Cenas que mais me marcaram no Cinema – Parte 3 | Anderson Pontes

Eu devo admitir que não sou um cara muito chegado a filmes e séries. Ultimamente, meu consumo de conteúdo está mais restrito ao YouTube e aos mangás. No entanto, ir ao cinema é uma atividade que procuro manter sempre. Dado esse contexto, o meu repertório de filmes não é tão grande assim. Alguns clássicos citados nas listas passadas eu nem assisti e particularmente não tenho muita vontade de ver fora da telona. Poucos foram os filmes que vi em casa. Mas esses poucos que vi, sempre foram acompanhados dos meus amigos ou família, o que torna a experiência de ver um filme muito mais divertida.
Por isso quando fui convidado a fazer essa lista, fiquei pensando sobre os poucos filmes que vi: Quais cenas me marcaram? Quais experiências marcantes eu tive? Quais filmes me fizeram ser outra pessoa depois de vê-los? Fechar os olhos e pensar nisso tudo não foi uma tarefa tão fácil pra mim, mas foi bastante prazerosa. Construir essa lista de cenas marcantes é como se eu estivesse vendo os tijolos que formam a parede da minha personalidade. Cada uma dessas cenas construiu um pouco de quem eu sou. Então, compartilho com alegria minhas cenas favoritas de filmes. Elas não estão em uma ordem particular de preferência. Não há ganhadores ou perdedores aqui. Todas fazem parte de mim.
“A step you can’t take back”
Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again, 2013) é um dos filmes da minha vida. Já perdi as contas de quantas vezes me perdi em pensamentos ouvindo a sua trilha sonora. Esse filme me tocou profundamente porque ele fala sobre recomeços. Sobre tentar encontrar uma paixão mesmo quando as circunstâncias apontam para o fracasso total.
Nessa cena em especial, Dan (Mark Ruffalo) chega ao bar no fundo do poço. Após uma carreira de sucesso como produtor musical, ele se afunda no alcoolismo e no ódio a si mesmo. Dan está acabado. Exausto das decisões que tomou na vida. Exausto de tudo. Mas ele ainda ama a música acima de tudo. E é a música de Gretta (Keira Knightley) que salva ele do buraco em que está enfiado. A paixão dele pela música é forte, impactante. Faz o espectador entender como a cabeça de Dan funciona e faz o próprio Dan perceber que se tem alguma coisa que pode dar certo ainda é a paixão dele pela música.
“City of stars… Are you shinning just for me?”
La La Land: Cantando Estações (La La Land, 2016) é um filme marcado pela gafe cometida no palco do Oscar 2016 e isso é inegável. La La Land é uma ode à Hollywood e em como é difícil fazer sucesso utilizando a arte. No filme, temos dois personagens apaixonados por suas respectivas artes: Mia (Emma Stone) apaixonada pelo teatro/cinema e Sebastian (Ryan Gosling) apaixonado pela música. Nos acasos da vida, os dois acabam se apaixonando e construindo uma vida juntos, aos trancos e barrancos, mas sem deixar de crer e acreditar nos seus sonhos. Eventualmente, uma escolha difícil deve ser feita e a paixão de ambos é posta a prova.
Essa cena em específico é minha cena favorita do filme pela simplicidade e profundidade que ela possui num filme tão complexo visualmente falando. Sebastian está indeciso sobre seu futuro; Ele não quer abrir mão da tradição do jazz. Suas frustrações são entoadas nos versos proferidos por ele:
“City of Stars
There so much that i can’t see”
A cidade é cintilante, brilhante e deslumbra todos que a veem. Mesmo assim Sebastian não consegue ver tudo. Ele sempre cantou esses versos sozinho, perdido em seus pensamentos. Mas agora ele tem Mia; Ela complementa seus versos
“That now
Our dreams
They’ve finally come true”
O olhar que cada um troca, de admiração, de carinho e orgulho porque ambos estão buscando juntos seus objetivos tornam essa cena uma das mais marcantes na minha vida. Tudo na cena é esquecido pra ser focado em Sebastian e Mia. Ali, apenas eles importa. O amor que um nutre pelo outro é visível no entoar dos versos, nos olhares, na linguagem corporal.
Essa cena me ensinou o quão é importante você ter alguém em quem confiar os seus sonhos. Me ensinou a importância de lutar pelos sonhos de quem você ama, também.
“What about our tea?”
Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010) é meu filme favorito e são tantas cenas inesquecíveis que ele possui que eu tive que ver o filme inteiro de novo pra tentar me decidir por uma. O filme conta a história de Scott (Michael Cera) um cara comum que vivia uma vida comum até se apaixonar por Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) uma garota completamente fora dos padrões da sociedade.
Ramona rouba praticamente todas as cenas em que aparece, usando seu charme, irreverência e mistério. Nessa em especial, Scott já está completamente apaixonado por ela. Ela também tem uma queda por ele e se deixa levar pela situação, quando Scott pega ela se trocando. Apenas seguindo o fluxo, ela acha interessante a ideia de transar com Scott e simplesmente se entrega… até mudar de ideia e perder completamente o interesse. A expressão maravilhada do Scott por ter conhecido uma garota tão inesperada assim é hilária. E mesmo com o tesão juvenil à flor da pele, o rapaz reconhece que aquele foi um momento incrível e é grato só de poder ter vivido ele. A cereja do bolo vem quando Ramona casualmente diz algo como “eu vou me manter no direito de mudar de ideia sobre transar mais tarde”. A cena é uma ótima síntese da relação que é construída entre os dois e mostra como Ramona é intensa e volátil em suas decisões.
“Go get ’em, boss”
 
Tony Stark não poderia ficar de fora dessa lista. Em 15 segundos de cena, é possível entender muita coisa sobre a personalidade dos meus personagens preferidos do Marvel Cinematic Universe: A trilha sonora do fundo (AC/DC, porra!!) já chega com os dois pés no peito do espectador mostrando que Tony Stark (você sabe quem ele é) não é um herói qualquer: ele é foda e ele sabe que é foda. Ele está num avião, usando sua melhor armadura, de frente a sua amada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), pronto para partir para a ação. Tony pede um beijinho de despedida a Pepper. Com um sorriso maroto no rosto, ela beija o capacete de Tony, joga o capacete pra fora do avião e solta um “vai lá buscar o seu beijo, chefe”, esfregando na cara do Tony que em matéria de ser foda, ela não perde dele. Não há outra reação possível dele além de falar “você me completa” enquanto pula pra buscar seu capacete.
Eu não conseguia parar de rir quando vi essa cena pela primeira vez. A sequência inicial de Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010) é incrível, mas foi essa cena que virou minha capa de Facebook por uns bons anos. A cara de espanto do Stark é simplesmente impagável!
“Now ya’ll know who I am
I might not be that perfect son
But ya’ll be rockin’ when I’m done”
Esse filme é simplesmente incrível. Escola de Rock (The School of Rock, 2003) marcou uma geração de apaixonados pelo bom e velho Rock n’ Roll. Eu sempre tive meus problemas com o ensino tradicional. As regras rígidas demais, o conteúdo massante, os professores chatos… Tenho certeza que você tem pelo menos uma reclamação sobre como nossa educação é feita atualmente no Brasil. Escola de Rock levanta uma simples questão sobre tudo isso: “E se o ensino de música fosse diferente?” e é no modo super divertido como ele desenvolve esse questionamento ao longo do filme que essa cena ganhou o destaque na minha vida. O show final dos alunos (e essa música em especial) é catártico para todos os envolvidos, pois foi a gloriosa recompensa que eles tanto buscavam após tanto esforço e dedicação. É também uma mensagem de libertação bem clara das crianças, que finalmente se soltaram das amarras que seus pais impuseram a eles. É uma forma de mostrar às crianças que estão vendo o filme que “hey, VOCÊ pode ser um rock star!”. É sobre empoderamento e sobre não ter vergonha de assumir quem você realmente é.
“We will face it all, together”
 
Que as aberturas de 007 já são clássicas não é novidade pra ninguém. No entanto, a abertura de 007 – Operação Skyfall (Skyfall, 2012) me marcou por duas coisas bastante pessoais. Foi nessa abertura que eu conheci a voz poderosa de Adele e descobri minha música favorita da cantora britânica. A segunda, foi a sessão de cinema na qual vi esse filme. 2012 foi um ano conturbado pra mim porque eu tinha acabado de começar a faculdade e tinha me mudado da casa dos meus pais pra morar na casa dos meus avós, por causa dos estudos. De quebra, ainda estava brigado com minha melhor amiga. Na época da estréia do filme, eu e ela voltamos a nos falar e decidimos nos encontrar pra ver esse filme. Fazia uns bons meses que não nos víamos. Na sessão de cinema, a encontrei na fila de entrar no filme e me lembro até hoje a sensação de felicidade associada a abertura desse filme: olhando ela sentada no meu lado da cadeira, ouvindo Skyfall da Adele é algo que me marcou pra sempre. É claro que o filme é o melhor da fase Daniel Craig no papel do agente secreto mais famoso do mundo, mas isso virou detalhe pelo momento que vi na sala de cinema.
“He’s challenging the Alpha! To protect YOU!”
Eu tenho uma certa dificuldade de gostar das animações da Dreamworks. Desde Shrek (2001), o estúdio não conseguiu fazer um filme animado que conseguisse me cativar, como os da Pixar geralmente o fazem. Isso mudou em 2010 quando o estúdio lançou Como Treinar o seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010). Construindo uma história de amizade e carinho entre um humano e um dragão, o filme foi um alento no meu coração. No entanto, quando uma sequência foi anunciada, fiquei logo com um pé atrás. Não conseguia imaginar uma sequência que não fosse um desastre completo.
Tive uma surpresa positiva quando vi Como Treinar o Seu Dragão 2 (How to Train Your Dragon 2, 2014) pela primeira vez. O filme foi por um caminho corajoso, mostrando a relação de um Soluço (Jay Baruchel) um pouco mais velho e partindo direto para uma relação mais profunda entre os humanos e os dragões. O filme tem uma pegada mais adulta, não tendo medo de expor relações mais maduras e com consequências reais na vida dos protagonistas.
A sequência final do filme, resume bem o que tudo isso significa: a relação de amor e carinho entre Banguela e Soluço, a luta por um futuro melhor entre dragões e humanos e a força que um laço possui. No final do filme, eu lembro que não conseguia parar de chorar. Esse filme é maravilhoso demais.
“Eu não tô chorando. É você que tá chorando”
 
“Uma montanha russa de emoções”. Foi assim que defini esse filme pela primeira vez que o vi no cinema. Eu tinha um misto de sorrisos e lágrimas escorrendo pelo meu rosto nessa cena final. Divertida Mente (Inside Out, 2015) é disparadamente um dos melhores filmes da Pixar e lembrou a todos nós o quão difícil é crescer. Duvido alguém não conseguir se identificar com os perrengues passados pela pequena Riley (Kaitlyn Dias); afinal, todo mundo já foi uma criança crescendo. Somente vendo esse corte de 3 minutos do final do filme eu já consegui me recordar de todas os sentimentos conflitantes que esse filme me trouxe. Sem dúvidas, mudou minha percepção de como eu vejo os adolescentes e me ajudou a entender um pouquinho mais sobre os meus sentimentos. Que filme lindo.
“Oh goodbye days…”
 
Taiyô no Uta ou “Canção ao sol” (タイヨウのうた Taiyō no Uta, 2006) é o filme japonês mais marcante que eu já assisti, tanto pela sua carga dramática como por sua trilha sonora.
Em 2008 eu estava fissurado em animes. Eu via vários títulos diferentes, lia vários mangás, discutia sobre isso em fóruns e comunidades do Orkut e meus amigos só falavam disso (e de basquete, eventualmente). A YUI foi uma das cantoras que me fisgou nessa época. A cantora tinha duas músicas marcantes (pelo menos pra mim) que faziam parte da trilha sonora de Bleach (Rolling Star, quarta abertura do anime e Life, primeiro encerramento), um anime muito famoso (e com um triste fim). Procurando mais sobre a obra da cantora, esbarrei nesse filme estrelado por ela e resolvi assisti-lo.
O filme narra a história de Kaoru Amane (YUI) uma garota de 16 anos que sofre de um tipo raro de doença chamada xeroderma pigmentosum (XP) que basicamente torna a pele do portador ultra-sensível aos raios ultravioleta. Nessa condição, Amane é proibida de viver durante o dia, uma vez que a prolongada exposição aos raios solares poderia levá-la a morte. Então, desde sempre, ela passou a ser obrigada a viver sua vida a noite. Porém, como ela mora numa pequena cidade costeira, a vida da garota sempre foi solitária. Um belo dia, ela conhece um rapaz chamado Kouji Fujishiro (Takashi Tsukamoto) que se apaixona por Kaoru e começa a mostrá-la a vida que existe na madrugada.
O filme conta com uma trilha sonora incrível, recheada de músicas da cantora. Escolher uma única cena marcante desse filme foi uma tarefa bem complicada, mas consegui chegar numa escolha. A cena em questão mostra a primeira vez que Amane e Fujishiro resolvem ir a um centro mais afastado de sua cidade natal, indo parar em Tokyo. Lá, é a primeira vez que Amane vislumbra a vida que existe durante a madrugada e que resolve mostrar suas canções para uma plateia. É de longe uma das cenas mais marcantes pra mim porque essa música é carregada de emoção e significados na minha vida, uma vez que ela fez parte da minha adolescência e posso considerar como uma das trilhas sonoras da minha vida.
O filme é bem chatinho de se achar hoje em dia, mas garanto que vale a pena procurar. Você não vai se arrepender.
“Eu não acredito que as peruas acharam que tinha acabado”
É claro que As Branquelas (White Chicks, 2004) o MELHOR filme de comédia EVER tem que estar na minha lista. Acho que foi o filme de comédia que eu mais assisti na minha vida (seja em DVD com meus pais ou seja na TV aberta). Com certeza é a melhor cena de dança que já foi filmada na história do cinema. Também é o filme que tem as melhores piadas-ruins de todos os tempos.
Essa cena estar no meio das 10 cenas que mais marcaram a minha vida diz muito sobre a minha personalidade. E eu amo ser eu.