Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018) inicia três anos após os eventos que culminaram no trágico fechamento do parque na Ilha Nublar em
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015). Somos apresentados às reverberações daqueles acontecimentos e também a uma nova situação: o vulcão que estava, até então, adormecido no centro da ilha agora está prestes a entrar em erupção colocando em risco todas as espécias que estava vivendo ali depois dos humanos abandonarem o local. Assim, há um dilema envolvendo a intervenção do governo norte americano em algum tipo de manobra de salvamento dos dinossauros, por um lado apoiado por grupos de defensores do animais, que veem os dinossauros como vidas que devem ser preservadas apesar do contexto de sua criação e das implicações de sua existência, e por outro combatido por pessoas que acham que devem deixar o destino cuidar da nova extinção dos répteis da face da Terra. Entre este último grupo está o Dr. Ian Malcolm (em uma rápida participação de Jeff Goldblum), que desde sua primeira aparição em
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993) já alertava sobre os perigos de se brincar com as forças da natureza.
O filme é bastante eficaz em dar continuidade à expansão deste novo universo iniciado com o anterior, tratando de resolver alguns problemas deste, principalmente no que diz respeito a alguns personagens, mas infelizmente mantendo alguns outros. Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), reaparece em uma virada interessante (mas, ainda assim, estranha) de personalidade desde o último filme, agora fazendo parte de um dos grupos que tenta conseguir apoio governamental para a remoção dos animais da ilha antes da iminente explosão vulcânica. Sem obter muito sucesso na empreitada, Claire recobra as esperanças ao ser chamada à residência de um tal Benjamin Lockwood (James Cromwell), e aqui somos apresentados a novos elementos ao universo de Jurassic Park, pois novas informações sobre sua origem são apresentadas.
Eventualmente, claro, Claire precisa pedir ajuda à Owen Grady (Chris Pratt), personagem que passa por uma boa melhorada em relação ao primeiro filme. Enquanto lá Owen se mostrava confiante demais em suas habilidades, fazendo com que jamais temêssemos por sua segurança ou das pessoas ao seu redor, aqui ele aparece mais vulnerável fazendo nos importar mais com sua vida. Mas a maior mudança em relação ao personagem foi em sua comicidade. Enquanto no filme anterior Owen não passava de um canastrão arrogante, aqui parece que finalmente os roteiristas se tocaram do potencial cômico de Pratt e souberam aproveitá-lo muito melhor.
Completando o grupo que se arriscará na ilha (em substituição aos dois jovens do filme anterior, que não passavam de reproduções das crianças do filme de 93) estão os carismáticos Zia (Daniella Pineda) e Franklin (Justice Smith), que mesmo que tenham uma função de alívio cômico em certos momentos (especialmente Franklin) cumprem também papéis importantes dentro da narrativa.
J.A. Bayona é bastante competente na direção das cenas de ação (com destaque à sequência inicial e à da erupção), bem como na criação da tensão do filme, fazendo com que nos mantenhamos sempre atentos ao perigo. O grande problema do filme é tentar criar mais do que seria necessário. Além de ter que lidar com a ideia absurda de dinossauros híbridos superinteligentes do filme anterior (os dinossauros por si só já não são perigosos o bastante, ele também precisavam ser superinteligentes?) o filme cria uma subtrama ainda mais desnecessária, mais uma vez trazendo a ideia da ganância destrutiva dos seres humanos frente à inestimável possibilidade de riqueza proporcionada pela venda dos dinossauros (ou de seu genoma) e ainda acrescentando elementos mais malucos, que mesmo que possam ser coerentes dentro da lógica criada pelo universo do filme, pode ser um tiro no pé da franquia. Todos sabemos que o que importa mesmo são os dinossauros, o que vier além disso certamente vai sobrar.
E é exatamente o foco nos dinossauros a melhor parte do filme. Aqui somos levados a nos importar com os répteis gigantes como seres vivos que são, algo que havia sido apenas pincelado nos filmes anteriores (especialmente nos dois primeiros). A relação de amizade de Owen com os Velociraptores é levada à outro patamar e chegamos mesmo a temer por uma nova extinção dos animais.
No mais é necessário falar que há algumas boas referências ao primeiro filme, mas elas aparecem de forma muito mais orgânicas e menos gratuitas do que no filme anterior. Por outro lado este deve ter sido o filme da franquia que menos fez uso da trilha icônica do original, composta brilhantemente por John Willims . Aqui Michael Giacchino (que também compôs a trilha do último filme) opta por uma música mais épica e ao mesmo tempo mais moderna que tende a valorizar a tensão sempre frequente no filme.
Jurassic World: Reino Ameaçado deixa um ótimo gancho para um próximo filme e que, se souber se esquivar dos problemas criados tanto no filme anterior como neste, deverá render uma aventura grandiosa e, quem sabe, um excelente fechamento para a saga da volta dos dinossauros à Terra.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.