Recentemente a Netflix lançou uma nova série de animação que causou um alvoroço na galera. Trata-se de Love, Death & Robots, uma criação de Tim Miller. A série, que definitivamente não é para crianças (fica aí o aviso), é uma antologia, ou seja, cada episódio conta uma história diferente. Além das histórias, as técnicas de animação utilizadas também variam, pois os episódios foram realizados por equipes diferentes de vários países.
Love, Death & Robots é uma série de cyberpunk, um subgênero da ficção científica, que tem como foco o “High tech, low life” (“alta tecnologia e baixa qualidade de vida”). Podemos dizer que essa produção é o Norvana do audiovisual, pois uniu todas as tribos: amantes de animação, de games, fãs de quadrinhos e de ficção científica. As tramas dos episódios são recheadas de distopias, utopias, reflexões filosóficas e claro, muita tecnologia. As dezoito histórias se desenvolvem entre os gêneros de ação, aventura, fantasia, comédia e terror. Como nenhuma das narrativas tem conexão entre si, essas diferenças são muito convidativas, pois você passa por experiências diversas enquanto assiste. Quando um episódio termina, você já quer ir para o próximo para saber o que vai encontrar dessa vez.
Os episódios são curtos, variando entre 5 e 15 minutos, o que enriquece ainda mais a experiência, pois você passa tanto por histórias bem simples e divertidas, como por tramas mais complexas e envolventes, tudo isso em um pequeno espaço de tempo. Basicamente você assiste a 18 curtas-metragens.
Assim como em qualquer produção seriada, alguns episódios são bem interessantes e outros nem tanto. Meus destaques positivos vão para “Zima Blue”, “As Vantagens de Sonnie” e “Os Três Robôs”. O primeiro tem uma pegada mais reflexiva e tocante sobre a questão da existência. O segundo resume bem a essência da série: amor, morte e robôs. Não preciso dizer mais nada. E o terceiro já é mais cômico por conta dos três robôs divertidíssimos, mas também provoca algumas reflexões sobre a humanidade.
Na minha opinião, os episódios “Quando o Iogurte Assumiu o Controle” e “A Era do Gelo” deixaram um pouco a desejar. O primeiro é bem nonsense, o que eu até gosto, mas é uma narrativa muito rasa e, ao meu ver, se distancia um pouco da proposta da série. Já o segundo é só sem sal mesmo. Talvez por ser o único que seja em live action.
A animação é um show à parte, do 2D ao photo-real 3D em CGI. O visual de muitos episódios lembra a estética de animação dos games. Em alguns casos o CGI é tão perfeito que você realmente se pergunta se aquilo é animação ou é real, como acontece no episódio “Lucky 13”, em que a personagem Tenente Colby tem a fisionomia e a voz da atriz Samira Wiley. A animação é tão rica nos detalhes que nos primeiros minutos você jura que é a atriz de verdade ali. Nos episódios de 2D você encontra alguns com os traços mais suaves e outros bem marcados. O uso das cores ao longo da série é muito bem feito, combinando com a temática de cada história. Destaque para o vermelho, preto, azul e roxo, com suas variações, que normalmente aparecem no gênero cyberpunk.
E algo que não só eu, mas muitas pessoas pensaram ao assistir Love, Death & Robots, foi a semelhança com outra produção já bem conhecida: Black Mirror (2011-). Não é preciso muito para entender o porquê dessa relação. As duas séries são antologias que exploram a ficção científica e trazem, em suas histórias, distopias, reflexões sobre existência e a humanidade, temáticas emocionantes e surpreendentes, e a presença da tecnologia, obviamente. A própria Netflix Brasil fez um tweet falando sobre a semelhança entre as séries. Também é possível fazer relação com Westworld (2016-) que vai fundo nessa temática de robôs e traz fortes reflexões sobre a humanidade.
Um detalhe curioso é o fato de que em Love, Death & Robots, a Netflix testou uma nova forma de apresentar os episódios. Foram feitas quatro diferentes ordens de episódios para os espectadores, ou seja, o episódio 5 que você viu pode não ser o mesmo visto pelo seu amigo. Como não há ligação entre as histórias, esse sistema funciona sem nenhum prejuízo para quem assiste. Isso provavelmente é uma tentativa da empresa de personalizar a maneira de oferecer conteúdos aos clientes.
Então, depois de tudo isso, recomendo que vocês assistam Love, Death & Robots. É uma experiência muito boa, além de ser uma excelente produção. Foi uma aposta ousada da Netflix, mas muito certeira. Uma animação para o público mais velho, com temáticas e estéticas bem interessantes. E fica a torcida para que sejam feitas mais produções nesse estilo, investindo no uso da animação com uma proposta diferente e inovadora.
Formada em Cinema e Audiovisual Carlini, ou “Carolcol” para os íntimos, é animadora, roteirista e dona das melhores tiradas no site Twitter. Por fora parece a Docinho mas por dentro é a Lindinha das Meninas Super Poderosas, inclusive no tamanho. Carol é a única pessoa do mundo que nunca viu Dragon Ball e não entende quem não acha graça no Último Programa do Mundo.