A minha geração, crescida na década de 90 e início dos anos 2000, teve, àquela época, uma interessante influência que vinha tanto dos vídeo games, com a ascensão dos consoles e uma maior facilidade de acesso à PCs, que traziam toda uma gama de jogos de RPG e estratégia, como também das animações, transmitidas em TV aberta e que deram todo um gás para a nossa imaginação (Caverna do Dragão, Cavaleiros do Zodíaco, Thunder Cats, Dragon Ball, entre outras dezenas), mas principalmente, esta influência vinha dos filmes que passavam geralmente à tarde, nos saudosos Cinema em Casa e Sessão da Tarde.
Muitos desses filmes eram bem simplórios em suas concepções e narrativas, quase sempre uma fantasia invariavelmente baseada em uma clássica jornada do herói, acompanhados de seus fiéis escudeiros, enfrentando alguma ameaça à seu bairro, sua cidade ou seu mundo (ou outros mundos). São filmes como
Guerreiros da Virtude (Warriors of Virtue, 1997),
Pagemaster, o Mestre da Fantasia (Pagemaster, 1994), a trilogia História Sem Fim (1984, 1990, 1994),
Caçadoras de Aventuras (Gold Diggers: The Secret of Bear Mountain, 1995) e
A Chave Mágica (The Indian in the Cupboard, 1995), só pra dar alguns exemplos. Filmes que quase sempre eram feitos para o mercado de
Home Video e repetidos à exaustão, o que nos proporcionava viver e reviver essas aventuras, decorar seus detalhes e mínimas características, tornando-se base para nossas brincadeiras com os amigos da rua, na escola, no sítio dos nossos avós.
A geração que viu e cresceu com esses filmes obviamente ficou adulta e, sagaz como sempre foi, o mercado audiovisual não poderia deixar de se aproveitar deste sentimento de nostalgia que estes nutriam por aquela época áurea de suas infâncias e adolescências. Assim, toda uma leva de filmes (e séries) nostálgicos têm sido produzidos com a intenção de alcançar este público de 25 à 35 anos, fazendo referências diretas como em
Jogador Nº 1 (Ready Player One, 2018), ou tentando recriar a fórmula como em
Super 8 (2011) e
It: A Coisa (It, 2017).
Este
O Menino Que Queria Ser Rei (The Kid Who Would Be King, 2019), poderia muito bem entrar nessa lista se não fosse uma diferença significativa em sua intenção, seu público alvo. Diferente dos filmes que citei acima, o novo filme de
Joe Cornish, de
Ataque ao Prédio (Attack the Block, 2011), não tenta atingir minha geração de nostálgicos com tanta força, mas é realmente feito para tentar alcançar uma nova geração de crianças da atualidade, o que é um belo objetivo. Infelizmente quase impossível, é certo, mas ainda assim, belo.
O enredo, como o esperado, é muito simples: Alex (Louis Ashbourne Serkis) é um jovem que vive sozinho com sua mãe e vive sofrendo bullying na escola junto com seu amigo Bedders (Dean Chaumoo), mesmo que Alex frenquentemente enfrente seus agressores, Lance (Tom Taylor) e Kaye (Rhianna Dorris), com muita coragem e determinação. A abertura do filme, é toda em animação e faz um resumo da história do mais lendário herói da Grã-Bretanha e seus Cavaleiros da Távola redonda, e a partir daí já dá pra saber praticamente tudo o que vai acontecer durante a história. Em uma de suas fugas, Alex encontra uma grande espada fincada em uma pedra, e ao conseguir removê-la já compreendemos que o garoto deva ser algum tipo de reencarnação do Rei Arthur, e é exatamente isto.
Com a ajuda de um jovem Merlin (o ótimo, estranho e cativante Angus Imrie), que serve como mentor e eficaz alívio cômico, Alex e Bedders se juntam à seus antigos antagonistas Lance e Kaye, para enfrentarem um iminente mal prestes a despertar, a temível feiticeira Morgana (Rebecca Ferguson). Daí em diante, após a recusa ao chamado da aventura, continuamos acompanhamos a clássica jornada do herói, sem muitas surpresas.
O filme pode nem ter sido feito para mim diretamente, mas consegui sentir bastante o que sentia ao assistir tantos filmes que me deram tantos bons ensinamentos que eu levo até hoje, consegui perceber o benefício que ele poderia fazer às crianças e adolescentes de hoje em dia, com suas lições de coragem e amizade, por mais piegas que estas sejam. Então fico pensando se talvez não seja uma missão da minha geração levar nossas crianças, filhos, sobrinhos, alunos, para ver este O Menino Que Queria Ser Rei e depois termos uma boa conversa sobre o que se aprendemos com o filme.