Darren Aronofsky ocupa o topo da minha lista de diretores favoritos e não é uma lista de poucos nomes, diga-se de passagem. Muitas vezes admiro aspectos de direção, ou nem isso, apenas atributos da personalidade da figura, como a coragem ou o modo como a pessoa trabalha com cinema, mas Aronofsky é um dos únicos que realmente me enche os olhos e me influencia diretamente, não muito na minha própria maneira de dirigir ou escrever roteiros e sim no modo como eu lido com a vida. Ele é o autor de um dos filmes que mais mexeu e ainda mexe comigo, o bastante criticado e intimista A Fonte da Vida (The Fountain, 2006).
E agora com Mãe! (Mother!, 2017) ele consegue de novo. Acho importante deixar o meu favoritismo bem claro porque é uma das poucas coisas que vão poder ficar claras nesse texto, que se propõe passar sua mensagem sem entregar absolutamente nada da trama. Eu realmente quero que vocês tenham certeza de quais foram as minhas sensações ao assistir, mas que, ao mesmo tempo, consigam assistir da mesma forma que eu fui ver, não vou comentar nem sobre o que eu não gostei porque não quero que você tenha isso em mente ao assistir, na verdade quanto menos coisas em mente sobre o filme, melhor. Como de costume não procurei muitas informações além do trailer e de algumas manchetes de notícias que começaram a sair depois da exibição do filme em festivais, e isso foi essencial para que eu pudesse me sentir completamente inserida no universo do longa. Recomendo fortemente que você tente fazer isso também.
Dito isso, se você conhece o trabalho de Aronofsky já está minimamente familiarizado com as posições estéticas e temáticas do mesmo então Mother! não será exatamente uma surpresa, há um aprofundamento ou uma intensificação com intenção de marcar uma mensagem (ou várias) e ao mesmo tempo um certo passeio por assuntos que já foram visitados antes em seus filmes anteriores. Mas, se você não for uma pessoa que tenha essa bagagem – e não é necessário que tenha nem há nada de errado em não ser – também é possível absorver o que o filme quer passar e talvez seja mais interessante ver o que você achou do que a pessoa que já está mais “preparada” para isso. Então, não é um daqueles filmes que só fazem sentido quando você entende a obra do diretor ou da diretora como um todo e isso é muito positivo.
Agora, se você por acaso for achando que é um filme de terror, como já vi algumas pessoas especulando, muito por culpa do marketing internacional do filme, com certeza vai se decepcionar. Não que não tenha seus momentos de horror ou suspense, mas passa longe de poder ser considerado um filme do gênero. Mãe! também não é um filme muito complicado ou escandaloso como podem estar pintando por aí, é sim um filme de camadas e que aborda temas que podem ser espinhosos para algumas pessoas, e sua recepção polarizada comprova isso, é preciso entender alguma coisa do filme para que se tenha um debate decente, afinal de contas.
Mas, qual a história? Sobre o que fala, que temas debate, que discussões levanta? Me limito a dizer a sinopse de maneira mais genérica possível: a relação de um casal é testada quando visitantes começam a conturbar sua rotina. Além disso, posso afirmar que as escolhas de câmera e narrativa do diretor em questão funcionam muito bem nesse filme e costumam exigir muito da atuação, principalmente de seus protagonistas e que aqui todas estão impecáveis, o resto realmente é você que tem que me dizer, o que você entender ou sentir, realmente é algo que ninguém pode dizer ou interpretar por você. Do primeiro ao terceiro ato, você precisa assistir esse filme.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.