Para começar este texto, devo informá-los de que sou uma pessoa muito nostálgica. Vez ou outra passo um bom tempo pensando na minha infância. E foi assim que recentemente me lembrei de um longa de animação que eu assisti muitas vezes com o meu primo, lá pelos meus cinco ou seis anos. Junto com essa lembrança, veio uma pergunta: por que eu nunca ouvi ninguém falar que também assistiu a esse filme? Fiquei intrigada com isso e decidi revê-lo. Foi a melhor coisa que eu fiz, pois tive algumas revelações e irei compartilhá-las com vocês agora.
O filme em questão chama-se A Torradeira Valente (The Brave Little Toaster), lançado no ano de 1987 e baseado em um livro de mesmo nome, escrito por Thomas M. Disch em 1980. A primeira revelação que eu tive sobre esse longa foi através de algumas pesquisas que fiz, onde descobri que ele foi distribuído pela Disney. Sim, essa mesma Disney que fez diversos filmes que a gente conhece e sabe decorado de trás pra frente de tanto assistir. Então por que essa animação não ficou tão conhecida como Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937) ou Os 101 Dálmatas (One Hundred and One Dalmatians, 1961) que são até mais antigos? A resposta é simples. A produção de “A Torradeira Valente” foi feita por um estúdio independente. Isso aconteceu após John Lasseter, que seria o diretor do filme, ser demitido da Disney por ter insistido em trabalhar com uma técnica muito cara para a época e que, consequentemente, foi vetada pelos produtores executivos. Sendo assim, o projeto foi passado para o estúdio Hyperion com a direção de Jerry Rees, mas não foi totalmente desvinculado da Disney, pois era ela quem detinha os direitos do livro de Thomas M. Disch.
Provavelmente a esta altura do texto vocês devem estar se perguntando qual é a história do filme e por que eu não falei disso até agora, não é mesmo? Peço desculpas pelo mistério, mas é porque a partir daí a coisa começa a ficar um pouco curiosa. Aproveito para dizer que talvez eu dê alguns spoilers, então fica o aviso. O filme conta a história de cinco aparelhos eletrônicos que foram deixados há anos pelo seu dono em uma casa na floresta. Quando os aparelhos descobrem que a casa em que eles estão foi colocada à venda, eles decidem viajar até a cidade com o objetivo de reencontrar seu dono. Talvez essa sinopse tenha feito vocês lembrarem de alguma história semelhante, mas se isso não aconteceu, não se preocupem porque em breve tudo vai ficar bem claro.
Os cinco aparelhos são: a torradeira, o aspirador de pó, a luminária, o rádio e o cobertor elétrico. Cada aparelho eletrônico possui uma característica marcante em sua personalidade, o que acaba gerando alguns conflitos entre eles, mas ao longo das aventuras que vão passando, isso vai se resolvendo e a amizade deles se fortalece. O longa tem uma narrativa bem simples, mas ele tem um clima meio sombrio, com algumas cenas que podem deixar as crianças com um leve medo. O visual do filme como um todo é até mais escuro do que a gente costuma ver em filmes infantis. Essa animação, assim como a maioria de sua época, traz alguns momentos musicais, mas definitivamente esse não é o seu ponto forte. Ao meu ver, o mais interessante do filme é o fato de que os personagens são aparelhos eletrônicos, pois a gente não imagina que isso seja algo que possa despertar a atenção de uma criança, mas isso tá bem resolvido, você compra a ideia. Pelo menos eu comprei quando assisti na infância.
Tudo bem, mas vamos para a revelação curiosa. Bom, vou explicar direito e com mais detalhes. O longa “A Torradeira Valente” conta a história de cinco aparelhos eletrônicos que têm vida quando não estão na presença de humanos. Eles ficaram em uma casa antiga esperando o dono deles voltar. A casa foi colocada à venda e então eles saíram para procurar o tal dono. Sinto muito, mas eu vou ter que contar o que acontece no final do filme. Nessa aventura, os cinco aparelhos passam por uma floresta sombria, uma loja de peças de objetos antigos e terminam no ferro velho da cidade, onde finalmente encontram seu dono que antes era apenas uma criança e agora está bem mais velho, indo para faculdade. O rapaz resgata seus objetos e os leva de volta para morar com ele.
Agora acho que ficou clara a semelhança dessa história com a de um outro filme que conhecemos muito bem, não é? Se você pensou em Toy Story 3 (2010), acertou! Para quem não se lembra, em Toy Story 3, Woody e os outros brinquedos mais queridos de Andy são guardados em uma caixa para que o garoto os leve para a faculdade, mas por um engano, acabam sendo mandados para uma creche e com o tempo descobrem que lá é um lugar terrível e planejam escapar. Um grande momento do filme é quando eles vão para o lixão, mas quando estão prestes a ser incinerados, eles são salvos e depois conseguem voltar para o Andy, que acaba doando os brinquedos para uma menina muito fofinha que vai cuidar deles. Mas não para por aí, pois tem um momento específico do filme da Torradeira que é muito parecido com o que acontece em Toy Story 2. Na Torradeira Valente tem uma cena em que os aparelhos eletrônicos estão sendo engolidos por uma poça de lama, mas são resgatados por um homem baixinho e gordinho que ri muito e fica alucinado quando vê esses objetos. Esse homem é o dono da loja de peças de aparelhos antigos e ele lembra muito o Al da loja de brinquedos do Al em “Toy Story 2”.
A informação que eu guardei por último explica todos esses pontos em comum entre os filmes que citei aqui. John Lasseter, que seria o primeiro diretor de “A Torradeira Valente” é ninguém menos que o diretor de Toy Story (1995) e 2, além de ser o criador da ideia original de Toy Story 3, que no final das contas nem é tão original assim. Podemos dizer que a ideia toda de Toy Story é claramente baseada na história da Torradeira e “Toy Story 3” é praticamente um “A Torradeira Valente” com brinquedos. Durmam com essa.
Formada em Cinema e Audiovisual Carlini, ou “Carolcol” para os íntimos, é animadora, roteirista e dona das melhores tiradas no site Twitter. Por fora parece a Docinho mas por dentro é a Lindinha das Meninas Super Poderosas, inclusive no tamanho. Carol é a única pessoa do mundo que nunca viu Dragon Ball e não entende quem não acha graça no Último Programa do Mundo.