“Eu tenho realeza no meu DNA” dispara Kendrick Lamar na faixa “DNA” em seu mais recente álbum “DAMN” indicado a 7 categorias no Grammy incluindo álbum do ano. Recentemente anunciado como produtor da trilha sonora de Pantera Negra (Black Panther, 2018) que é dirigido pelo excelente Ryan Coogler (Creed, Fruitvale Station) e o diretor não poderia ter escolhido melhor ao colocar Kendrick na mais nova produção da Marvel Studios.
Kendrick Lamar, ou K.Dot para os íntimos, é com certeza o rapper mais influente dos últimos anos, nascido e criado em Los Angeles, no bairro do Compton pra ser mais preciso, de onde também vieram os membros do N.W.A (grupo composto por Ice Cube, Eazy-E, DJ Yella e Dr. Dre que já foi produtor do Kendrick), Snoop Dogg, The Game entre outros gigantes do Western Rap, história contada no excelente Straight OuttaCompton – A História do N. W. A. (Straight Outta Compton, 2015), de F. Gary Gray. Kendrick se viu com a responsabilidade de honrar todos esses nomes e o fez com maestria sendo considerado por muitos o melhor rapper que já saiu da cidade – às vezes discute-se sobre ser o melhor da história – fã assumido de Tupac Shakur o qual ele não nega ser sua maior referência e que ele já “entrevistou” na faixa Mortal Man presente no álbum “To Pimp a Butterfly”, a influência de Lamar não se dá apenas pressionando seus concorrentes no ramo musical como em seu explosivo verso na faixa “Control” onde provoca: “essa vai para Jermaine Cole, Big K.R.I.T., Wale , Pusha T, Meek Millz, A$AP Rocky, Drake, Big Sean, Jay Electron’, Tyler, Mac Miller, Eu amo todos vocês, mas quero acabar com todos, ter certeza que seus fãs vão agir como se nunca tivessem ouvido vocês” ela também se estende até as ruas quando nos protestos do movimento #BlackLivesMatter os manifestantes entoavam “Nós vamos ficar bem!” refrão da faixa “Alright” também presente no disco “To Pimp a Butterfly”. Kendrick Lamar é um daqueles raros casos onde o artista alcança sucesso de público e critica sem abandonar suas “raízes”. O próprio Lamar indaga isso em “Mask Off Remix”, ele diz: “Como vocês deixaram um mano consciente se tornar comercial enquanto ainda faz álbuns conscientes?” dado o contexto desse sensacional artista podemos falar então de Pantera Negra e como só pode vir coisa boa dessa mistura.
Pantera Negra é a alcunha de T’Challa, rei do país africano Wakanda, uma nação escondida do mundo exterior e muito evoluída tecnologicamente, detentor da única mina de vibranium existente, o herói possui habilidades sobre humanas, intelecto superior, treinamento em artes marciais, acesso à tecnologias avançadas além da riqueza proveniente das minas de vibranium; é praticamente o Batman que deu certo. Mas, o herói vai muito além disso, Pantera Negra foi criado em 1966 pela dupla Stan Lee & Jack Kirby, foi o primeiro super-herói negro protagonista de histórias em quadrinhos, e apesar do nome não ser inspirado, a identificação com o Partido dos Panteras Negras foi inevitável e desde que apareceu o personagem é símbolo de uma coisa: representatividade. Impactando os leitores negros de quadrinhos, no auge da luta pelos direitos civis, vendo um personagem forte, inteligente e protagonista de sua história.
O filme de Ryan Coogler vem trazendo essa representatividade e, assim como as músicas de K-Dot, isso pode ser observado nas ruas, um bom exemplo é o vídeo dos rapazes negros olhando o pôster do filme e dizendo animados: “É assim que os brancos se sentem o tempo todo? Se eu me sentisse assim o tempo todo eu também ia amar esse país”
Se representatividade é o motor que sempre moveu o Pantera Negra, a influência social e musical de Kendrick Lamar é o nitro desse filme, podemos ver que ele só tem a acrescentar no tom do projeto que vai vir. No verso de “The Blacker the berry” ele diz: “Eu sou afro-americano, sou africano , negro como a lua nova, herança de uma vila pequena, perdoe minha residência, vim da base da humanidade, meu cabelo é crespo, meu nariz é redondo e grande” o poder de Kendrick Lamar sintetiza tudo aquilo que Pantera Negra é desde sua criação: orgulho, exemplo, influência, representatividade, e ambos tem realeza em seu DNA. Vida longa aos reis.
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Hugo dos Santos, o UGU.
Metralhadora de provocações, rimas e de histórias que começam sempre com “eu tenho um amigo…”. “Ugu” divide seu tempo entre jogar basquete e questionar o sistema. Tem um crush nada secreto no Donald Glover. Veio a esse mundo mascar chiclete e desmascarar brancos feios e seu chiclete acabou.
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