Cenas que mais me marcaram no Cinema – Parte 5 | Carol Carlini

Eu sou aquela pessoa que quando recebe um pedido do tipo “me indica um filme?” simplesmente esquece todos os filmes que já viu na vida. Aí me deparei com o desafio de pensar em 10 cenas do cinema que mais me marcaram. Deu tela azul na mesma hora, mas resolvi encarar e gastei um bom tempo pensando no assunto. Com muito esforço consegui separar as 10. Minha escolha não foi baseada em cenas que me marcaram no sentido de impactar diretamente em algum aspecto da minha vida. Fui mais pelo caminho de pensar na questão do sentimento que elas me causam, mas passeando um pouco também por aspectos técnicos em algumas delas. Eu provavelmente não vou conseguir explicar o motivo da escolha dessas cenas tão bem quanto eu gostaria, mas vamos em frente.
“Lovebirds”
Decidi começar com um filme mais recente e que simplesmente ganhou meu coração logo da primeira vez que assisti. Capitão Fantástico (Captain Fantastic, 2016) traz a discussão dos problemas de se viver em uma sociedade capitalista. O protagonista preza por uma vida longe da civilização e próxima a natureza. E é assim que ele e sua mulher criam os seis filhos. No entanto, conforme a história se passa, vemos que a intenção do filme é mostrar como o extremismo é prejudicial. Os filhos do Ben (Viggo Mortensen) crescem em contato direto com a natureza, aprendem a dar valor a isso e não a bens materiais, mas por outro lado, não possuem a menor noção de como é o convívio em sociedade, de como se relacionar com as outras pessoas. Por esse motivo, escolhi a cena que representa essa problemática de uma maneira muito sutil. De primeira, eu achei a situação até engraçada, mas depois passou para um sentimento de angústia e desespero de ver o personagem passando por aquela situação embaraçosa. Não apenas essa cena, mas o filme como um todo traz uma reflexão muito forte, nos fazendo pensar em sempre tentar buscar o equilíbrio na vida.
“Pai, vamos. Tem que levantar”
Aproveitando que o assunto está em alta, olha eu aqui trazendo O Rei Leão (The Lion King, 1994). Esse é com certeza um dos filmes que eu mais vi na vida e a parte da morte do Mufasa sempre me deixa no chão. Essa cena é bem marcante pra mim porque eu levei esse tapa logo na infância. Logo eu, a louca dos grandes felinos. Apesar de entender a importância desse acontecimento para o filme, até hoje não me conformo com essa morte. Mufasa é um personagem muito cativante. Sempre pensava que se eu fosse um leão, queria que meu pai fosse ele. É isso, não tenho muito o que falar. Meu motivo para escolher essa cena é puramente emocional e nostálgico. Acredito que muita gente vai se identificar.
“Help Us!”
Como fã de Star Wars, eu não poderia deixar de trazer essa cena belíssima que Rogue One (2016) nos deu de presente. O momento em que Darth Vader aparece para enfrentar os soldados rebeldes é simplesmente incrível. Eu me arrepiei inteira. Darth Vader é o personagem mais icônico do universo de Star Wars e vê-lo aparecendo nesse filme recente trouxe muita nostalgia. Além de ser uma cena visualmente muito bonita. É lindo ver a cor vermelha do sabre de luz dominando todo o corredor e as ações da cena foram totalmente fiéis à essência do personagem que a gente já conhecia. Eu poderia rever esse momento diversas vezes.
“do osso à nave”
Confesso que fiquei com um pouco de receio de colocar essa cena na lista, por se tratar de um filme que muita gente não gosta e tem preconceito porque é cult, mas resolvi colocar porque eu até entendo um pouco o ponto dessa galera. Considero 2001 do Stanley Kubrick um filme bom, porém cansativo e difícil. Realmente não é pra você assistir num domingo só pra descontrair. Mas não estou aqui para fazer uma crítica, e sim para falar da cena do osso que provavelmente muitas pessoas conhecem. Esse filme tem diversas cenas boas que eu poderia trazer aqui, mas escolhi essa por ser a que eu mais gosto. Nela, é possível ver dois momentos muito interessantes: o primeiro é o do macaco que utiliza o osso como uma ferramenta e percebe como aquilo lhe dá poder. E o segundo pode ser considerado o maior salto temporal do cinema, que é quando o macaco joga o osso para cima e ele se transforma em uma nave, avançando milhões de anos na história e simbolizando a evolução da humanidade.
“Ok, walking is out”
Achou que eu não ia falar de Leonardo DiCaprio? Achou errado! Resolvi trazer um dos momentos em que o nosso ícone foi injustiçado pelo Oscar. Nesse filme, Leo interpreta Jordan Belfort, um corretor da bolsa de valores que leva a vida no maior estilo sexo, drogas e nem tanto rock n’ roll. Para mim, o filme em si nem é tão emblemático, mas eu simplesmente amo essa cena. Jordan, totalmente louco na droga, não consegue ficar em pé e andar normalmente, porque a droga tem um efeito parecido com o de relaxante muscular. E ele precisa voltar pra casa porque seu telefone está grampeado. Então ele rasteja até o carro e dirige naquele estado até a casa dele. Tudo é acompanhado pela narração do próprio personagem e o mais legal é que o filme apresenta duas versões da mesma cena: a que Jordan pensa que aconteceu e como aconteceu de fato. Essa cena é marcante pelo fato de ser cômica e também pela atuação do Leonardo DiCaprio, que é impecável. Eu teria dado a estatueta para ele só por essa parte do filme, mas a atuação como um todo é excelente.
“See you around, kid”
Os fãs só das trilogias antigas de Star Wars que me perdoem, mas estou trazendo uma cena da nova trilogia sim. E que cena! Definitivamente uma das melhores do filme. Eu me arrepiei toda quando vi Luke (Mark Hamill) aparecer no meio daquele deserto de sal e Kylo Ren (Adam Driver), com sangue nos olhos, indo ao encontro dele. O mais legal desse momento é o fato de ele ser esperado durante o filme todo, mas não acontecer da maneira que muita gente imaginou que seria. É muito bom ver a cara do Kylo quando ele é “dibrado”. Além de ser um momento incrível de toda a história, o cenário é espetacular. Um deserto de sal que revela uma coloração vermelha por baixo de todo o branco. A cor que representa a Aliança Rebelde. Mais simbólico, impossível. É bem tocante o momento em que mostra que o Luke usou toda a sua força para realizar seu último ato de resistência. Vou fazer aqui uma menção honrosa à cena em que o Kylo mata o Snoke. Considerei escolhê-la, mas esse momento entre Kylo e Luke foi mais marcante para mim.
“O incinerador”
Mais uma vez escolhendo puramente por nostalgia. Eu cresci assistindo Toy Story, amo todos os filmes e eles me trazem boas lembranças da infância. Essa cena me marcou porque, por um momento, eu pensei que tudo acabaria ali e da pior maneira. Claro que a Pixar não faria isso, mas acredito que a intenção foi justamente a de provocar esse sentimento nos fãs. Eu não sou o tipo de pessoa que chora assistindo filmes (não que isso seja ruim, só não acontece comigo), mas eu cheguei muito perto de cair no choro nessa cena. Primeiro porque os personagens que eu acompanhei por boa parte da minha infância estavam prestes a serem incinerados. E segundo, o momento em que eles começam a dar as mãos é muito tocante, deixa claro o sentimento forte da amizade entre eles. Portanto, a Pixar acertou em cheio no quesito “quase me matar do coração” e eu sempre vou sentir um pequeno aperto ao assistir essa cena.
“Bellbottoms”
Em Ritmo de Fuga (Baby Driver, 2017) me surpreendeu bastante. Eu fui assistir achando que era mais do mesmo: um filme de carro com uma narrativa rasa e muitas perseguições mal filmadas. Felizmente me enganei e por isso escolhi falar de uma das cenas de perseguição mais bonitas que eu já vi. Utilizar o ritmo da música como guia do ritmo do filme já é algo muito batido, mas nessa cena a gente pode ver como esse recurso foi utilizado de uma maneira inovadora. Você consegue perceber nos detalhes que tudo está em sincronia com a música, inclusive o protagonista Baby (Ansel Elgort). É o ponto de vista dele que está sendo apresentado para nós. É admirável ver como a equipe de edição e mixagem de som conseguiram demonstrar as diferentes nuances da narrativa através do som. É a música que guia. Eu gosto muito quando a trilha é trabalhada no filme de maneira que não seja para preencher um espaço vazio, mas sim como parte significativa da história. Além da música, outra coisa que me agrada nessa cena é como a montagem consegue deixar o ritmo da perseguição bem fluido. Você não se sente perdido enquanto assiste. Dá pra saber exatamente o que está acontecendo e isso é muito louvável.
“Tell me… do you like music, Mr. Finch?”
V de Vingança (V for Vendetta, 2005) tem tantas cenas boas que eu demorei muito para escolher uma, mas optei pela cena final porque ela é de arrepiar. Uma coisa que me agrada muito é o jogo de oposição que existe entre a delicadeza da música clássica e a brutalidade das explosões. As falas da Evey (Natalie Portman) nesse final também são incríveis, exaltando todo o desejo de revolução e da busca pela liberdade. Evey dá continuidade à luta que V (Hugo Weaving) começou. No meu ponto de vista, quando V está morto dentro do trem e as explosões começam, é como se ele tivesse incorporado a revolução. Considero uma cena muito potente e por isso marcante. Inclusive, pensando na nossa situação atual, é um filme que vale a pena ser visto e revisto.
“Banana boat song”
Eu sou uma grande admiradora de coisas bizarras e sem noção. É por isso que decidi trazer essa cena. Além de ser de um filme que eu gosto muito, essa cena é divertida e bem feita. Acredito que momentos como esse são bem característicos dos filmes do Tim Burton, que trazem a mistura da comédia com elementos bizarros. Gosto bastante da interpretação dos atores nesse momento. Eu assisto e fico constrangida de ver eles sem ter a menor ideia de como aquilo está acontecendo. Não é uma cena tão memorável, mas não deixa de ser bem executada e que me agrada bastante.