Justiça Jovem é um grupo de heróis da DC Comics, integrado inicialmente pelos parceiros e ajudantes de membros da Liga da Justiça – semelhante aos Titãs. O quadrinho do time saiu em Junho de 1998 e se encerrou em 2003, mas recentemente a DC decidiu trazer a equipe de volta.
Embora tenham o mesmo nome, a série animada Justiça Jovem (Young Justice) não se trata de uma adaptação direta dos quadrinhos. Desde seu começo, sequer tem os mesmos personagens ou histórias. A série animada estreou em 2010, a quase dez anos atrás, com um episódio duplo que nos apresentou aos ajudantes da Liga da Justiça – Robin (Dick Grayson), Kid Flash (Wally West) e Aqualad (Kaldur’ahm) – se aventurando num laboratório do Cadmus e encontrando um clone do Superman, o Superboy (Conner Kent).
As aventuras na primeira temporada eram bem focadas neste time, que em seu início e ao longo de toda sua primeira temporada é um time secreto trabalhando lado a lado com a Liga mas sem todo o reconhecimento. Somos apresentados a vários tipo de personagens incríveis do universo DC, especialmente Artemis Crook, Zatanna Zatara e também à Miss Marte – uma marciana branca sobrinha do Ajax.
No segundo ano de série tivemos um pulo temporal de cinco anos, onde somos apresentados a uma equipe maior e descobrimos que alguns membros se uniram à liga, enquanto alguns se aposentaram e um aparentemente passou para o lado do mal. Após o final da segunda temporada – que teve menos episódios que a primeira – a série foi cancelada. Desde o seu cancelamento, os fãs de Justiça Jovem tentaram de alguma forma reviver a série.
Foi em 7 de Novembro de 2016 que foi anunciado o retorno da série para uma terceira temporada, que veio a estrear em Janeiro de 2019 com três episódios semanais.
Enquanto da primeira para a segunda temporada, apenas um ano de diferença, tivemos um pulo temporal de cinco anos, da segunda temporada até sua terceira se passou um tempo igual a dois anos. O maior fio condutor da temporada (ou pelo menos dos treze primeiros episódios dela) é sobre o tráfico de meta humanos jovens que vem acontecendo. Aparentemente o sócio da Luz vem usando os metahumanos como soldados em suas conquistas.
Metahumano é o nome dado para pessoas com habilidades especiais e parte da série gira em torno de como os jovens tem seus genes metahumanos ativados através de experimentos científicos para que possam servir o propósito desejado pela Luz. O tráfico de pessoas é uma temática bem forte para uma série animada, principalmente como é abordado nesta temporada, mas termina funcionando de forma surpreendente. O fato da série estar sendo exibida num streaming (o DC Universe) e ter uma classificação indicativa para maiores de dezoito anos facilita muito quando se trata de temas mais adultos.
Infelizmente com a possibilidade de retratar mais graficamente a violência veio um ato recorrente de mostrar personagens de cor sendo mortos ou gravemente feridos, em especial a personagem Halo e o Ciborgue. Uma coisa é mostrar as habilidades de um personagem de retornar a vida, outra é ter desculpas para mostrar alguém sendo ferido brutalmente de forma gráfica apenas pelo simples ato de mostrar.
A introdução dos novos personagens funciona, especialmente pelos laços que estes estabelecem com os antigos membros do time. Mas se tratando do time é necessário dizer que essa série já não é mais sobre Justiça Jovem, mas sim sobre todo o universo DC. Enquanto já se sentia uma expansão do universo em temporadas anteriores, esta temporada está por todo o local – narrativa e geograficamente. Difícil ter algum personagem que não tenha aparecido ainda, mesmo como um easter egg (até o Cisco Ramone – Vibro – já deu as caras).
O problema de se ter muitos personagens é exatamente manter todas estas histórias e narrativas coesas e interessantes ao público. Outro problema é que a série pode ter caído no lugar comum de permanecer confortável, em vez de ousar e contar novas histórias como já fez no passado. Afinal, há uma grande problemática numa possível adaptação do Contrato de Judas mais uma vez quando existem tantas outras histórias e arcos dos quadrinhos a serem adaptados.
Um ponto a ser elogiado não só nessa temporada mas em toda essa série no geral é como as coisas se amarram de forma tão natural e nem é percebido. Somos levados a acreditar que existem episódios filler ou que não são tão importantes para o enredo apenas para logo depois descobrirmos que tudo estava interligado de uma forma ou de outra. Isso valoriza muito a forma da série de contar uma história, não se prendendo sempre a uma maneira linear de o fazer.
Para quem acompanhou a série desde o seu começo e esperou anos para essa terceira temporada, podem haver certas decepções – ou não, mas é interessante ver o Kalder como o novo Aquaman e líder da Liga. Além disso, os fãs da DC ficarão muito satisfeitos com a quantidade de fan service presente nessa nova temporada. As chances de seus personagens favoritos dos quadrinhos não estarem na série é bem pequena.
Voltando a falar sobre a forma como a série tem usado da sua classificação indicativa para abordar temas mais maduros, a situação da Markóvia em relação aos refugiados muito se assemelha àquela vivida em diferentes nações do mundo real no atual momento. Usar do atual parágrafo para dizer que a personagem Violet (a Halo) tem mostrado um ótimo desenvolvimento mas se assemelha demais à Meghan na primeira temporada na série – muito infantilizada e com um poder enorme.
Uma rápida menção honrosa ao episódio 12 ‘Nightmare Monkeys’ por esclarecer algo nunca questionado anteriormente sobre os poderes do Mutano na série e sua aparência. Afinal, se ele tem mesmo os seus poderes devido a transfusão que vimos na primeira temporada por que ele tem a pele verde e só vira animais já que a Meghan é uma marciana branca e não verde.
Última coisa antes da conclusão do texto: Junte as iniciais de todos os episódios e talvez tenha uma surpresa.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.