Já é de conhecimento de todos que acompanharam a série até aqui (parabéns guerreiros) que as temporadas – pelo menos as quatro últimas – têm o péssimo costume de enrolarem com episódios de mornos a ruins e deixarem todos os grandes acontecimentos para os dois últimos, na intenção talvez de levantarem o ânimo da enfadada audiência que a cada dia deseja que a série não desande ainda mais, para usar de um eufemismo. E se ainda estou aqui, a duras penas, escrevendo essa resenha e acompanhando o nono ano da série é porque, querendo ou não, isso parece ter funcionado. Mas até quando? O episódio do último domingo (24/03), intitulado The Calm Before (A Calma Antes), em alusão à famosa expressão que não preciso citar aqui, e que será completa com o título do próximo e último capítulo da temporada, repete esta fórmula e nos trás um empolgante desenrolar de alguns acontecimentos que nos foram lentamente apresentados durante os últimos sete episódios.
Enfim chegamos ao aguardado dia da Feira, o evento para o qual estamos sendo preparados desde o retorno desta nona temporada de The Walking Dead apos o hiato com o episódio Adaptação (S09E09). Disposto a nos emocionar desde o início já temos logo de cara o discurso de abertura do evento pelo Rei Ezekiel (Khary Payton) evocando a memória e as ideologias de Rick e Carl Grimes, além do recém falecido Jesus, frisando a necessidade da união entre as quatro comunidades para a permanência delas, resumindo em algumas palavras toda sua determinação durante os últimos episódios para que a Feira acontecesse.
Logo depois o comovente reencontro do príncipe Henry (Matt Lintz) com seus pais, Carol (Melissa McBride) e Ezekiel, além da surpresa de todos ao ver que Michonne (Danai Gurira) veio ao evento, acompanhada de sua filha, Judith (Cailey Fleming), a quem os líderes do Reino não viam desde que esta era apenas uma bebê. Mas o grupo trouxe também Lydia (Cassady McClincy), um risco que decidiram arcar já que a garota é o motivo que principiou as desavenças com os atuais vilões da série, os Sussurradores. A presença da garota fomenta então um outro motivo para a criação da Feira, um pacto de ajuda e proteção mútua entre as comunidades, com a simbólica cena da assinatura dos líderes de cada uma delas no grande documento escrito por Michonne anos antes, e a criação de um grupo de apoio à Hilltop, que possivelmente será a primeira a ser atacada pelo grupo liderado por Alpha (Samantha Morton).
Por falar nela, a sequência de abertura do episódio tem, entre outras, a função de deixar ainda mais clara a frieza da nova vilã ao assassinar um casal apenas para colocar em prática seu plano de se infiltrar no evento ela mesma, fazer um reconhecimento e uma última tentativa de contato com Lydia, que se mostra aparentemente como a única fraqueza de Alpha. No entanto o fato de se colocar em risco entrando em contato direto com seus antagonistas, conversando inclusive com Ezequiel, apenas mostra como Alpha é realmente a vilã mais perigosa que a série já viu na minha opinião, com uma capacidade de dissimulação e estratégica invejáveis, nos fazendo até mesmo acreditar que o fato de ter deixado Carol, Yumiko (Eleanor Matsuura), Michonne e Daryl (Norman Reedus) vivos tem alguma intenção por trás e não tenha sido apenas para temermos pelas vidas de alguns dos personagens mais queridos e importantes da série (mas desconfio que tenha sido apenas para isto mesmo, sei lá).
E finalmente os Sussurradores mostraram que são uma ameaça real, tendo para isto que matar e exibir da maneira mais dramática possível alguns habitantes das comunidades, alguns deles menos importantes e outros que claramente foram escolhidos a dedo para chocarem o público, como Tara (Alanna Masterson), Enid (Katelyn Nacon) e Henry, que já vinha se preparando para morrer a bastante tempo. Todos os personagens que tiveram suas cabeças cortadas e enfiadas em estacas que demarcam o território dos Sussurradores, tiveram algum enfoque durante o episódio, tanto para nos mostrar um pouco mais dos que conhecíamos menos, como o núcleo adolescente e os Salteadores, como para causar maior comoção, como a preocupação de Tara em se mostrar uma grande líder para Hilltop ou a relação bonitinha de Enid e Alden (Callan McAuliffe). E, é claro, as várias pessoas que se importavam com Henry e que terão sede de vingança por sua vida, inclusive Lydia, que após vários episódios nos fazendo duvidar de sua lealdade e de seus sentimentos pelo garoto, deixou clara suas intenções ao negar o resgate de sua mãe.
Este provavelmente será o melhor episódio desta segunda metade da temporada, como já é costume com penúltimos episódios, pois se a tradição se manter, no último teremos uma grande batalha (talvez com um ou outra perda importante), mas que definitivamente não porá fim à guerra com os novos vilões, ficando isso para as próximas temporadas (medo de usar o plural aqui, mas enfim). O fato é que eu, pessoalmente, gosto quando uma série se arrisca em criar o caos e desestabilizar os núcleos, coisa que The Walking Dead raríssimas vezes faz, mas a menor pista de que algo assim possa acontecer já me deixa um pouco mais animado. Ou talvez seja mesmo o desejo de que a série acabe o mais brevemente possível e a morte de personagens importantes seja um prelúdio para isso. Mas duvido.
PS: Não vou perder tempo falando mais uma vez do plot ridículo envolvendo Eugene (Josh McDermitt) e Rosita (Christian Serratos). É isto.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.