Logan Lucky: Roubo em Família – O filme que já vimos, mas queremos ver de novo

Dezesseis anos após dirigir Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001), refilmagem do clássico com Frank Sinatra e Dean Martin de 1960, e dez anos desde que o último filme da franquia de sucesso chegou aos cinemas, Steven Soderbergh volta ao gênero filme de roubo com o divertido Logn Lucky – Roubo em Família (Logan Lucky, 2017).
Após perder o emprego em uma mina de carvão por ser manco Jimmy Logan (Channing Tatum) resolve pedir ajuda ao irmão Clyde (Adam Driver) – um bartender, ex-militar, sem braço… digo, sem metade de um braço – para realizar um roubo de grandes proporções. Para isso os dois decidem procurar o especialista em cofres Joe Bang (Daniel Craig) que se encontra em um presídio. Assim, o filme já começa a produzir a fórmula tradicional do gênero, a criação de uma equipe de personagens extravagantes, cada um tendo um papel fundamental em um plano extremamente mirabolante, seguindo os passos da trupe de Danny Ocean na trilogia “11 homens”. Nada que já não tenhamos visto antes, mas também, nada que não queiramos ver novamente. O trunfo de Logan Lucky e da roteirista Rebecca Blunt (um provável pseudônimo de Jules Asner) é criar um contexto onde seja possível criar situações específicas para sua estória e seus personagens. O contexto no caso é a região sul dos EUA, mais especificamente a Carolina do Norte e a Virgínia Ocidental, e daí advêm todo o resto do que constrói o filme, desde todos os estereótipos dos sulistas rednecks, seu sotaque quase cantado, e suas manias por concursos de beleza infantis e corridas de stock car, e claro, toda a ótima trilha musical do filme segue esta linha de raciocínio, com músicas clássicas do country e do southern rock daquela região, indo desde John Denver à Creedence Clearwater Revival.
O grupo de personagens talvez não funcione em uma sintonia tão boa como na trilogia “11 homens”, mas talvez isto possa servir como uma das tensões do filme, já que, conhecendo a estrutura do gênero, ficamos esperando o momento em que o grupo irá entrar em desavença e colocará todo o plano em risco. Craig e Driver estão excepcionais em seus papéis e foi muito engraçado ver os dois contracenando juntos, enquanto Joe Bang é o típico presidiário brutamontes excêntrico, cheio de tatuagens, cabelo descolorido e olhar penetrante, Clyde Logan encarna o caipira emblemático de poucas palavras e sempre desconfiado. Tatum seja talvez quem esteja mais deslocado em seu papel, com o personagem mais sem graça, nos tocando apenas quando está com sua filha Sadie (a ótima Farrah Mackenzie).
O segundo ato, onde todo o plano de roubo é colocado em ação, é certamente o ponto alto do longa, e é fascinante como vamos sendo surpreendidos por cada passo que vai se concretizando e como algumas pistas e informações que pareciam corriqueiras ou aleatórias na primeira parte aqui se mostra como parte fundamental para o objetivo final. Mas infelizmente a estória perde muito de sua força no terceiro momento. As investigações e as tentativas de encontrarem os responsáveis pelo roubo não despertam tanto interesse, mesmo com a aparição inesperada de Hilary Swank interpretando um dos detetives encarregados do caso.
Logan Lucky – Roubo em Família cumpre muito bem seu papel de divertir, contrapondo o estereótipo caipira com um plano brilhante a ser executado, além de ótimas piadas, algumas delas envolvendo a cultura pop (a piada sobre Game of Thrones na prisão é de doer o estômago de tanto rir), acabou sendo uma agradável surpresa para uma tarde de sábado.