A sequência de Homem de Ferro (Iron Man, 2008), continua as aventuras de Tony Stark após revelar ao mundo sobre ele ser o Homem de Ferro. Jon Favreau retorna para dirigir o segundo filme. Justin Theroux assina o roteiro que conta com a história de Tony Stark (Robert Downey Jr.) lidando com o governo tentando transformar o Homem de Ferro numa máquina de guerra e com seu comportamento autodestrutivo devido a sua iminente morte quando os erros do passado do seu pai voltam para lhe assombrar na forma de Ivan Vanko (Mickey Rourke).
O filme tem como premissa o início da feira que junta as maiores mentes ao redor do globo, na tentativa de desenvolver novas invenções para melhorar a qualidade de vida da humanidade e do mundo, a Stark Expo. O evento foi criado por Howard Stark (John Slattery) e é parte de seu legado, como o próprio Tony cita durante suas apresentações.
Enquanto o mundo espera o nascimento de um super herói, Tony usa sua armadura como uma atração de festas. Inclusive, o mau uso dela por parte do Stark é o que cria a ruptura entre ele e seu melhor amigo James Rhodes (Don Cheadle), garantindo o surgimento do herói “Máquina de Combate” como o ‘Homem de Ferro do Governo’.
A trama do filme é inspirada por arcos como “O Demônio na Garrafa”, que apresenta nos quadrinhos Stark e seu problema com alcoolismo, fagulha que serviu como inspiração para a trama, embora a dependência de Stark não seja tão aprofundada. Outra grande influência no filme é “Guerra das Armaduras”, no qual Tony tem os seus projetos de armadura roubados e vendidos por aí. Em contrapartida da boa recepção do primeiro filme pelos fãs, a sequência não agradou tanto. Apesar de muitos pontos bons, o filme se perde por ter enredos lineares, mas pouco desenvolvimento na resolução dos problemas. Ao decorrer da trama, nota-se a perda da personalidade intrínseca proposta para o Homem de Ferro para se tornar um pedaço do quebra cabeça que é o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU na sigla em inglês).
A título de curiosidade, foi nesse filme em que Scarlett Johansson deu vida pela primeira vez a super espiã e agente da S.H.I.E.L.D. Natasha Romanoff, a Viúva Negra. Por grande parte do filme a personagem de Scarlett é usada para causar atritos entre Tony e Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), mas não deixa de mostrar o quão forte ela é como personagem. Pepper também deixa de ser babá de Tony Stark e se torna a CEO das indústrias Stark. Tal acontecimento reincide em conflitos entre os dois durante o filme, uma vez que atarefada, Pepper precisa regredir a persona de babá do Tony, em incontáveis momentos. A relação dos dois não evoluiu romanticamente entre o primeiro filme e este, detalhe que poderia ter sido melhor desenvolvido. Mesmo que durante parte do filme Pepper demonstre não gostar de Natalie (disfarce da Viúva Negra), isso muda de repente como observado por Tony, o velho mecanismo de fazer uma personagem de um ponto A até um ponto B sem se aprofundar ou desenvolver. Para todos os efeitos o culpado é mais uma vez Tony Stark.
Ao longo do filme, o legado ou os pecados dos pais são um tema recorrente. Tony lida com a possibilidade de seu pai não ter sido o homem honesto que ele sempre imaginou que Howard fosse, sem contar a importância da feira para o enredo do filme como um todo. A família Stark e suas ações são o que movem o filme. Howard Stark tem uma influência notável no enredo tanto por sua relação complicada no surgimento do antagonista principal, quanto por providenciar a resposta para um dos problemas enfrentados pelo protagonista.
A rivalidade entre Tony e Justin Hammer (Sam Rockwell) serve seu propósito, que é fazer rir. Em nenhum momento do filme Hammer cumpre um papel sério de antagonista, ele é apenas uma ferramenta de humor a ser usada na narrativa e que dá ao verdadeiro vilão do filme o que ele precisa. As ações do personagem de Rockwell se voltam contra ele, que é basicamente uma versão menos inteligente e bem sucedida de Tony Stark. Enquanto temos o alívio cômico em Justin Hammer, Mickey Rourke dá vida à Ivan Vanko. O seu personagem é um amálgama dos quadrinhos dos personagens conhecidos como Dínamo Escarlate e Chicote Negro.
Mesmo com o trabalho de Rourke sob o personagem, o ator desejava não fazer mais um vilão unidimensional nas telonas, o resultado final ainda foi decepcionante. Em meio a muitos paralelos, as motivações do antagonista principal parecem não ter um peso tão grande quanto em teoria. Ivan só busca destruir tudo que os Stark construíram, sem se preocupar com dano colateral e isso termina sendo um arquétipo bem comum para a maioria de vilões em filmes de ação.
Apesar de falhas, Homem de Ferro 2 é um filme divertido de se assistir. Tanto pelos personagens quanto pelos efeitos e a conjuntura geral. A maior questão do filme é que não coloca o pé na água se não pretende se molhar e é isso que o filme faz com muitos assuntos interessantes. Existem enredos que mereciam ser mais explorados, que poderiam ter muito mais desenvolvimento. As coisas só vão acontecendo (rápido demais diga-se de passagem), deixando de aproveitar melhor enredos com uma extrema importância que poderiam definir o personagem.
O filme não falha em sua proposta, especialmente se tratando da necessidade de moldar um pouco mais o ainda nascente Universo Cinematográfico da Marvel. Vale ressaltar que é nesse filme que é dado vida à um momento recorrente nas HQ’s, em que Stark usa a armadura que ‘sai’ da maleta e a forma com que esse momento foi trazido às telas é original e incrível.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.