IT – A coisa está de volta!

Eu não sou muito fã do gênero terror/horror e por isso nunca tinha assistido à minissérie/telefilme It – Uma Obra Prima do Medo (It, 1990). É importante deixar isso claro logo de cara. Talvez seja uma informação determinante para que essa resenha seja levada em conta ou não. Apesar de não ser muito fã, costumo enfrentar meus medos e conferir nos cinemas quando os filmes se destacam na divulgação e não costumo me desapontar. Foi assim com Invocaçãodo Mal (The Conjuring, 2013), o incrível A Bruxa (The Witch, 2015) e agora com It – A Coisa (It, 2017) e minha expectativa estava tão alta que paguei essa dívida moral e assisti à adaptação anterior antes de assistir ao novo.
 


O filme conta a história de um grupo de amigos desajustados que acabam se unindo durante o verão para investigar o sumiço das crianças da cidade e tudo parece ter relação com uma entidade maligna que assume a forma de um sádico palhaço.
 
Sua maior força é com certeza o entrosamento do seu elenco e a construção desses personagens. O grupo dos perdedores é incrível e juntos funcionam muito bem, o destaque fica com o excelente Finn Wolfhard, aqui o astro de Stranger Things rouba a cena entregando um personagem que é a antítese do Mike da série, Richie é um alívio cômico que funciona e outro ponto positivo de seu personagem é que suas piadas falocêntricas, típicas de um garoto da sua idade, não são premiadas pelos outros personagens, colocando-o no papel do “sem noção” da turma e não em alguém que deva servir de exemplo. Além dele, Jack Dylan Grazer também surpreende com a sua atuação vivendo o hipocondríaco Eddie. Jeremy Ray Taylor e Sophia Lillis, respectivamente Ben e Bervely Marsh, também estão ótimos em seus papéis. O carisma do garotinho nos cativa de imediato e ele acaba entregando muito mais química com Sophia ao contracenar com ela. Sophia, por sua vez, é forte, esperta e destemida e apesar de parecer muito mais velha que a maioria dos meninos, consegue se integrar muito bem ao grupo. Jaeden Lieberher, Wyatt Oleff e Chosen Jacobs não são ruins, mas acabam se perdendo um pouco diante da presença dos outros. 
 
Toda a dinâmica do grupo se divertindo e se unindo contra o monstro torna o filme muito mais leve do que poderia se esperar de um filme de terror, acaba assumindo um tom um pouco aventuresco e muito gostoso de se assistir, o novo It vem num bom momento porque acaba se alimentando um pouco do sucesso de Stranger Things (que por sua vez só fez sucesso graças às obras como It de 1990), é um ciclo que se fecha com louvor.

 
O Pennywise de Bill Skarsgård não desaponta, ele não tenta copiar a versão anterior (e excelente) de Tim Curry, mas encarna um palhaço igualmente icônico, cruel e manipulador. O CGI atrapalha um pouco, se excede em alguns pontos. Mas, no geral o trabalho de corpo e voz, figurino, maquiagem, arte e CGI entregam um vilão à altura do antecessor. Além disso, o longa consegue transitar entre tons muito bem, é leve, mas tenso, é violento e forte, mas ao mesmo tempo consegue ter um ar de nostalgia agradável. Prende sua atenção do início ao fim, inclusive me fez esquecer do lanche que eu havia levado para a sala do cinema e tenho quase certeza que é a primeira vez que isso me acontece.
 


Apesar do saldo ter sido positivo para mim, algumas coisas continuaram me incomodando. O personagem Ben roubou aspectos do personagem Mike, prejudicando assim a entrada do mesmo no grupo, ele é o que aparenta estar mais deslocado, sua participação no fim das contas não parece a mesma que a das outras crianças.
 
A escolhas de direção do argentino Andy Muschietti (Mama, 2008) também me tiraram um pouco do filme. Ao optar por mostrar demais, muito da imaginação, principal combustível do medo, se perde. Especialmente se você está se utilizando de recursos digitais, fica muito óbvio que o que estamos vendo não está ali de verdade e a precipitação que é sentida antes de algo realmente acontecer, aquele suspense que dá vontade de fechar os olhos e esperar passar o momento de susto, acaba não acontecendo. Isso também acontece porque em certo momento a estrutura do filme se torna clara e repetitiva e o elemento surpresa acaba perdendo a potência no decorrer da história. 
 
Mas, para mim, o principal problema do filme está em Beverly Marsh. E me inquieta que pouca gente esteja comentando sobre isso, porque passa a sensação de que é algo natural ou que realmente tenha passado despercebido pela maioria, mas não consegui ignorar os enquadramentos e posicionamentos de câmera que adultizaram e sexualizaram a atriz de 15 anos. Mesmo que possa ser dito que o filme é visto pelo olhar dos meninos (que filme não é, né verdade? Tudo é pelo e para o olhar deles…), mesmo que outras justificativas possam ser pensadas para certas cenas, acho falta de responsabilidade não se atentar para isso e principalmente, não questionar esse tipo de coisa. Justamente pelo conflito da personagem ter a ver com esse medo da puberdade e descobrimento como mulher, que o filme poderia ter tomado um pouco mais de cuidado quando se tratasse de filmá-la. Simplesmente foi um incômodo que não consegui superar apesar de ter amado a personagem.
 

Entretanto, os incômodos foram pontuais para mim e no geral IT – A Coisa agrada bastante. É estranho sair satisfeita e ao mesmo tempo querendo mais de uma sessão de terror, em alguns momentos me peguei pensando que seria muito melhor se fosse uma série, porque eu simplesmente queria que tivesse durado mais. Quem sabe no futuro, não é? Aproveitar essa tendência de transformar filmes em séries…. Talvez rolasse até um crossover ajudando um outro grupo de desajustados enfrentando problemas com o mundo ao contrário. De todo modo, é um filme digno do nome de Stephen King. Não é à toa que ele tenha gostado tanto.