Quando Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3) foi lançado, lá em 2007, foi difícil acreditar que muitas daquelas cenas estavam realmente acontecendo. Claro que tem quem goste (sempre tem), mas o filme deixa muito a desejar mesmo, principalmente se comparado aos seus antecessores. Isso é praticamente um consenso dentro da cultura pop e, pessoalmente, foi uma experiência deveras frustrante enquanto fã de quadrinhos e de cinema.
Um dos muitos motivos para que o filme tenha saído bastante dos trilhos foi o modo como a Sony pressionou para que o personagem Venom estivesse na trama, mesmo o diretor, Sam Raimi, não gostando muito dessa ideia, como ele próprio explicou certa vez. Isso transformou a tão aguardada sequência do ótimo Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, 2004), numa verdadeira bagunça (e eu nem vou falar das dancinhas e das franjinhas porque, enfim, o texto não é bem sobre isso…)
Mais de dez anos depois, a mesma Sony resolve insistir de novo com o mesmo personagem. Só que dessa vez, não satisfeita em estragar um filme que poderia ser muito bom, ela decide criar um novo filme, inteiro só para o Venom, só para poder estraga-lo também. E ao que parece, Venom não é o único vilão que a empresa tem interesse em abordar em filmes solos. Dinheiro é mato, aparentemente.
O resultado em realmente produzir e lançar um filme cuja ideia parecia ruim desde o início, um filme que absolutamente ninguém estava pedindo ou querendo, é totalmente desastroso em todos os sentidos e a única coisa positiva que se pode tirar dele é poder olhar com nostalgia para Homem-Aranha 3 e outras pérolas que o subgênero “filme de herói” já nos proporcionou, como X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009), Mulher-Gato (Catwoman, 2004), Lanterna Verde (Green Lantern, 2011)… Inclusive, acho muito pouco provável que não tenha uma piada sobre Venom no próximo Deadpool. Não tem como ser diferente, Venom é uma piada pronta.
Em Venom, os simbiontes chegam à Terra por meio da Fundação Vida, uma instituição que visa encontrar possíveis fontes de recurso e planetas habitáveis lançando missões tripuladas ao espaço. A nave sofre um acidente (atenção ao nome do piloto) e um dos simbiontes escapa, enquanto o restante é levado de volta para os cuidados de Carlton Drake (Riz Ahmed), o criador da Fundação. Então, Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo que precisa entrevistar Carlton Drake, mas acaba cutucando a onça com a vara curta por ser a coisa certa a fazer e, como consequência, perde o emprego, a noiva e fica na sarjeta. Até que uma das cientistas que trabalha no projeto dos simbiontes percebe que o chefe está passando dos limites, usando seres humanos como cobaias e pede ajuda para Eddie, que acaba entrando em contato com uma das criaturas, transformando-se em Venom.
Eddie Brock começa com uma pessoa bem-sucedida e se torna um fracassado ainda no começo do filme, prologando o primeiro ato numa tentativa de nos fazer simpatizar com a situação toda, pena que Tom Hardy parece extremamente desconfortável e está numa das atuações mais vergonha-alheia que eu já tive que assistir (e olha que eu assisti The Room), seus companheiros de elenco, igualmente talentosos, não estão muito atrás. Completamente desperdiçados numa trama preguiçosa e mal estruturada. O personagem é pintado como um anti-herói que possui um certo humor, mas as coisas não parecem encaixar bem. Venom realmente não nasceu para ser um herói estranho e carismático, pelo menos não do jeito que tentaram fazer neste filme.
Ao mesmo tempo que a história principal se desenrola, acompanhamos também todo o caminho que o simbionte que sumiu no acidente faz para chegar até a Fundação Vida (o que nos faz pensar que talvez tivesse sido melhor não escapar naquele momento já que ia acabar no mesmo lugar que os outros). Chegando lá ele encontra o hospedeiro perfeito e então temos o vilão que o nosso Venom precisava, algo potencialmente comparável ao Abominável de O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008). Até que, finalmente, os dois culminam na luta mais confusa que já assisti desde o segundo Transformers (Ou terceiro? Tanto faz).
Enfim, o roteiro transforma tanto Eddie quanto Venom numa caricatura mal desenhada, todos os diálogos são risíveis, as cenas de ação, que às vezes até salvam os filmes medianos, não se destacam em nenhum momento. Certas cenas realmente fazem você duvidar do que está assistindo e de que alguém tenha aprovado aquilo. Fui ao cinema certa de que o filme conseguiria dar a volta da qualidade e se tornar algo divertido de tão ruim, sabe? (Novamente, cito The Room aqui). Mas, infelizmente nem isso. Dá uma certa tristeza ver tanto tempo, talento e dinheiro sendo desperdiçado. Mesmo que você já esperasse mais ou menos por isso.
Surpreendendo um total de zero pessoas, Venom é um desastre que falha em tudo a que se propõe, em todos os sentidos. Não serve como comédia, não serve como filme de ação, aventura ou “filme de herói”, não serve para assistir quando estiver disponível em serviços de streaming, ou passando na programação da TV a cabo. Simplesmente é um erro em que alguém ficou insistindo. Mais uma vez.
P.S: Ainda tiveram a ousadia de fazer duas cenas pós-créditos. A primeira é ridícula, mas a segunda vale muito a pena e é, com certeza, a melhor parte de ver esse filme, porque não tem nada a ver com ele.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.