No último dia 12, foi lançada A Maldição da Residência Hill (The Haunting of Hill House), a mais nova série de terror sobrenatural da Netflix. Criada por Mike Flanagan (Hush, Jogo Perigoso), é baseada no romance homônimo de 1959 da escritora Shirley Jackson, tendo sua primeira temporada composta por dez episódios que variam entre 50 minutos e uma hora de duração.
A série segue a vida dos sete membros da família Crane, desenrolando a narrativa num bate e volta entre 1992 e 2018, enquanto descobrimos mais e mais sobre os mistérios que vivem dentro da Mansão Hill e os medos que assolam seus habitantes. Nós do SMUC já conferimos a novidade e trouxemos três motivos (um para cada noite que eu não consegui dormir de tão assustada que fiquei) pra você que está a procura de algo novo (e assombroso) para assistir:
Os personagens
O coração dessa trama é sem dúvida a construção de personagens que foi aplicada nela. A série gira em torno da família Crane, que é composta pelos pais, Hugh (Timothy Hutton) e Olivia (Carla Gugino), e seus cinco filhos (que são o verdadeiro foco da narrativa), Steven, Shirley, Theodora e os gêmeos Nellie e Luke. O elenco foi muito bem pensado e dá um show de atuação, se utilizando bem das semelhanças físicas e psicológicas entre os personagens em 1992 e 2018. Mas o que realmente se destaca é a construção dos episódios no decorrer da série. Vamos, pouco a pouco, conhecendo individualmente os membros da família Crane, e por meio deles é que podemos entender melhor a oitava protagonista dessa série, a própria Mansão Hill, que, assim como seus habitantes, possui particularidades que divergem durante as duas linhas do tempo em que é apresentada. O desenvolvimento dos personagens é palpável e dita o ritmo da série, se intensificando durante cada episódio, e causando um envolvimento muito peculiar no espectador: mesmo que vejamos apenas cerca de 3 a 4 dias da vida dessas pessoas, é impossível não se sentir conectado a elas, pois passamos a conhecer suas maiores ambições e seus mais profundos medos.
As temáticas da série
O luto, o vício e a saúde mental são os principais temas que se destrincham por entre as paredes da Mansão Hill (e os episódios do seriado). Todas as pessoas são únicas em sua maneira, e isso significa que elas processam acontecimentos de formas únicas. Ao observar enquanto os 5 irmãos se deparam com as temáticas acima, nos são apresentados cinco pontos de vista diferentes, cinco concepções sobre cada um dos temas, cinco formas de se processar uma situação de extrema dificuldade dentro da condição humana. Ao abordar essas temáticas, a série nos leva a questionar “como eu reagiria nessa situação?” e nos faz refletir sobre as nossas crenças e os diversos conceitos sociais que foram construídos em nós durante nosso crescimento. É interessante observar como os irmãos Crane, que foram criados pelas mesmas pessoas, interpretam e reagem de forma diferente a cada situação que lhes é apresentada, e isso possibilita ao espectador experienciar minimamente cinco vivências que podem ou não se assemelhar com a sua vivência própria.
O terror
Para muitos, essa é a parte mais importante da série. Porque sim, apesar de discorrer extensivamente sobre diversos elementos da condição humana, A Maldição da Residência Hill ainda é uma série de terror sobrenatural. E ela é incrível. Eu poderia apenas dizer a vocês que fiquei três dias sem dormir após terminar de maratonar, mas isso não seria o bastante para convencê-los de que vale a pena investir nesta série para bons sustos. Poderia então dizer também que os jump-scares não são muitos, mas também não são óbvios, e funcionam maravilhosamente bem (em alguns momentos depois de jumps-scares, eu tive que parar de assistir de tão nervosa que fiquei e ir focar em alguma outra coisa, só pra voltar 15 minutos depois, tamanha era minha curiosidade de entender a Mansão e seus mistérios). Também existe outro elemento que exponencia o medo, e isso é o próprio roteiro da série, que se utiliza, de forma não clichê, dos conceitos sobre o mundo sobrenatural e como isso pode afetar aqueles que são possuem uma percepção sensorial mais aguçada. Obviamente, a decupagem e trilha da série ajudam a criar a atmosfera do susto, e como um todo, AMDRH se sustenta em seu terror e cumpre sua proposta inicial: nos deixar morrendo de medo.
Ao amarrar os três motivos citados acima, cria-se (e aqui eu falo apenas por mim) uma das melhores obras audiovisuais de terror dos últimos anos, e uma das melhores séries da Netflix, tendo sido muito elogiada desde o seu lançamento na sexta, e recentemente recebendo a aprovação do mestre do terror, Stephen King. A série, porém, é muito mais do que o elemento do medo, e eu recomendo não só aos fãs de filmes de terror, mas a todo mundo que está em busca de algo novo e está disposto a ter suas questões internas reviradas pelas paredes da Mansão Hill.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.