Durante as últimas semanas venho me perguntando o que eu espero de The Walking Dead, quais minhas expectativas pessoais para o desenvolvimento da série, onde eu vejo os personagem chegando etc, e percebi que na verdade não espero nada. Isso me levou a seguinte pergunta: vale a pena continuar escrevendo (e consequentemente assistindo) sobre uma narrativa que não me emociona mais? Vale a pena continuar esperando um final, que provavelmente não virá tão cedo, enquanto me frusto semana após semana com episódios que, vamos ser sinceros, são medíocres e não levam a lugar nenhum?
Esse questionamento me assustou. Não me leve a mal, eu não sou uma pessoa que desiste fácil de séries, inclusive já cheguei a me chatear com alguns cancelamentos (alô, Heroes) quando eu acreditava que ainda havia algo para ser salvo ali. E até mesmo as séries que eu desisti de acompanhar (tipo Arrow, que terá sua series finale ainda esse ano) nunca receberam a mesma negatividade da minha parte que The Walking Dead vem recebendo. O que eu quero dizer é que essa é a primeira vez em que eu ativamente torço para que uma série seja cancelada. E isso machuca um pouco, principalmente porque The Walking Dead tem um lugar especial no meu coração por razões pessoais, e eu genuinamente acreditei nessa narrativa e cresci junto com os personagens. Só que agora eu só quero que acabe. Talvez só abrir mão da série seja o que a gente precisa fazer. Só abrir mão. Por que sinceramente, se não fossem essas resenhas semanais, eu não acho que ainda estaria acompanhando TWD. Provavelmente só esperaria a temporada acabar e assistiria tudo de uma vez, vivendo todos os estresses juntos.
Não existe anseio semanal, não existe empolgação. Enquanto eu baixo o episódio eu já logo penso em todas as coisas que podem dar errado e tudo de ruim que eu vou precisar colocar no meu texto. E isso é significantemente triste. E honestamente, eu me pergunto se sou a única que se sente assim. Vocês que leem essas resenhas, o que esperam dessa série? O que sentem por ela? Existe uma luz no fim do túnel que eu não estou conseguindo ver? Enquanto essas perguntas não se respondem, eu sigo escrevendo resenhas negativas porque, bom, essa é a nossa realidade. Não me agrada fazer isso, mas preciso escrever o que sinto, e o que sinto é que: tá péssimo.
Pegue por exemplo o Henry (Matt Lintz): no episódio dessa semana, intitulado Chokepoint (Gargalo), Henry continua dando um show de burrice no seu relacionamento com a personagem de Lydia (Cassady McClincy). Ambos são o ápice do jovem adolescente, mas Henry consegue ter os piores diálogos possíveis do seriado, em consequência, as piores ações possíveis. Faz sentido que Lydia, tendo crescido num lar abusivo e manipulador, se apegue rápido à pessoas que demonstram carinho por ela, até mesmo como forma de autoproteção. Não faz sentido que Henry, um menino que teve tudo do bom e do melhor (a partir de certa idade, claro), tendo crescido literalmente príncipe do Reino, esteja disposto a jogar tudo fora por alguém que ele mal conhece. Todas as decisões tomadas por ele desde a cela em Hilltop não podem ser explicadas apenas por tesão, ninguém quer tanto uma namorada assim, e então Henry segue sendo um personagem fraco que não convence com suas motivações e que irrita o espectador cada vez que comete um erro juvenil.
O episódio também foca bastante na dinâmica entre Connie (Lauren Ridloff) e Daryl (Norman Reedus), que na minha opinião funciona, mas eu gostaria de ter visto mais dos dois, e menos do drama adolescente no qual eles agora também fazem parte. Teria sido interessante desenvolver mais pausadamente essa parceria, colocando em pauta os diferentes pontos de vista de cada um, explicando melhor a necessidade que Connie sentiu em trazer Lydia de volta, e por que Daryl é tão contra isso. O episódio passa rápido por essas questões, e até temos uma cena em que ambos escrevem no caderno de Connie para melhor compreensão do que estão querendo dizer, mas eu gostaria que tivesse sido mais longo, talvez porque fazia tempo que não via uma dinâmica bem desenvolvida e interessante em tela.
O personagem de Beta (Ryan Hurst) assume um pouco mais de protagonismo no episódio durante a busca por Lydia, e podemos entender melhor a dinâmica dos Sussurradores com os zumbis. Existe uma espécie de “sagrado” entre eles, que se referem aos zumbis como “Guardiões” e de fato vivem em harmonia com os mortos vivos. Esse vislumbre ainda maior da mentalidade do grupo pode deixar implícito uma série de conflitos a serem trabalhados no desenrolar da narrativa, assim como o interesse pela história de Beta, que com certeza continuará sendo um personagem de destaque. Pensando mais a frente aqui, é possível que talvez vejamos algum tipo de troca entre Daryl e Beta, ou até mesmo Michonne (Danai Gurira) e Beta mais pra frente, já que mesmo sendo o braço direito de Alfa (Samantha Morton) ele se mostra muito mais compassivo do que a líder.
O décimo terceiro episódio também explica o significado dos símbolos vermelhos pichados nas ruas que andamos vendo há alguns episódios atrás. São o indicativo de um novo grupo, os Salteadores, que acabam entrando em conflito com o Reino pelo uso das estradas que levam as outras comunidades até a feira. Com um desenrolar tedioso e previsível, os Salteadores acabam trabalhando para o Reino na proteção das estradas e são convidados a participarem da feira também, chocando um total de zero pessoas e acrescentando mais dinâmica entre personagens que provavelmente serão mal desenvolvidos ou aparecerão apenas para morrer. Entretanto, o casal de idosos Earl (John Finn) e Tammy (Brett Butler) ganham mais destaque no episódio, mostrando que podem sim se defender e também proteger o bebê que carregam consigo (eles acabam adotando o bebê dos Sussurradores). Essa dinâmica acrescenta pouco para o desenrolar da narrativa, mas desde a morte do seu filho Kenneth o casal vem brilhando pouco a pouco em tela, e creio que o público venha a se afeiçoar por eles da mesma forma que eu estou me afeiçoando. Só espero que isso não seja mais uma isca para depois sentirmos a morte de um personagem com mais intensidade.
No fim das contas, o episódio nem surpreende e nem decepciona. Após tudo que já aconteceu até agora, um episódio morno como “Gargalo” só nos deixa naquele limbo de “será que semana que vem vai ser melhor”? Meu palpite é que: não. Mas seguirei assistindo porque já chegamos até aqui, não é mesmo? Quem sabe existe sim um salvamento e talvez eu só não consiga vê-lo chegando. De qualquer forma, seguirei assistindo, escrevendo, e também torcendo para que The Walking Dead não se torne maior motivo de piada do que já é.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.