12 Filmes Brasileiros que Amamos

Em 19 de junho de 1898, um italiano que havia acabado de adquirir um equipamento de filmagem – grande novidade da época – estava chegando ao litoral brasileiro e decidiu fazer um registro do belíssimo litoral carioca antes de desembarcar. O curta, que ficou conhecido como Uma Vista da Baía de Guanabara, é tido como a primeira captação em vídeo do país. Assim, a data é lembrada e comemorada ainda hoje como o Dia do Cinema Brasileiro, que este ano completa 120 anos.
Para celebrar o riquíssimo cinema tupiniquim neste 19 de junho decidimos então falar um pouco sobre os filmes que mais nos marcaram. Não necessariamente os melhores tecnicamente falando ou mais importantes historicamente falando, mas os que tem um lugarzinho guardado em nossos corações. Decidimos limitar quatro filmes pra cada (o que foi torturante), e só saiu filme majestoso, o que sabemos que o cinema brasileiro tem de sobra.
THIAGO SENA
(1931)
O primeiro grande filme brasileiro, Limite, foi escrito e dirigido por Mário Peixoto em 1930 chegando a suas primeiras exibições no ano seguinte. Restaurado na década de 70 e reverenciado pelos cineastas daquela década, o filme figura em constantes listas dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
(1968)
O Cinema Novo e o Cinema Marginal foram importantes movimentos da sétima arte brasileira, com um claro objetivo de fragmentar um cinema que estava sendo desenvolvido no Brasil ao longo das décadas de 40 e 50. O Bandido da Luz Vermelha, dirigido por Rogério Sganzerla busca esse rompimento de maneira mais intensa e acaba entregando um filme que faz uma reflexão sobre a sociedade da época e o cinema.
(2012)
Muitas das vezes o regional engloba universal. Assim é o Som ao Redor do recifense Kléber Mendonça Filho. O filme se passa em um bairro de Recife e demonstra vários tipos de relação, a mais descarada é a relação de poder e a violência sofrida pelo povo. Assumidamente cinéfilo, Kleber nos brinda com um filme único com uma temática bastante regional do nordeste brasileiro, mas com claras referências ao cinema novo dos Estados Unidos nas figuras de Martin Scorsese, John Carpenter e Brian de Palma
(2014)
Juliana Rojas nos apresenta um filme bastante inusitado e cativante ao mesmo tempo.O musical, um gênero genuinamente americano e dos grandes estúdios, é trabalhado de maneira criativa e cômica apesar do tema mórbido. O filme causa uma reflexão seja pelas questões de especulação imobiliária (que chega, pasmem, em um cemitério) ou pelas questões sociais e comportamentais da nossa sociedade contemporânea.
ELVIO FRANKLIN
(1963)
Baseado no livro visceral de Graciliano Ramos e dirigido por Nelson Pereira dos Santos, Vidas Secas foi o filme que, na minha juventude, me fez dar maior atenção ao cinema brasileiro de antes de eu nascer. O filme mostra as agruras de uma família de sertanejos pobre contra as forças da natureza, mas também do Estado e da desigualdade social e chegou a concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1964 juntamente com outro filme inigualável do cinema nacional, Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha. Infelizmente nenhum dos dois filmes levou o prêmio, mas certamente a atuação de um certo quadrúpede no filme de Nelson será lembrado como uma das melhores atuações que o festival francês já viu.
(2002)
Um dos filmes que marca o fim da chamada Retomada do cinema brasileiro, Cidade de Deus é, com certeza, um dos filmes mais importantes da minha vida. Não só pela jornada crua e hipnotizante daqueles personagens, mas pela forma narrativa como as histórias são contadas, com uma estrutura de roteiro incrível de Bráulio Mantovani (baseado no romance de Paulo Lins), unida a uma direção impecável de Fernando Meirelles e Kátia Lund, além das performances de todo o elenco (formado, inclusive, por alguns atores com pouquíssima experiência na época). Cidade de Deus é um daqueles filmes que a cada revisitada me encanta e me surpreende sempre mais.
(2011)
Aqui representando meu amor pelo cinema nordestino, poético, sonhador, quase surreal, mas também político e subversivo, que reflete uma cultura das mais ricas do mundo. Cláudio Assis nos presenteia com A Febre do Rato, seu terceiro longa, um filme que me enche os olhos – e os ouvidos – até hoje, por transformar uma área suburbana do Recife em um universo completamente fantástico, mas que tanto nos fala sobre o nosso próprio, com personagens tão apaixonantes quanto possível, em uma fotografia em preto e branco das mais lindas que eu já vi.
(2015)
Fechando com mais um representante do Nordeste, dessa vez de uma geração mais nova, o filme de Gabriel Mascaro foi uma das coisas mais apaixonantes que assisti nos últimos anos. O filme é transgressor em vários sentidos, mas sem perder em nenhum momento a sensibilidade, ao tratar de um universo rústico como o das vaquejadas e mostrar a humanidade que há ali, seja pelo tratador que sonha em ser estilista, seja por uma complexa relação entre mãe e filha, tudo isso quebrando completamente convenções, tanto cinematográficas quanto sociais.

 

MYLLA FOX
(2007)
Saneamento Básico é dirigido pelo gaúcho Jorge Furtado, cujo trabalho de humor ágil e roteiro inteligente me agrada muito. Em seu currículo temos outros filmes famosos, como Meu Tio Matou um Cara (2004) e O Homem Que Copiava (2003) e um dos meus favoritos, o curta documentário Ilha das Flores (1989). Dentre estes, escolhi Saneamento Básico para figurar nessa pequena lista por ser pouco valorizado, o que é muito injusto à vista do mar de comédias nacionais mequetrefes quebrando recordes de bilheteria por aí, Saneamento Básico, por ser um representante digno do gênero que ainda consegue fazer uma delicada declaração de amor à arte cinematográfica, com cenas memoráveis, muita metalinguagem e elenco afiadíssimo, deveria se destacar e, por vezes, passa esquecido. Mas, não desta vez!
(2003)
Marcelo Masagão criou o filme que, juntamente de Ilha das Flores, foi o responsável pela construção da minha identidade durante a adolescência. Tenho uma memória muito clara de rever ambos várias vezes, e até hoje, volta e meia, me pego pensando nas reflexões e nas inquietações que me proporcionaram. Não posso dizer com toda certeza que entendi tudo o que 1,99 pode estar dizendo em seus 72 minutos na primeira ou na milésima vez que assisti, mas com certeza senti e continuo me impactando com todas as sensações. Não é bem um documentário, mas também não é bem uma ficção, mas com certeza é uma análise ácida e certeira da sociedade consumista.
(2006)
De Heitor Dhalia, O Cheiro do Ralo trata de obsessão e carência com muito humor negro e diálogos rápidos. Um ambiente estranho e personagens mais estranhos ainda se relacionam de forma cada vez mais louca e não-humana, coisificada mesmo, transformando esse filme numa experiência meio encantadora, meio perturbadora. Eu não soube muito bem como me sentir a respeito depois que o filme acabou pela primeira vez, mas aos poucos fui digerindo – ou talvez me acostumando com a bizarrice – e refletindo sobre o modo que o protagonista se relacionava com os outros personagens. Em suma, é feio, sujo e repugnante, mas é fantástico também. Merece sua atenção e a indicação nessa lista.
(2014)
O filme de Karim Aïnouz fala comigo de muitas maneiras, seja pela temática, passando pelas relações fraternas, mudanças, deslocamento e inquietação, seja pela estética mesmo. Dentre tantos outros filmes que eu poderia escolher para encerrar a lista, sendo os três primeiros parte do meu crescimento antes de entrar no cinema e este já como estudante de uma arte que aprendi a amar ainda criança, escolhi Praia do Futuro porque prezo muito pelas sensações que eu tive quando assisti o longa pela primeira vez. E é de minha vontade que outras pessoas possam se sentir assim, da mesma maneira que eu. Acho um filme tocante, bonito e muito marcante. Muitos outros, muito mais icônicos inclusive, poderiam estar aqui, talvez se eu tivesse reassistido alguns eu repensasse o resultado. Mas deste eu lembro com um sorriso e espero que o mesmo sorriso esteja com quem decidir assistí-lo também.
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Thiago Sena
Bacharel em Cinema e Audiovisual também formado em Letras. Apaixonado por literatura, poesia, pintura, filmes do Bruce Lee, do Tarantino e do Clint Eastwood. Fã nº1 e consumidor excessivo de Coca-Cola, bacon e planos-sequência. Exímio conhecedor de pastéis.
Elvio Franklin
Estudante de cinema formado em História. É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo pra concretizá-los. Odeia filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por western, filmes de gangster e distopias.
 
Mylla Fox
Estudante de Cinema, quase formada em Letras Alemão. Escuta música triste pra ficar feliz. Se emociona quando fala de The Last of Us e enlouquece quando o assunto é Harry Potter ou Adventure Time. Apreciadora dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa. Uma Goonie genuína.