O clichê da chegada de uma garota do interior em um grande centro urbano, nesse caso Los Angeles, para tentar alavancar a carreira de modelo, já foi utilizado por diversos filmes de Hollywood ao longo dos anos. O desafio do novo filme de Nicolas Winding Refn, diretor do ótimo Drive (2011) e de Só Deus Perdoa (Only God Forgives 2013), é contar essa mesma história de forma original e cativante.
O filme é iluminado de uma maneira muito bonita, todas as cenas são envolventes nesse sentido, as luzes de neon realmente chamam a atenção. Outra coisa que é perceptiva é o gosto do diretor por filmar cenas em corredores, são cenas muito bem executadas e que você se pega pensando, que plano ou cena bonita. Além disso, o uso do recurso de filmar uma pessoa através do reflexo no espelho é usado constantemente no filme, o que dá uma sensação dúbia, se o que estamos vendo é realmente a ação da personagem ou apenas um reflexo de sua personalidade.
O filme tem um enorme problema de ritmo, talvez tenha ficado maior do que realmente seria necessário. Podemos pensar ele em dois momentos, o primeiro, no qual a personagem se envolve no mundo da moda e em como ele pode ser cruel para aquelas que não se encaixam no padrão das grandes agências de moda, e a segunda parte em um thriller muito interessante de vingança e assassinato. Essa última parte é a que mais empolga do filme.
As atuações também são um espetáculo à parte, o filme não se preocupa em construir personagens moralmente memoráveis, pelo contrário, faz questão de mostrar como alguns podem ser bem escrotos, não há um julgamento do diretor aqui, as personagens são realmente como são, temos menção a pedofilia, a necrofilia e ao canibalismo, o filme em si é muito escatológico. O elenco parece bem em seus papéis, as atuações de alguns são bem sólidas e instigam o público a saber o que acontece no final.
Demônio de Neon seguramente não é o melhor filme do diretor, Drive, por exemplo, é um filme muito mais redondo e completo nesse sentido, mas sem dúvida faz jus a sua cinematografia. É um filme envolvente, com bons personagens e com uma cena de vingança muito boa, mas poderia ter, pelo menos, uns 20 minutos a menos.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.