos, me encontrei ansiosíssima, pensando nas “coisas que não acontecem”, ao passo em que TUDO o que acontece é inteiramente importante. Mesmo o silêncio, mesmo os gritos em alemão. É importante saber aproveitar ambos.
Bem, queridos. É isso. São essas as razões. Ainda adicionaria uma sexta, quase como uma menção honrosa, que é: Dark vai além do próprio universo, ou seja, é uma série que deixa as pessoas conversando sobre e criando várias teorias mirabolantes – ou não, já que tudo é possível. Qualquer criação artística que saia da sua mídia para a mesa do bar, para mim, já é um indicativo de que: ou é muito boa, ou é muito ruim. Depois dessa lista deu pra entender em qual delas Dark se encaixa, né? Espero que curtam e umbora menino liga aí a Netflix!
A 3ª e última temporada estreia só daqui a um ano, então dá tempo de ver e rever!
P.S.: Pra quem já assiste e gosta da série eu indico também seguirem o diretor/criador no Instagram (@baranboodar), ele faz um trabalho incrível com stills dos bastidores da série usando câmeras analógicas e procura seguir uma certa estética em cada temporada (a partir da segunda). É um estilo de fotografia documental muito bonita e nos dá ainda mais teorias para alimentar (eu amo).
Bacharel em Cinema e Audiovisual, fotógrafa e sagitariana por definição. Tay é viciada em dar close e em viajar. Escreve, desenha, edita e se deixar, atua também. Odeia aranhas, ama margaridas e abraços apertados.