God of War – A humanidade em Kratos

Se pensarmos em um rosto que possa representar uma geração de consoles do início do século XXI, certamente um dos primeiros a serem imaginados seria o rosto de Kratos. Vindo de uma onda de jogos hack and slash que tem como maior representante a franquia Devil May Cry (iniciada em 2001 desenvolvido pela Capcom), surge em 2005 God of War (Deus da Guerra), um jogo do gênero hack and slash de ação e aventura ambientado no mundo fantasioso da Mitologia Grega. O jogo é desenvolvido pela Santa Monica Studio e publicado pela Sony, sendo assim um exclusivo do console da empresa japonesa, o PlayStation 2. O sucesso foi imediato garantindo logo sequências, a última canônica God of War III foi lançado em 2008 para PlayStation 3. Contudo o final do último jogo que seria algo definitivo deixa em aberto uma possibilidade de retorno. Eis que em 2018, exatos 10 anos do lançamento do último jogo canônico, God of War (sem uma numeração) volta para os gamers de todo o mundo. Será que o jogo agradou? Vamos conferir.
Para fins didáticos, eu vou dividir essa crítica em 4 aspectos: gráficos, gameplay, personagens e enredo. Começando pelos gráficos. Eu joguei em um Ps4 Pro com o máximo de resolução que o dispositivo oferece em uma tela FullHD e apesar de não ter experimentado o jogo em 4K, posso afirmar que este é o jogo com gráficos mais bonitos que joguei no PlayStation 4 (até então esse posto era de Uncharted 4:  A Thief’s End de 2016). Tudo está impecável, as cores, as texturas é possível ver o suor no rosto do personagem e a maneira como ele interage com o cenário, além dos planos landscape lindíssimos que o jogo proporciona nas terras nórdicas.
Continuando, a gameplay foi completamente reformulada. Confesso que ao início do jogo fiquei curioso como iria se manter a proposta de hack and slash, já que a câmera, que nos jogos antigos era fixa e com poucas movimentações, agora passa acompanhar o personagem ao estilo dos jogos da Naughty Dog, as finalizações ainda permanecem e a gameplay é mais fluida que a da primeira trilogia, que, por ter um ângulo fixo, impossibilitava o jogador de visualizar o cenário e apreciá-lo. Além disso, o jogo reformulou o sistema de upgrade deixando ele com elementos de RPG podendo dar ups em armas, escudos, armaduras etc.
Contudo o grande ganho do jogo é seus personagens. Os dois principais Kratos e Atreus. Pai e filho em uma jornada pelo desconhecido. Parece familiar? Sim. Claramente inspirado em The Last of Us (que na minha opinião está em top 3 da vida), God of War acerta em desenvolver mais seus personagens. Se antes Kratos era uma máquina de matar e com uma infinita sede de vingança, aqui ele se mantém mais sereno, até para acalmar seu filho. A medida que o jogo se desenvolve é possível perceber o quanto ele se importa com seu filho, procurando sempre educá-lo. Certamente Kratos não faz o tipo paternal e em muitas das vezes é frio e duro, mas tudo tem um sentido narrativo muito bem explorado aqui e quando vemos até onde ele iria para salvar seu filho, é emocionante. As primeiras horas do jogo dão mais humanidade a Kratos que todos os jogos anteriores sejam canônicos ou spin offs. Além deles há os personagens secundários que são bem trabalhados e muito cativantes com destaque para a Bruxa da floresta e a cabeça de Mimir.
Por fim, falaremos brevemente sobre o enredo para não dar spoilers. O jogo se passa em Midgar e é ambientado na Mitologia Nórdica. Kratos esconde seu passado e evita falar sobre os eventos dos jogos anteriores. Para quem é fã das histórias e lendas nórdicas o jogo é um prato cheio de referências, sempre cabendo o bom senso de entender que o jogo toma liberdades poéticas sobre os acontecimentos. Trata-se de um jogo de jornada com objetivos bem claros definidos nos primeiros minutos de gameplay e, assim como toda jornada, os personagens sofrem altos e baixos para cumprir seu destino. O enredo é bem trabalhado, mas tão bem trabalhado que quando o jogo acaba você não acredita que ele acabou. Essa talvez tenha sido minha maior frustração do jogo. Eu queria mais, mais histórias, mais gameplays e o jogo encerra de uma forma muito abrupta (claro que é um gancho para um novo jogo, mas mesmo assim).
God of War tinha tudo para ser o GOTY (Game of The Year), excelente gameplays, personagens cativantes, um protagonista reimaginado e mais humano, um enredo novo e muito rico a ser explorado, mas peca pelo seu final repentino e abrupto, deixando um gosto de quero mais na boca dos jogadores. Para ganhar o prêmio de Jogo do Ano era necessário que fosse perfeito, principalmente em um ano que terá Red Dead Redemption 2 como principal concorrente.