“Até onde você iria para salvar sua família?” Estréia nessa quinta feira (12) Arranha-Céu: Coragem Sem Limites (Skyscraper, 2018), protagonizado por Dwayne “The Rock” Johnson no papel de Will Sawyer, um ex-agente do FBI que agora trabalha como consultor de segurança para prédios após sofrer um acidente durante uma situação com reféns e perder uma das pernas. Ele, sua esposa Sarah (Neve Campbell) – de Pânico (Scream, 1996), e seus dois filhos estão hospedados no recém inaugurado maior e mais seguro edifício do planeta, o Pérola. Situado em Hong Kong, o prédio é criação do multimilionário Zhao Min Zhi (Chin Han), e conta com 220 andares, cuja metade é a área comercial já 100% funcional (incluindo um parque florestal na vertical) e a outra metade, área residencial prestes a inaugurar. É aí que entram os serviços de Will. Tudo parece bem, até que um incêndio dentro do Pérola faz com que sua família fique presa no andar 98, e ele receba a culpa pela falha nos sistemas do edifício. Determinado a salvá-los a qualquer custo, Will precisa limpar seu nome, descobrir quem está por trás de uma conspiração e impedir que o Pérola queime por completo, tudo isso em 1h e 42 minutos de filme.
Nada de novo por aqui, certo? Temos um típico filme de ação hollywoodiano: personagens simples porém cativantes, ótimos picos de tensão (especialmente se você, como eu, tem medo de altura), uma pitada de drama para envolver o público, os clássicos alívios cômicos que Dwayne Johnson sempre traz para os personagens que interpreta e claro, o essencial: muitas explosões. A caracterização não deixa a desejar, todos estão sujos quando tem que estar, o corpo feminino não é hiper sexualizado e os personagens chineses falam mandarim entre si, que é uma coisa que geralmente me incomoda durante a maioria dos blockbusters, onde estão todos sempre falando inglês, mesmo a história não se passando num país de língua inglesa.
Tudo parecia correr bem até que Will é forçado a escalar uma estrutura de no mínimo 100 andares, balançar-se num guindaste e escalar a lateral do Pérola, tudo isso com uma prótese na perna e muita fita adesiva. Num giro sem aviso prévio, o filme joga em nós todas as situações mais absurdas que um homem poderia enfrentar, de criar um equipamento de escalagem com cordas de cortina, totens indígenas e a famosa silver-tape, a ganhar uma luta corpo a corpo pulando numa perna só. Will é capaz de dar saltos altíssimos, com rapidez e precisão, é aparentemente imune a fumaça, tem força para segurar os cabos de uma ponte no lugar e é ajudado até pelo acaso: ele fica pendurado pela prótese a uma altura de 150 andares, consegue se impulsionar no último segundo e escala tudo de volta como se não tivesse sofrido um arranhão.
É possível compreender que o diretor quer que a gente acredite no The Rock: a motivação dele é clara desde o início, não há nada que ele não faça pela sua família, e isso é reiterado fortemente durante o decorrer da trama. Infelizmente, como todos bem sabemos, querer não é poder, e por mais determinado que Will Sawyer seja, ele não deveria se tornar imediatamente imune a tantas dificuldades quando enfrentadas no período de uma noite. Sabe aquelas mães que levantam carros para tirar seus filhos debaixo? Elas não são capazes de levantar carros, quebrar vidros à prova de bala, lutar com uma espada samurai e ainda ter tempo de fazer expressões dramáticas para a câmera, enquanto contemplam a nova dificuldade a ser enfrentada.
O que poderia ter sido um clássico filme de ação acaba se tornando um apanhado de impossibilidades, que tiram a atenção do espectador da história e o fazem focar no aspecto cômico da coisa: as tensões são gradualmente substituídas por risadas à medida que os diálogos ficam mais clichês e as ações se tornam mais absurdas. Você até tenta levar a sério, afinal você já chegou até ali, é melhor que faça dessa experiência algo prazeroso, mas fica muito difícil quando absurdos em cima de absurdos se juntam num final previsível e possivelmente caído do céu. Ao que me parece, Dwayne Johnson está caindo numa categoria muito conhecida, lar de figuras como Jean Claude Van Damme, Chuck Norris e MacGyver, a diferença é que, nos tempos de hoje, fica difícil acreditar na existência de qualquer um desses caras, mesmo que, como no caso do personagem Will Swayer, sua motivação seja forte e convincente.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.