De acordo com diversos critérios de audiência e financeiros, o basquete é o
segundo esporte mais assistido no mundo. A NBA, maior liga basquetebolística do mundo arrecadou impressionantes
7,3 bilhões de dólares, só na temporada 2016/2017. O amor pela bola laranja cruzou fronteiras, alcançou diferentes pessoas ao longo do tempo e consolidou o esporte como uma das grandes paixões mundiais. Todo esse amor e dedicação foram transportados para diversas mídias ao longo do tempo: documentários, filmes, séries, livros, HQs e claro, mangás.
O Japão abraçou a bola laranja como um dos seus esportes favoritos nos últimos anos, com auge em 2006, quando o país sediou o Campeonato Mundial de Basquete. No entanto, essa popularidade é caso recente e um homem e sua obra é um dos responsáveis por esse sucesso: Takehiko Inoue e sua obra prima, Slam Dunk. Sendo considerado um dos maiores mangaka do mundo, Inoue ostenta orgulhoso a autoria de uma das obras que mudaram a história do basquete no continente japonês e inflamaram a paixão pelo esporte de diversas pessoas ao redor do globo.
Slam Dunk conta a história de Hanamichi Sakuragi, um delinquente que estuda no colégio de ensino médio Shohoku. Sakuragi faz tipo mal encarado, com um porte físico naturalmente forte e cabelos vermelhos que marcam a sua personalidade despojada e despreocupada com as obrigações escolares. Apesar de fazer o estilo bad boy, Hanamichi nunca foi popular com as garotas, pois sua personalidade difícil e fama de mal encarado afugenta as meninas. Sua vida muda quando, por um acaso, ele conhece Haruko Akagi. A doce garota não foge de Sakuragi e o elogia dizendo que o mesmo parece muito com um jogador de basquete. A partir daí, a garota leva o ruivo para conhecer as emoções que o esporte pode oferecer.
Slam Dunk é um dos maiores mangás da história. Possui 31 volumes completos e vendeu, só no Japão, 121 milhões de cópias ao longo dos anos de 1990 a 1996, tornando-se o
oitavo mangá mais vendido da história do Japão. Da Shueisha (maior editora do Japão, no qual o mangá foi publicado), além disso o título ocupa a quinta colocação no
ranking de mais vendidos. A obra de Takehiko Inoue é tão importante para a história do basquete no Japão que em 2010 o autor recebeu um
reconhecimento especial da JBA, a Associação Japonesa de Basquete, por seus esforços em popularizar o basquete no país do sol nascente.
São vários os motivos que tornam Slam Dunk uma das obras primas dos mangás. O primeiro deles é bem óbvio: a sua arte estonteante.
Inoue é dono de um fino traço realista que consegue transmitir os movimentos rápidos inerentes ao basquete. A ambientação espacial durante os jogos do time é excelente e o leitor por vezes se sente dentro da quadra, como se fosse um sexto jogador. O detalhismo presente na obra dá o toque especial que torna a arte de Slam Dunk inesquecível: é perceptível notar o suor escorrendo nas curvas dos músculos dos jogadores, perceber suas expressões faciais com detalhes tão minuciosos que deixam impressionados os melhores desenhistas do mundo. Aliado a tudo isso, o humor cartunesco presente em grande parte da obra também ressalta aos olhos: ele é sempre usado em situações estratégicas que muitas vezes quebram o tom mais sério da narrativa. No entanto, isso não é algo ruim: esses momentos de quebra servem para valorizarmos o bom fluxo da narrativa e os quadros onde a arte segue o realismo.
Porém, o grande primor de Slam Dunk é mesmo o seu roteiro. A narrativa contada por Inoue é leve e despretensioso e nos apresenta um conjunto de personagens únicos que compõem um arco narrativo que mescla adrenalina, determinação, grandes desafios e superação. Os colegas de equipe de Sakuragi tem seus arcos dramáticos muito bem desenvolvidos e aprofundados dentro da história, mostrando que eles não são apenas meros coadjuvantes – eles também são personagens principais na história. Afinal, eles são um time.
Slam Dunk também serve como uma aula de basquete para iniciantes. Por diversas vezes, o autor insere quadros no fluxo narrativo com o objetivo de explicar ao leitor as diversas regras do basquete. Ainda, diversas situações são exploradas e mostram aquilo que gira em torno da cultura do basquete: o hype às superestrelas, a cultura dos sneakers (tênis de basquete), a música e o amor pelas estatísticas. Por ser tão didático e divertido, Slam Dunk fez uma nação inteira descobrir e se apaixonar por esse esporte tão maravilhoso que é o basquete. Por este motivo, esse mangá me é muito mais que apenas um mangá de esporte comum.
Apesar de ser caracterizado por aí como um mangá shonnen (os jogos entre as equipes rivais ao time da escola Shohoku são emocionantes e seguem a mesma estrutura dramática que outros mangás do mesmo gênero, só que sem poderes ou movimentos mirabolantes), pra mim, Slam Dunk é uma história de amor. Um amor daqueles mais gostosos; aquele amor que você descobre meio que por um acaso da vida e conforme o tempo passa, você percebe que não consegue mais ficar sem. Dê uma chance a Slam Dunk (e ao basquete). Tenho certeza que você vai se apaixonar.
O mangá é publicado no Brasil pela Editora Panini e pode ser encontrado em livrarias e gibiterias de todo o Brasil.
Divide seu tempo entre ser um caçador de cartas Clow e um cientista nas horas vagas. Não é muito de assistir filmes pois acredita que os mangás não se lerão sozinhos. Canta todas as músicas da dupla Sandy & Júnior e dança todas as coreografias do Backstreet Boys quando está bêbado. Quando está sóbrio também.