Antes de qualquer outra coisa, é preciso deixar bem claro que a trilogia Ocean é uma das minhas favoritas dentre todas as trilogias do cinema. Minha relação com a franquia é à nível de fazer maratona e rever várias vezes – todos eles – até mesmo as continuações, que as pessoas geralmente não gostam muito. Eu simplesmente adoro filmes de assalto, que é um subgênero mais conhecido como “heist film/heist movies” (mas na minha infância eu chamava só de “filme de ladrão” mesmo), geralmente são filmes com planos engenhosos em que o protagonista ou grupo de protagonistas precisa ser mais esperto que os antagonistas para superar seus obstáculos, não mais forte ou ser o melhor lutador, por exemplo. E esse tipo de história me proporciona muita alegria, indo muito além do puro entretenimento. Não sei se é assim com todo mundo, mas às vezes o filme só me distrai durante seu tempo de exibição, enquanto outros realmente tem a capacidade de melhorar o meu humor. E, para mim, Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001) – e suas continuações – são o melhor exemplo possível de filmes que causam esse tipo de sensação.
Pois bem, dito isso, eu não poderia ter ficado mais ansiosa e, confesso, um pouco temerosa, quando anunciaram Oito Mulheres e Um Segredo (Ocean’s 8, 2018). Fiquei com medo que mexessem demais nos “meus” filmes e toda essa conversa fiada e mimada de fã exagerado, sabe? Mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de ver um filme de assalto só com mulheres me deixava extremamente animada. E foi com esse misto de expectativas que eu fui assistir ao longa no dia de estreia.
Oito Mulheres e Um Segredo conta a história de Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Daniel Ocean (o protagonista da franquia de 2001) que, recém-saída da prisão, planeja executar um assalto impossível durante o Met Gala, em Nova York. Para tornar o plano possível, ela procura a ajuda de Lou (Cate Blanchett), sua amiga de longa data, para que juntas possam reunir o melhor time possível de golpistas.
Ou seja, é bem parecido com Onze Homens e Um Segredo. E essa é a primeira grande crítica que o filme tem recebido. O fato de não ter uma estrutura realmente inovadora e se pautar demais no anterior, parecendo uma mera versão feminina. Mas, não concordo inteiramente com essa visão. Porque, diferentemente de Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 2016), que existia dentro do universo dos filmes anteriores, mas era uma continuação e tinha uma identidade muito própria, que não tentava imitar os trejeitos da versão antiga, aqui, percebe-se uma tentativa clara de emular a versão de 2001, usando uma trilha sonora muito parecida, assim como movimentos de câmera, dinâmicas entre os personagens e estruturas de roteiro. Só que eu encarei isso tudo como uma grande homenagem ao outro filme e à assinatura muito própria de Steven Soderbergh. Quase como se não fosse pra levar o filme tão a sério assim, como se fosse um extra, um especial de natal, por exemplo. Uma prova disso são os fan services que o filme possui. Então, nesse sentido, ser parecido demais com o primeiro não é uma coisa necessariamente ruim, pelo menos não pra mim. Entretanto, creio que a forma copiada não causa a sensação que pretendia. Portanto, de qualquer forma, não foi tão bem sucedida quanto deveria e merece ser criticada.
Me deparei com uma análise em um vídeo no Youtube em que a autora defende que a sensação ao assistir ao filme é de que as personagens apenas refletem as personas de suas atrizes, ou seja, é como estar assistindo Sandra Bullock, ou melhor, a imagem que fazemos de Sandra Bullock agindo diante das câmeras e o mesmo acontece com as outras. Sandra é a carismática e mais identificável, mais “comum” dentre as outras, Cate é mais misteriosa e inalcançável, Rihanna é irreverente, rebelde e descolada, Mindy Kaling é engraçada até mesmo quando fala muito pouco, e Helena Bonham Carter é a esquisitona que aprendemos a amar. E o raciocínio segue. Concordo muito com esse ponto de vista porque ele basicamente explica porque eu simplesmente não consegui encarar o filme com mais seriedade.
É um pouco triste porque faz você pensar o tipo de filme que seria se, primeiro, fosse dirigido por uma mulher, realmente acredito que a diferença seria gigantesca. Segundo, se tentasse construir uma identidade mais forte, construindo melhor suas personagens. Faz falta também uma figura mais antagonista aqui, que acrescentasse um sentimento maior de perigo, como é Terry Benedict no filme de Soderbergh. O clímax é até satisfatório mas não tanto quanto poderia ser se elas passassem um aperto maior, faltou aquele momento de tensão energizante. Porém, não se engane, é nas diferenças com o primeiro, e essas diferenças existem sim, que o filme ganha alguma força. Isso e o charme quase insuportável que Cate Blanchett irradia toda vez que entra em cena.
Resumindo, Oito Mulheres e Um Segredo é uma experiência muito leve e divertida que não aposta na inovação para renovar a franquia anterior, que aliás, a meu ver, nem tenta renovar de maneira nenhuma, apenas homenagear. Um filme que aposta na química entre seu elenco, o que é um acerto tendo um time tão cativante, e que consegue, acima de tudo, me trazer um pouco do que eu sinto quando vejo os originais, resultando em um saldo positivo, apesar dos pesares.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.