Após ter visitado a vida de grandes nomes da música brasileira em 2 Filhos de Francisco (2005) e Gonzaga – de Pai pra Filho (2012) o diretor Breno da Silveira volta ao sertão pernambucano agora com a adaptação para o cinema do livro A Costureira e o Cangaceiro de Frances de Pontes Peebles na tentativa de criar uma espécie de épico nordestino.
Entre Irmãs conta a saga de Emília (Marjorie Estiano) e Luzia (Nanda Costa), duas irmãs, órfãs de pai e mãe, que vivem em um pequeno lugarejo no meio do sertão pernambucano. As duas são criadas por sua tia costureira Sofia (Cyria Coentro) que tenta educar as sobrinhas da melhor forma possível, mesmo com todas as dificuldades. Com a presença de coronéis e cangaceiros logo percebemos se tratar dos anos 1930, quando o sertão era dominado por estas características personagens que tanto povoaram e ainda povoam o imaginário do país. Tanto que o chamado filme de cangaço, tendo seu auge de produção nos anos 1950 e 60 pode ser considerado um gênero genuinamente brasileiro, sendo até mesmo muitas vezes comparado com o western norte americano.
As duas irmãs, logo nos primeiros minutos do filmes, mostram-se completamente diferentes entre si, mesmo ainda crianças e isso é reforçado em todo o primeiro ato. Enquanto Emília é mais sonhadora e romântica Luzia é mais arisca e pé no chão, mas ambas são claramente espíritos ávidos por liberdade, o que é possível notar facilmente em seus modos – enquanto a primeira busca através de revistas conhecer as modas da cidade grande, a outra silenciosamente solta das gaiolas os passarinhos do coronel. O destino das duas se separa quando o bando de cangaceiros liderados pelo impiedoso Carcará (Júlio Machado) chega à pequena cidade e ao se retirarem levam consigo Luzia. Pouco tempo depois a tia Sofia, já debilitada após o trauma de ter a sobrinha sequestrada, sucumbe deixando Emília sozinha. Então, a moça encontra o sonhado amor em um amigo do filho do coronel, o educado Degas (Rômulo Estrela) que logo a pede em casamento levando-a para viver na casa de sua família na capital, Recife.
Após isto o filme passa a funcionar como uma longa montagem paralela alternando entre a vida das duas irmãs e as várias dificuldades que ambas enfrentam nos ambientes hostis em que passam a viver. E é quando o filme quase se perde completamente, investindo em subtramas que fazem o espectador perder a empolgação pelo esperado encontro entre as duas, mesmo que cada uma em si mesmas despertem um certo interesse individualmente. Luzia naturalmente se envolve com Carcará, entrando em conflito com o resto do bando. É impossível não fazer um paralelo com as clássicas histórias de Lampião e Maria Bonita ou Corisco e Dadá. Aqui é necessário ressaltar a forma romanceada com que o filme representa o cangaço. O bando de Carcará funciona como uma espécie de Robin Hood do sertão, roubando dos coronéis para ajudar os flagelados da seca, enquanto as autoridades policiais são representadas como vilãs, uma visão que é característica das produções mais recentes sobre o tema e que pode ser observada de forma inversa nos primeiros filmes do gênero, com algumas poucas variações. Enquanto isso Emília sofre com a pressão de viver no lar de uma nobre família abastada do Recife, tendo que se dobrar aos gostos dos sogros além de ter um casamento muito aquém do que ela esperava.
Assim, temos um segundo ato desnecessariamente extenso e quando o esperado encontro acontece parece que ele não tem a força que estávamos esperando. Entre Irmãs parece muito mais ter sido feito para se tornar uma minissérie da Globo (o que muito provavelmente deve acontecer, visto o histórico deste tipo de produção) do que qualquer outra coisa. Não chega a ser enfadonho muito mais porque esperamos que as consequências tão óbvias das ações das personagens não aconteçam, mas sempre nos decepcionamos pois elas acontecem exatamente da forma esperada.
A fotografia de Leo Resende Ferreira é imensamente beneficiada pela beleza do sertão pernambucano, mas vê bastante dificuldade nas cenas de ação envolvendo o conflito de cangaceiros e volantes. A trilha musical confirma ainda mais a tendência televisiva do filme, especialmente no uso exagerado de violino nas sequências mais dramáticas. O elenco poderia ter sido melhor escalado, e mesmo considerando Nanda Costa e Marjorie Estiano ótimas atrizes foi difícil não pensar em nomes de atrizes nordestinas que encarnariam os papéis com muito mais propriedade.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.