King Cobra é, sem dúvida, a maior prova de que nem mesmo uma boa direção muito bem intencionada salva um roteiro mal desenvolvido.
Resgatando a polêmica história do assassinato do produtor da Cobra Video, uma das produtoras mais rentáveis do pornô gay no início dos anos 2000, o filme acaba sendo mais raso e inconsistente do que qualquer outra coisa. Sean, ou melhor, Brent Corrigan, um jovem que, descoberto por um produtor de pornô gay, muda-se para a casa dele e torna-se a grande promessa da indústria. A fama tanto sobe à sua cabeça, quanto chama a atenção de produtores rivais, que querem produzir com o garoto. Em uma relação de amor e ódio com seu produtor, uma série de eventos acabam se desenvolvendo, levando ao assassinato no fim da história.
Uma história que tem diversas camadas e possibilidades, com uma premissa interessantíssima e pouco abordada no cinema hollywoodiano (o universo pornográfico gay e seus escândalos), acaba por se tornar engessada em contar essa história, e menos em desenvolve-la como um filme. E é perceptível que o problema está em desenvolvimento de roteiro, tendo em vista a velocidade e superficialidade com que tudo é abordado e pelos diálogos fraquíssimos de ocorrem durante o filme. Em nenhum momento nós vemos o filme se aprofundar nas questões dos próprios personagens, apesar de ser claramente desenvolvido em cima de seus desejos superficiais, e nem se aproveita de pontos-chave do escândalo, como a acusação de pornografia infantil que surge no meio do filme, mas em dois segundos é esquecida.
A realização é cheia de boas intenções, com momentos belíssimos e planos muito interessantes, que por muitas vezes davam a entender que havia uma pretensão de dar uma densidade maior à narrativa, mas nunca se sustenta, porque é tudo muito rápido, e os diálogos bastante telegrafados não dão margem para que isso aconteça. A inserção dos “vídeos pornôs” em meio ao filme, com qualidade menor de imagem, talvez tenha sido a melhor escolha de direção. Mesmo com atuações bastante memoráveis, como as de James Franco e de Keegan Allen, que fazem os papeis de Jon e Harlow, o casal que forma a produtora “rival” (se é que é possível falar que são rivais mesmo), que dão o maior ar cômico e violento ao filme — e, sendo bem honesto, são a melhor parte do filme —, o filme acaba se enfraquecendo ao não perceber seus pontos fortes e otimiza-los. Nem mesmo o resto do elenco de estrelas (Christian Slater, Alicia Silverstone e Molly Ringwald) conseguem com que o filme seja algo acima de mediano.
No fim, acaba sendo mais um filme de escândalo baseado em fatos reais fraco, que se confia muito mais na polêmica que a própria história contém do que realizar uma boa obra cinematográfica para além de uma simulação feita para a televisão, já que é tão superficial quanto os documentários criminais do Investigação Discovery. King Cobra é instigante, um bom entretenimento, mas nada além disso.
Graduado em Cinema geminiano com ascendente em escorpião. Conhece muito de tudo, faz de tudo um pouco. Fã de carteirinha de Xavier Dolan, John Green e Steven Universe. Leitor inveterado, Ilustrador, escritor e atrasado para tudo.