Em mais uma aventura semanal, acompanhamos a nossa Patrulha do Destino enquanto eles investigam quem é o Senhor Ninguém. Bem, para alguém chamado Ninguém não foi tão difícil descobrir quem ele era ou de onde vieram seus poderes. No episódio dessa semana a equipe mais uma vez é dividida pelo acaso da situação e enquanto Rita Farr (April Bowlby) e Victor Stone (Joivan Wade) estão presos num hotel lidando com suas frustrações e seus próprios demônios os demais enfrentam uma marionete nazista.
Afinal, todos os nazistas são marionetes, mas este em particular é o mesmo cientista visto no primeiro episódio quando Eric Morden (Alan Tudyk) busca por seus poderes. Aqui descobrimos que o nazista – Von Fuchs, interpretado por Julian Richings – não só deu os poderes para Morden mas possui sua própria fábrica de super poderes. É como um parque turístico com um nazista cheio de marionetes brancas e muitas aberrações.
Mais uma vez o episódio consegue ir em todos os lugares sem parecer confuso ou desnecessário. Os momentos pulam de uma comédia para um drama gay nos anos 50 para uma brutal cena de luta e acabam numa fábrica de horrores. A forma como a série consegue fazer uma mistura tão diversa de gêneros e fazer cada um deles funcionar é realmente magnífica e algo que nem qualquer série consegue obter êxito.
Os personagens são mais uma vez essências para conseguir fazer isso funcionar, pois são as situações nas quais estes são colocados que criam todo esse clima divertido e cativante da série. É interessante ver semanalmente as diferentes ‘equipes’ formadas porque podemos ver os personagens interagindo com os demais e notar que cada interação é única de sua própria forma.
Uma das discussões mais interessantes levantadas sobre esse episódio pode ser bem embasada na frase escrita por Jane (Diane Guerrero) na janela do avião ‘Controle é uma arma para fascistas’. Estamos falando de uma série onde todos os personagens tem habilidades que os comandam, e não o oposto. Um fator interessante sobre essa equipe é como nenhum deles é de fato um herói, salvo por Ciborgue, mas eles foram colocados nessa posição onde são forçados a agir como tais por um bem maior. Nesse caso, salvar o Chefe (Timothy Dalton).
O ensinamento que podemos tirar desse episódio é exatamente sobre o confronto da equipe com o fascismo. O próprio episódio se inicia com Jane lidando com toda uma vizinhança revoltada, proferindo gritos ofensivos sobre como os personagens devem ir embora e ninguém os quer aqui. Toda a narrativa do episódio é pautada na luta contra o fascismo, a luta contra o sistema que deseja por impor o que é certo ou permitido. É sobre isso a frase de Jane na janela do avião, tudo aquilo que deseja por controlar é fascismo. É de extrema importância haver um confronto direto de uma personagem latina com um nazista no mesmo episódio onde é contada a história dramática de personagem LGBT. Uma ótima metáfora é sobre como todos aqueles trabalhadores de Von Fuchs são na verdade suas marionetes, assim como os fascistas também podem ser interpretados como tais.
Embora não tenhamos sido apresentados nenhum flashback da personagem de Diane Guerrero, pudemos ter um relance sobre como Jane lida com o fato de existirem tantas personalidades dentro de seu corpo e como a convivência entre elas é pacífica. Não é como se ela controlasse nenhuma outra das personalidades ou o oposto disso. Ninguém é controlado por ninguém e talvez seja esse o segredo por trás dos problemas enfrentados pelo Larry Trainor – o Homem Negativo – no presente.
Temos aqui a continuação da empreitada de Trainor – interpretado por Matt Bomer e Matthew Zuk – é sobre como ele lida com esse espírito negativo que habita o seu corpo. Os dois terminaram o último episódio estabelecendo algum tipo de conexão após o espírito negativo ser responsável pelo resgate da equipe dos pesadelos criados pelo Sr. Ninguém. Aqui podemos estabelecer uma conexão clara entre o estado atual do Homem Negativo e os dramas enfrentados por Trainor antes do encontro com o espírito negativo.
Afinal, uma das melhores transições e narrativas desse episódio é sua forma única de contar sobre o drama desse piloto dos anos 50 que possui uma família mas vive um romance com um de seus colegas. Nenhuma série de heróis da modernidade já foi capaz de contar uma narrativa sobre um homem gay (ou bi) de forma tão delicada e cuidadosa. Trainor tinha seus objetivos e seus desejos para o futuro e sabia que como um homem gay ele não teria como atingí-los, o colocando em conflito com seu namorado John Bowers (Kyle Clements).
O ponto mais alto sobre a história de Larry é como sua esposa e mãe de seus filhos, Sheryl Trainor (Julie McNiven), é uma personagem profunda. Normalmente quando se trata de histórias sobre homens gays em casamentos se tende a vilanizar suas companheiras mas a série fez algo muito diferente disso. A atriz Julie McNiven é capaz de dar vida à essa personagem e trazer os dramas e profundidade dela a tona de forma única.
Um outro ponto vai pela série possuir o personagem LGBT sendo interpretado por um ator gay. Posicionar-se sobre o fato pode causar muita polêmica então é preferível apenas afirmar que é bom ter um ator tão talentoso ganhando crédito por um personagem cujos obstáculos podem ser minimamente compreendidos por ele.
Para aqueles se perguntando quem é o turista presente no episódio interpretado por Alec Mapa, sugiro pesquisarem a primeira edição de Patrulha do Destino ou o nome Homem Animal-Vegetal-Mineral no Google.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.