Méliès – O mágico

O cinema, como sabemos, surgiu no final do século XIX. Contudo, o cinematógrafo não tinha finalidades artísticas. Seu principal uso era para experimentos científicos e entretenimento em festivais de variedades. Aliás, em um desses festivais aconteceu de estar presente Georges Méliès, um ilusionista que via naquele aparelho um potencial quase infinito para criar sonhos.
George Méliès é tão importante para a história do cinema que podemos dizer que é imensurável tudo o que ele influencia ou inspira. Em uma época em que a linguagem do cinema estava se formando, Méliès foi visionário e desenvolveu uma série de técnicas além de seu tempo. O primeiro estúdio de cinema veio justamente dessa vontade de fazer filmes e explorar seu potencial ao máximo.
Ele foi responsável por criar ou reimaginar dentro do cinema alguma das técnicas mais conhecidas da sétima arte. O primeiro elemento foi o stop-motion, Méliès percebeu que quando quadros estáticos são postos em um determinado ritmo e com leve diferenciação entre eles era capaz de criar sensação de movimento. Além disso, ele trabalhou diversas vezes com sobreposição de negativo, fazendo com que uma parte do filme começasse ainda na outra, dando uma sensação de mudança dentro de mesmo espaço e tempo. Outra grande invenção sua é a truncagem, que seria uma cena com a câmera parada e substituindo elementos de cena.
A técnica da truncagem foi o que rendeu a Méliès a alcunha de pai dos efeitos especiais, não à toa, seu filme mais conhecido Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, 1902) ilustra bem isso. Concomitantemente aos avanços no campo dos efeitos especiais, Méliès contribuiu com a linguagem cinematográfica por meio de sua montagem e, sobretudo, pelos roteiros de seus filmes abordando temas como ficção científica, terror e fantasia, também sendo conhecido como precursor desses gêneros cinematográficos que viriam a ser produzidos pela a industria que ainda se consolidava.
George Méliès produziu centenas de filmes ao longo de mais de 30 anos de carreira como diretor, grande parte se perdeu com o tempo, muito devido a Primeira Guerra Mundial e tanto pela falência do seu estúdio, sendo obrigado a se desfazer muito de suas obras em troca de algum dinheiro. Contudo, a cinemateca francesa, ao longo da década de 30, conseguiu restaurar alguns de seus filmes e dar o devido respeito que o diretor merecia.
Sua importância para a cultura do cinema é tanta que até os dias de hoje lhe são rendidas justas homenagens. O maior prêmio do cinema francês leva seu nome e em 2011, o cineasta e cinéfilo Martin Scorsese faz um filme em sua homenagem, A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011). Sua contribuição para o cinema é inestimável e sua exibição deveria ser obrigatória em qualquer escola ou curso de audiovisual, tanto pela importância de sua obra como pela paixão que tinha pelo que fazia. George Méliès morreu em 1938 deixando uma das maiores heranças do cinema: sua capacidade de ensinar a sonhar e dar magia ao mundo.
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Este canal no YouTube é totalmente dedicado ao mestre Georges Méliès e agrupa vários filmes de sua extensa filmografia. Vale muito a pena dar uma conferida.
Deixaremos aqui uma de suas últimas obras, A Conquista do Polo (À la conquête du pôle, 1912), que hoje completa 106 anos.