Em 2017, um dos gênios do mangá deixa o nosso mundo, Jiro Taniguchi, aclamado mangaka e autor de obras famosas que lhe renderam vários prêmios tanto no Japão quanto no resto do mundo, destacamos em seu vasto legado mangás como Botchan no Jidai, Aruku Hito (O Homem que Passeia) e Sennen no Tsubasa, Hyakunen no Yume (Guardiões do Louvre), sendo este o último publicado em vida.
O mangá começa com um japonês em um hotel em Paris. O personagem é quadrinista e veio de um festival que ocorrera em barcelona, aproveitando seus últimos dias na Europa antes de voltar ao seu país, o artista decide ficar uns dias na capital da França para fazer um passeio pelos museus. Seus primeiros dias na cidade são marcados por uma doença misteriosa que faz com que seus planos sejam encurtados, ao invés de visitar vários museus, ele decide ver o Louvre que é o maior museu do mundo e a partir daí a narrativa se desenvolve.
Jiro Taniguchi tem um estilo próprio que o aproxima de outros artistas de diferentes linguagens, seu olhar para o cotidiano é apurado e encontra narrativas que não são perceptíveis ao olho nu. Embora o mangá tenha elementos sobrenaturais em determinados momentos, muito do que acontece nele é pautado na realidade. Imagine você, leitor, dedicar um tempo para olhar um quadro ou até mesmo uma multidão que caminha. Seria possível, talvez observar pequenas histórias e narrativas, costumeiras no cotidiano, mas sem atenção necessária. Muito dessa preocupação do olhar é proveniente de um pensamento contemporâneo da nossa sociedade. Hoje, devido ao uso de aparelhos móveis, à correria do dia-a-dia, é comum escapar essa contemplação do nosso espaço e das pessoas. Esse exercício observacional é uma proposta do autor que pode gerar uma boa reflexão sobre a sociedade e o pensamento do ser humano contemporâneo.
A arte e a narrativa visual do Jiro Taniguchi são incríveis, a maneira como os personagens e as paisagens são desenhadas são verdadeiras formas de arte. Inclusive, durante o desenvolvimento da história no Guardiões do Louvre é possível observar como o autor recria vários quadros famosos e como o personagem (que claramente assume a voz do autor) interage com elas. É uma verdadeira aula de referências e paixão pelas artes plásticas e pintura. A beleza dessa arte é reforçada pela edição do material no Brasil. Aqui, ele saiu pela a Editora do Pipoca & Nanquim que tem uma proposta diferente, sempre trazendo para o país livros e quadrinhos que nunca tinham sido publicados por aqui antes. O acabamento da editora é luxuoso, capa dura e com papel de boa qualidade e gramatura, publicado no tamanho original, é um mangá com um design nunca antes publicados por aqui. É de se encher os olhos logo nas primeiras folheadas. Ao final, um bônus, há um glossário que explica todas as expressões utilizadas durante a história, além de uma breve explicação de quem são os artistas que são citados no decorrer do mangá.
Guardiões do Louvre certamente é uma fuga, principalmente da vida agitada dos dias de hoje. Sua apreciação deve ser feita lentamente e com uma atenção para os mínimos detalhes, sua contemplação e bucas de narrativas fazem com que sua existência seja digna de ser exposta em um museu.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.