Aos marinheiros de primeira viagem, o primeiro filme do Thor (2011), dirigido por Keneth Branagh, nos apresentou uma Asgard bem longe do que tínhamos nos quadrinhos. Mas bem, se aquela Asgard com um ar mais mágico e Shakesperiano era longe do esperado, os fãs não ficariam mais felizes com a imitação de Star Wars que se seguiu nas sequências. De todo modo, esse texto não é sobre a trilogia mais mal adaptada e bagunçada da Marvel – responsável por reduzir todos os personagens deste universo a piadas e os fazendo esquecíveis – é sobre a maior guerreira asgardiana – Lady Sif.
Jamie Alexander deu vida à Sif nas duas primeiras adaptações para o cinema de Thor, sendo mostrada como uma importante guerreira e aliada do deus do trovão – alcunha não muito merecida até o filme final da franquia. Comparando os demais personagens partes do Universo Cinematográfico da Marvel, Lady Sif foi a personagem a fazer maior número de aparições fora da telona. Isso mesmo, ela não estava presente apenas nos dois filmes do Thor, a personagem fez aparições também na primeira série derivada do Universo Cinematográfico da Marvel, Agentes da S.H.I.E.L.D (Agents of S.H.I.E.L.D., 2013 -)
Na série, a personagem não só teve maior chance de ser desenvolvida, mas também de mostrar o desenvolvimento e partes da mitologia asgardiana que infelizmente nunca tivemos chances de ver nos filmes. Junto de Sif, em uma de suas aparições na série, tivemos a presença de Lorelei (Elena Satine) – uma forte asgardiana com o poder de manipular e controlar homens (um poderzinho bem heteronormativo diga-se de passagem, porque deveríamos acreditar que a sociedade avançada e muito antiga asgardiana seria majoritariamente heterossexual). A personagem teve sempre seu lado de guerreira bem desenvolvido, com um pequeno romance mencionado quando Lorelei apareceu, pois a feiticeira asgardiana fora responsável pela morte do antigo amado de Sif.
Bem, foi até aí onde fomos. Havia uma promessa de retorno das duas, considerando que Lorelei foi levada de volta à Asgard a mando de ‘Odin’, que para todos que acompanhavam o universo nos cinemas havia o conhecimento de não se tratar verdadeiramente de Odin mas sim de Loki. Este enredo, bem como tudo apresentado num filme do Thor, foi abandonado e esquecido na sequência que seguiu. Não ouvimos falar de Sif na ‘conclusão’ da franquia. Isso termina sendo bom, pois se fosse dado a ela a mesma atenção dada a personagens como Os Três Guerreiros – extremamente importantes para a mitologia de Thor nos quadrinhos – ela provavelmente teria sido morta também como se não tivesse importância nenhuma para a narrativa.
Pelo menos a personagem fora representada como uma guerreira, como foi desenvolvida nos quadrinhos, e sem a parte onde ela é rival de Jane Foster (Natalie Portman) pelos afetos de Thor. Sinceramente se torna bem claro o quanto escritores de quadrinhos não sabia bem o que fazer com suas personagens femininas antigamente. Isso não quer dizer que eles saibam o que fazer com elas na atualidade, mas conseguem mascarar essa falta de criatividade melhor.
Vamos falar sobre a origem da personagem nos quadrinhos? Sif é irmã de Heimdall – o guardião de Bifrost, a ponte arco-íris. Isso mesmo, a Lady Sif é, em teoria, irmã do Idris Elba – o único asgardiano negro durante dois filmes. As mulheres asgardianas nos quadrinhos eram todas loiras, Sif tinha o cabelo preto como resultado de um dos truques de Loki que arrancou os seus fios loiros de cabelo quando eram ainda jovens. O cabelo que vemos é, na verdade, cabelo encantado por anões colocados na cabeça da asgardiana por Loki. Em suas primeiras aparições, Sif era na verdade irmã de Balder – irmão de Thor e Loki nos quadrinhos que não é nem visto nem mencionado nos filmes, assim como a maioria da mitologia do herói – mas no fim das contas ela se tornou a irmã do Heimdall mesmo.
Thor e Sif mantinham uma relação antes dele ser banido para a Terra e ter se apaixonado por Jane Foster. Embora nos filmes haja um flerte com esse possível romance a personagem de Jamie Alexander é exclusivamente uma aliada de Thor e tida como uma das melhores guerreiras de Asgard. Sif e Jane por um tempo ocupam o mesmo corpo nos quadrinhos, assim como o deus do trovão fazia com o Doutor Donald Blake. Lady Sif também se relacionou com outros portadores do Mjionir, como o alien meio cavalo Bill Raio Beta e o mortal Erik Masterson. Infelizmente, nunca houve nenhum romance entre a mesma e a última Thor – Jane Foster, mas há esperança considerando o histórico de Sif.
Nos quadrinhos, Sif termina sendo morta durante o Ragnarok pelas forças de Surtur – o demônio mostrado no filme de Taika Waititi. Bem, todos terminam morrendo no evento chamado Ragnarok, pois o evento não marca o final de Asgard, mas a destruição de tudo, assim como o recomeço de tudo. Infelizmente o filme da Marvel Studios torna o evento apocalíptico numa simples luta entre um gigante demônio de fogo e a deusa da morte – que vem a morrer. Os problemas maiores da franquia de Thor nos cinemas é exatamente não saber o que esses personagens são, se são deuses ou aliens, e como representá-los da melhor forma.
A personagem Sif termina sofrendo muito com o fato de que os personagens que cercam a mitologia do Thor não encontraram seu local e nem sua representação dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. No final, ela é totalmente ignorada até não ser sequer mencionada no terceiro filme inteiro. Da mesma forma, os diretores de Guerra Infinita disseram que a personagem sumiu após o estalo de Thanos. Isso torna as coisas ainda mais tristes, Jamie Alexander sempre pareceu ser uma atriz muito envolvida com a personagem, disponível para diversas aparições e também preocupada com suas pesquisas sobre a personagem. Assim como outros asgardianos – especialmente asgardianas nem sequer mencionadas na trilogia – Sif foi muito mal tratada pela narrativa optada pelo UCM. Nenhuma novidade até aqui.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.