Não é de hoje que chamamos Donald Glover de gênio, (inclusive temos texto no site só sobre ele, clica aqui para saber mais) o ex-astro da série de comédia Community (2009 – 2015) se mostrou ainda mais versátil como pessoa ao se assumir no papel de diretor e roteirista de uma das dramédias mais relevantes dos últimos anos, Atlanta (2016 -). A série situada na cidade de mesmo nome trás um humor refinado e afiado com bastante senso crítico evidenciando problemas da comunidade local em relação à pobreza, questões raciais e sociais.
Após uma primeira temporada impecável, artisticamente brilhante e carregada com um peso narrativo pouco antes visto na TV norte americana, a série se tornou um pequeno fenômeno ao ganhar diversos prêmios da indústria de entretenimento, inclusive vários Emmys consolidando assim a genialidade de Glover e o restante do talentoso elenco que estrela o seriado.
Para quem ainda não está familiarizado com a série, em resumo, a Atlanta conta a história de Earn Marks (Donald Glover), produtor musical, e seu primo rapper Alfred (Brian Tyree Henry) que tentam alcançar o estrelato através do meio musical focando no gênero do rap. O elenco ainda conta com Lakeith Stanfield no papel de Darius, melhor amigo de Alfred e Zazie Beetz no papel de Van, namorada Earn.
A segunda temporada de Atlanta chegou com a missão de não só manter o nível da primeira, mas de provar que o talento de Glover não se resumia apenas a um começo promissor. Se a preocupação de todos era se a série manteria a mesma qualidade antes mostrada, pode ficar tranquilo que o segundo ano da série denominado especialmente de “Robbin’ Season”, é uma das coisas mais monumentais que você vai assistir este ano, sério, nada vai te preparar para surpresas promovidas pelos seus onze episódios.
A temática “Robbin’ Season” tem vários significados e analogias, não se resume apenas a um evento que acontece pouco antes do natal como é descrito no primeiro episódio, aqui a narrativa vai além, usando como força motriz da temporada tudo relacionado à “perda” ou “roubo”. Sentimentos como estes são explorados em todas suas vertentes e de alguma forma afetam todos os personagens de maneira profunda, a cada novo episódio essas características ganham novos contornos ao mesmo tempo em que trás um lado que não conhecíamos daqueles personagens até então.
O episódio inicial da temporada “Alligator Man” (2×01) dá o tom da temporada, ao mesmo tempo em que mantém o tom sóbrio da primeira. É interessante que a direção de Hiro Murai e o roteiro escrito por Donald Glover são o casamento perfeito de como uma história deve ser contada, enquanto a direção do primeiro é tecnicamente brilhante e extremamente cuidadosa, o roteiro do segundo mostra que está disposto a desafiar seu público com questões ainda mais controvérsias, evidenciando os perigos da cidade de Atlanta (que aqui se consolida como uma forma de personagem na história) em sua plenitude que pode ser evidenciado logo nos seus primeiros (e intensos) minutos, mas sem esquecer o humor inteligente e característico que permeia pelo restante da trama, representados aqui por Lakeith Stanfield (genial) e uma participação mais que especial do comediante Katt Williams como tio de Earn.
Um dos pontos fortes desse segundo ano foi à forma como os personagens foram tratados na narrativa. Aqui não só Earn ganha novos contornos mais dramáticos através da ótima atuação de Glover, mas os outros personagens também, como o sempre ótimo Darius, que rouba a cena assim que aparece, além de ter histórias contadas sobre o ponto de vista dos mesmos. Outros, ainda que não consigam trazer uma dinâmica similar, são ajudados pelo roteiro, como é o caso da personagem Van, que por sinal ganha dois episódios para chamar de seu neste novo ano. A temporada ainda trás um novo membro para gangue de Albert (Paper Boi para os íntimos), o desocupado Tracy (Khris Davis) dono de alguns dos momentos mais “sem noção” da série.
No final das contas é complicado resumir Atlanta apenas em adjetivos e descrições, é preciso imergir na história para entender todo contexto, mas posso te garantir que esta segunda temporada é excelente, com um texto mais maduro e que não se priva de ir além do que espectador espera, trazendo episódios fenomenais como “Helen” (2×04), “Woods” (2×08) e “North of the Border” (2×09), ou seguimentos engraçadíssimos como nos episódios “Barbershop” (2×05) e “Money Bag Shawty” (2×03), ou até mesmo quando o seriado se mostra versátil, consciente, incisivo e com um forte entendimento da sociedade negra norte-americana nos ótimos “FUBU” (2×10) e “Sportin’ Waves” (2×02), porém até quando o texto não alcança seus melhores momentos como em “Champagne Papi” (2×07), temos sempre um episódio que te lembra de porque a série é um das melhores dos últimos anos, como a obra prima “Teddy Perkins” (2×06), um episódio de terror, bastante sombrio e extremamente bem dosado capaz de te deixar tenso do início ao fim, além de mostrar uma das melhores performances do ano. E quando você finalizar o sólido “Crabs in a Barrel” (2×11) a única sensação será a de vazio e vontade de saber quando a série voltará a dar o ar da graça.
Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.