Duas Rainhas – Uma Coroa

 

Duas Rainhas (Mary Queen of Scots, 2018) é um filme de época dirigido por Josie Rouke, já conhecida pelo seu trabalho como produtora e diretora de teatro, e tem como seu primeiro trabalho na direção de cinema esse longa histórico. A trama do enredo se passa no século XVI no Reino Unido e tem como fio principal a sucessão pelo trono da Inglaterra, de um lado a Rainha Mary (Saoirse Ronan), católica, do outro, Elizabeth (Margot Robbie), protestante.

 

O filme apresenta algumas adaptações históricas para ser contado, nada que prejudique a experiência cinematográfica, mas fica para registro que alguns eventos e ações ocorrem fora da ordem ou sequer existiram. Isso não é um problema, já que o filme é apenas um filme e não propriamente a História. Portanto, esses elementos não devem pesar para um suposto entendimento da narrativa. O filme tem início com uma cartela que explica ao público quem são suas personagens e a primeira cena é um flashforward do que irá acontecer no final do filme. Embora seja um recurso recorrente em filmes históricos, faz-se necessária uma reflexão sobre o uso ou não da cartela explicativa. De uma maneira geral (e o filme se encaixa aqui) ela torna-se apenas uma ferramenta de repetição da ideia principal, podendo ser facilmente descartada sem perda alguma para o filme.

 

 

O que chama mais atenção logo de cara é o design de produção e maquiagem, este último tendo recebido uma indicação ao Oscar deste ano. É realmente tudo muito bonito e muito vistoso, os detalhes são primorosos e realmente é um prazer ver na tela um filme com tamanho zelo. As atuações de Saoirse Ronan e Margot Robbie são um caso à parte. Elas carregam o filme nas costas, apresentam-se de uma forma bastante segura e humana, é muito bom ver esse tipo de atuação e o espaço que elas receberam, tudo isso, é claro, aliada a direção de Josie Rouke.

 

O filme apresenta algumas inconsistências. O roteiro apesar de trabalhar bem a ambientação e as questões históricas não apresenta um desenvolvimento de personagem. A dualidade “bem e mal” está constantemente no filme, mas muito bem representadas. A personagem de Saoirse, é envolta em uma aura quase divina, benevolente e bondosa, enquanto a Elizabeth de Margot Robbie é apresentada como uma pessoa dura e que tenta enganar Mary boa parte do filme. Essa aura em volta de Mary a transforma em uma personagem inverossímil, é quase impossível alguém ser tão bondosa. Acredito que um desenvolvimento melhor da personagem e talvez mostrar algum dilema dela, algo talvez na esfera moral, pudesse acrescentar ainda mais ao filme. Outro ponto que prejudica um pouco a experiência é a montagem, muita das vezes alguns planos não encaixam, algumas cenas parecem que foram gravadas com outra decupagem e na hora da montagem não existiu esse encaixe, não foi durante todo o filme, mas aconteceu umas três ou quatro vezes, o ritmo do filme também é lento, as coisas demoram muito para acontecer, mas não sei se foi proposital ou algum problema da edição, portanto não vejo como algo necessariamente ruim. O grande problema da montagem está na passagem de tempo, as elipses temporais não bem executadas, não há indícios e diversas vezes ao longo do filme (que foram cerca de 25 anos na narrativa) torna-se impossível saber quando o tempo se passou.

 

Duas Rainhas apresenta uma história que já foi contada diversas vezes ao longo do tempo, tanto no cinema quanto na literatura. Seja por ser um tema interessante ou uma peça importante dentro da História do Reino Unido. A versão de Josie Rourke tenta apresentar um novo olhar sobre os fatos e traz consigo uma experiência visual cativante e atuações acima da média de suas duas protagonistas.