O ano era 1964, a câmera mostrava os créditos iniciais na tela enquanto passeava pelo céu de Londres que pareciam pinturas de tão belos até chegar a uma nuvem em específico onde se encontrava uma figura peculiar, seu nome, Mary Poppins. A partir daquele momento o clássico Disney protagonizado por Julie Andrews e Dick Van Dyke entraria para história como um dos fenômenos musicais mais respeitáveis e adorados de todos os tempos, arrebatando multidões e ainda levando cinco Oscars ,incluindo melhor atriz para Andrews, no processo.
Corta para 2019, precisamente 54 anos depois do lançamento do original, a Disney resolveu fazer uma sequência direta para atrair toda uma nova geração para o mundo de Mary Poppins. Sai Julie Andrews, entra a talentosa Emily Blunt no papel da babá excêntrica tendo a responsabilidade de carregar um legado enorme nesta sequência chamada de O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, 2018).
Esta nova versão foi dirigida por Rob Marshall, de Chicago (2002), Nine (2009) e Caminhos da Floresta ( Into the Woods, 2014), um veterano do cinema acostumado com musicais e talvez o nome mais seguro para cuidar de uma produção como esta. As palavras de ordem aqui são: respeito e nostalgia, o roteiro escrito por David Magee é simples e em vários aspectos clichê, pois estabelece a conexão com o passado trazendo personagens conhecidos de volta e se aproveita de pequenos detalhes que remetem a memória afetiva de quem viu o longa original, para assim focar nesta nova aventura que acontece décadas depois da primeira visita da babá.
Em um breve resumo, a história se passa em Londres durante a Grande Depressão, mais uma vez em tempos difíceis, Mary Poppins desce das nuvens novamente para ajudar os, agora adultos, Michael (Ben Whishaw) e Jane Banks (Emily Mortimer) a superarem seus problemas, após uma perda na família. Com ajuda de seu amigo Jack (Lin-Manuel Miranda) e tendo que cuidar das crianças de Michael, Mary Poppins precisa recapturar o otimismo e a alegria e trazer a magia de volta a família.
Com essa premissa o longa tenta dar um ar de novidade, a produção em si é impecável neste aspecto, ao contrário do longa original que parecia bem mais teatral e com cenários bem mais estáticos, este mostra uma Londres mais sombria, poluída e escura, mas que vai ganhando cores a medida que Mary Poppins se faz presente. Ainda que o roteiro se apoie muito em alguns aspectos que fizeram o primeiro (tem seguimentos musicais que são realmente semelhantes) um fenômeno, acredito que em outros aspectos esta sequência ganha créditos por trazer algumas qualidades particulares.
E falando nesses aspectos positivos, posso citar aqui o primeiro grande destaque, Emily Blunt. Sua Mary Poppins é única, assim como Julie Andrews trás uma versão só sua, Blunt consegue fazer uma babá carismática, sisuda, sarcástica e esperta só dela, a atriz domina a personagem de tal forma que é impossível saber como uma atuação dessa não foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
Se por um lado Emily Blunt dá show, por outro lado o resto do elenco não faz feio, Lin-Manuel Miranda é um fenômeno, porém seu Jack é apenas um personagem comum, que só se destaca nas partes musicais, mas falta um pouco mais de carisma no nível de Dick Van Dyke do original para você realmente se importar com o personagem. Emily Mortimer como Jane tem um papel interessante, mas que poderia ser melhor explorado, ainda mais por fazer uma referência a personagem de sua mãe, ambas com um forte senso de luta pelos direitos civis, mas que infelizmente foram esquecidas pelo roteiro de ambos os filmes.
Ainda sobre o elenco, temos participações discretas de Julie Walters, Meryl Streep, Colin Firth e do próprio Dick Van Dyke, sobre Ben Whishaw, acredito que o ator convence como Michael nas partes dramáticas e seu arco no filme é bom, principalmente quando isto resulta numa interação com os filhos. Uma das minhas reclamações do filme de 1964 era o fato das crianças serem bem engessadas atuando, aqui no Retorno de Mary Poppins não temos esse problema, os atores mirins que fazem Anabel (Pixie Davies), John (Nathanael Saleh) e Georgie (Joel Dawson) são uns poços de carisma, são crianças com personalidades próprias e só crescem durante a narrativa, ainda mais interagindo com Mary Poppins, aliás, o quarteto é um dos pontos fortes que não deixam o filme cair de ritmo.
Como todo musical, o excesso de música costuma cansar, mas O Retorno de Mary Poppins consegue intercalar bem os dramas da família Banks, as aventuras das crianças com Mary Poppins e as diversas performances musicais deixando o ritmo menos cansativo e mais ágil. Todos os seguimentos musicais são ótimos e vibrantes, porém o destaque vão mesmo para as canções: “A Cover Is Not The Book”, “Trip Little Light Fantastic” e a ótima “The Place Where Lost Things Go”, impossível não tentar cantar ou se contagiar quando estas são cantadas no filme.
De modo geral, O Retorno de Mary Poppins é um produto competente, mais bem acabado que sua primeira versão e mais acessível a tudo que a Disney representa hoje (o primeiro filme não se preocupava com diversidade no elenco), apesar de se apoiar na fórmula do que foi feito antes em determinados momentos, é na força de sua protagonista e de seu elenco mirim, assim como no seu poder como musical que faz este filme uma aventura que merece ser assistida e apreciada pelos amantes do cinema.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.